XIV. Pluviophile

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EMORI

- Você parece feliz – constatei animada por minha melhor amiga estar tão sorridente.

Octavia, apesar de ser um pouco menos ranzinza que Lexa, ainda era bem carrancuda, então a mudança de espírito era bem-vinda, precisávamos de mais dias felizes e menos drama.

Ela me sorriu num ar cofabulador e eu simplesmente soube que ela estava aprontando alguma coisa. Era a primeira vez que eu tinha uma amizade tão real a esse ponto... Eu podia ler sua mente e não era sequer uma alucinação.

- Eu estou feliz – admitiu, arrancando as ervas daninha num único impulso. – Mas eu não posso dizer o motivo – completou rapidamente quando notou minha cara de pura expectativa.

Tentei esconder meu desapontamento, mas esconder o que eu sinto não é exatamente uma qualidade que possuo, então ela notou.

- Não, Emori – jogou os equipamentos de jardinagem para o lado e se aproximou de onde eu estava. – Eu confio em você – falou, mas eu não pude afastar a sensação de que aquilo não fosse completamente honesto – Mas esse segredo não é apenas meu, e, se eu te contasse, magoaria outra pessoa que, assim como você, é muito importante para mim – explicou pausadamente, já que algumas vezes as pessoas agiam como se eu fosse mentalmente incapaz, o que não era inteiramente verdade.

Eu tinha o Q.I de uma pessoa normal, eu não compreendia muito bem ironias, mas isso talvez se devesse a minha falta de contato humano enquanto crescia.

Forcei um meio-sorriso e apenas concordei fracamente, tentando ser compreensiva. – Está tudo bem – menti, não estava nada bem, mas Octavia parecia tão feliz... Eu nunca a tiraria aquela sensação, ela era muito importante para mim. – Vou para minha consulta com a Dra. Woods – completei e saí antes que a morena de olhos cristalinos pudesse continuar.

Minha consulta era dali a vinte minutos, mas Anya nunca pareceu se importar quando eu chegava adiantada e hoje eu realmente precisava dela como justificativa para fugir daquele confronto.

Passei por Clarke, que parecia chateada com algo, mas não vi nenhum sinal de Lexa, aquilo, a princípio, me pareceu estranho, mas, por algum motivo, eu decidi ignorar a sensação de que algo não estava certo... Era difícil algumas vezes discernir uma situação suspeita das teorias conspiratórias que meu cérebro criava.

Acenei na direção da loura que retribuiu o gesto com um manear fraco da cabeça e me dirigi até o bloco onde os escritórios ficavam. O lugar era basicamente um gigantesco quadrado de concreto que se interligava ao restante do reformatório por um único corredor que só podia ser acessado por uma chave, já se tentássemos acessá-lo pelo pátio geralmente tínhamos que passar por um dos guardas que ficava na guarita, comumente esse guarda seria Pike, já que além dos escritórios da Dra. Woods, havia o do Cage, o do chefe da segurança e bem ao final o consultório da Dra. Griffin, mas hoje não havia absolutamente ninguém vigiando o perímetro, novamente o sentimento de que algo não estava certo se apoderou das minhas células, novamente o ignorei, me convencendo de que aquilo era mais uma alucinação que eu havia criado.

Em breve eu desejaria que tudo não passasse de um grande delírio.

**

LUNA

- Oi, Luna.

A voz dissimulada de Niylah fazia qualquer ser humano querer se matar, comigo não era diferente.

Abaixei o livro de Karl Marx e me forcei a encará-la, meu semblante deixando bem claro toda minha infelicidade em vê-la, afinal, eu tinha que aturá-la, não fingir júbilo com a sua presença.

Behind BarsOnde histórias criam vida. Descubra agora