A decisão

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Era a quinta vez. A quinta, maldita vez em que Joanna ficava enjoada pelo sacolejo do navio. Sempre ficava mal depois de beber, sua decisão de parar durou apenas uma semana, sentia-se fraca por seguir os caminhos do pai. Mas dessa vez estava decidida, não beberia mais nada.

Kito permanecia forte, amarrado próximo ao leme do navio, gritava constantemente pedindo que o trouxessem a bordo, mas ele ainda não havia aprendido a lição. Uma batida na porta fez com que Joanna batesse a testa no vidro da vigia. Ordenou que entrasse depois de soltar um gemido de dor.

- Capitã - chamou um tripulante de cabelos cinzentos e uma barba que batia em seu peito. - Ouvi comentários de que estamos sem rota. Fui informado do paradeiro da Rainha Pirata, Elizabeth Swann.

- E onde, exatamente, ouviu esse boato? Entre os seios de alguma prostituta de Tortuga?

- Não, senhora - defendeu-se o marujo apertando o chapéu entre os dedos. Um pouco constrangido, pensou Joanna. - Um grupo de mercadores comentavam em um canto do bar. Ao que me parece, Elizabeth largou a pirataria.

- E qual seria o destino dela, marujo?

- Dizem que seu navio foi visto navegando para Port Royal, sua cidade natal.

Joanna nada respondeu, dispensou o homem com um sinal de mãos e se pôs a andar de um lado a outro de sua cabine, procurando uma luz para o que deveria fazer e tentando pensar como seu pai. Thiago invade a cabine apressadamente e a encara, procurando alguma resposta.

- Então já está sabendo?! - Diz ela passando a mão pelo rosto. - Port Royal é a cidade que mais persegue os piratas. Sua mãe não durará muito tempo por lá, pelo menos, não sozinha.

- Eu sei disso - diz ele apoiando a mão nos olhos, como uma barreira para que nenhuma lágrima escape. - Precisamos ir até ela, devemos proteger a rainha pirata.

- Só pode estar de brincadeira, acha mesmo que sua mãe, Elizabeth Swann Turner, precisa de alguma proteção? Fala sério. - Debochou Joanna. - Está certo que sozinha ela terá alguns problemas, mas não acho que será tão descuidada ao ponto de permitir que a prendam.

- Não nos custa nada, seria bom para Sila - diz ele pensativo, quase que implorando por seu consentimento.

- Se ela quer se aposentar da pirataria, deveria pelo menos ter escolhido seu sucessor, se não quer que haja outra grande discussão sobre esse assunto - rebate Joanna se aproximando de Thiago. - Sabe-se lá o que fizeram com ela, o ideal seria ela estar com seu pai.

- Esse é o único desejo dela, mas os filhos a prendem a terra firme.

- Mas os filhos vivem no mar e para o mar - diz ela passando as mãos pelas madeixas loiras de Thiago.

- Ela conhece Sila para saber que não viveria sem a mãe.

- Sila precisa decidir o que quer, não poderá ficar pulando de um navio para a terra firme e vice e versa o tempo todo, uma hora alguém se cansará disso, e espero que esse alguém não seja eu.

- É por ela que minha mãe não se junta eternamente a meu pai - reflete Thiago com um olhar distante e tristonho. - Sila era tão forte, independente, decidida. Não entendo como ela pode ter ficado dessa maneira só por ter visto minha mãe transformada em ouro. Você passou pelo mesmo e se manteve estável, ficou até mais forte depois disso.

- Cada um lida com a dor de uma maneira, amor. Não podemos força-la a ser como nós. Talvez Sila não tenha sido feita para o mar, mesmo sendo filha de dois grandes e temidos piratas.

- Acho que tem razão. Infelizmente.

- Também acho - diz Joanna passando dois dedos pelo nariz de Thiago. - Vamos encontrar sua mãe e forçar Sila a decidir o que quer para seu futuro.

                                                                               [...]

- Qual é?! - Grita Kita para o alto. - Já estou aqui a dois dias, me tire daqui!

- Acho que ele já aprendeu a lição, capitã - diz Ulion, um pirata de olhos e cabelos negros como a noite e uma cicatriz, ganha em uma batalha contra seu próprio irmão, atravessada desde o meio de sua bochecha até a ponta de seu dedo médio. Contou a uma penca de marujos curiosos que seu irmão atravessou sua espada covardemente, quando a luta já tinha sido dada por encerrada. - Me permite puxa-lo?

Joanna resmunga um sim enquanto observa a cicatriz, que da a Ulion um ar misterioso e perigoso. A corda é puxada sem muito esforço e logo Kita se encontra no convés, amarrado ao mastro central, tossindo e pingando sem parar. - Espero que tenha aprendido a não mexer com a tripulação do Pérola, não é?

- Peço perdão, capitã Joanna Sparrow - diz Kita tossindo e cuspindo água aos pés de Ulion, que o encara soltando fogo pelos olhos. - Lhe imploro que me aceite como marujo fiel do Pérola Negra e da senhora.

- Feito - diz Joanna sobre os protestos de Ulion e Thiago, os dois cerram os punhos e se seguram para não acertarem a cara do maldito pirata metido a esperto. - Pode começar limpando o convés junto com os outros marujos. Ulion será responsável por você, eu ficaria esperto, se fosse você.

Joanna volta quase desfilando para a roda do leme e escuta a forte respiração de Ulion, Kita se contorce de medo depois de ser ameaçado caso não ande logo. Será uma viagem bem divertida, pensa Joanna exibindo um largo sorriso.



Eis mais um capítulo, meus piratas preferidos.

Espero que gostem

Então, ao encontro de Elizabeth Swann. Muitas surpresas nos aguardam...

Beijos de Rum

NatáliaB.

Joanna Sparrow - livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora