Querer algo que não é meu
Pode ser egoísmo, mas não te
Ter faz-me sofrer.No meu leito com teu
Pensamento me deleito,
Como se estivesses comigo
Apesar de longe parares.Não saberás meu nome,
Nem meu rosto memorizar.
Eu a árvore queda
E tu a graciosa corça a passar.Inquieto mas imóvel,
Do mesmo sítio a fitar,
O teu leve
Porém decidido caminhar.A alvura de tua pele,
A negrura de teu cabelo.
Labios apertados como se
Nunca deixassem de sorrir.
Olhos afincados, por muito terão passado,
Mas não com menos amor as coisas vê.Com o olhar sigo teu gentil passo,
Mas sempre a algo temer.
Embrutado, torto e desamparado,
Alto, tosco e desajeitado,
Comtemplo tua presença
Com o secreto desejar
De a mim com o teu vulto
Me pudesses gracejar.Tal como a corça,
Tu passas sem olhar.
E como árvore eu fico
Elegante vai-se,
Grossos mantém-se.Sonho-te inantigível,
Porém meu e de mais ninguém.
Ilusão triste criada
Por quem já foi deixado.Invento futuros nossos,
Onde ririamos ou abraçavamos
Mas neste presente onde vivo
Raramente movo os pés.Ao longe te vejo,
Para nunca mais ver,
A brisa que passou,
A água que correu,
A pedra que rolou,
O fogo que ardeu.
Dissipou-se, estagnou,
Quebrou e morreu.Na floresta fico então,
Por entre javalis e raposas.
Conto às raízes e anéis
O que me pareceu ser real,
Só separado por eu ser tão igual.