Capítulo 41

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___ como você sabia?
Perguntei para Miguel que caminhava mais a frente do que os outros.

___ sabia o que?
Ele perguntou me olhando.

___ sobre a mulher.

___ essa é um tipo de história que contam quando somos crianças. Só juntei as peças e fez sentido.

___ gente, vocês estão escutando isso?
Perguntou Michael olhando para todos os lados.

___ não.
Respondemos todos juntos.

___ deve ser coisa da sua cabeça, lembra que esse lugar vai nos testar.
Respondeu Jhenny.

A nossa frente um vale de girassóis se estendia. Era o tipo de lugar que eu ficaria pro resto da vida, dava calma apenas de respirar o aroma que essas flores exalavam.
Eu sabia que não devia ceder, mas esse cheiro me levava até onde nunca ninguém poderia me levar, para perto dos meus pais. Era como se depois da morte a alma deles pudessem ficar livres aqui.

___ Ellen? Esta tudo bem?
Perguntou Jhenny me olhando séria, pelo fato deu ter fechado os olhos e inspirado mais outra vez o cheiro das flores.

___ sim.
Respondi percebendo que todos me olhavam.

___ como vamos achar algo aqui neste lugar? É enorme.
Falou Caleb parando abruptamente, o que quase me fez chocar contra Miguel.

___ talvez se formos para lá.
Falei apontando para as três montanhas que agora aparecia em nossa frente envolto por névoa. Era idêntico a visão.

___ ela tem razão.
Respondeu Jhenny.

___ é melhor andarmos mais rápido, se aquela mulher estiver certa, um bom tempo já se passou e nem percebemos.
Disse Michael.

De acordo com que nos aproximávamos mais das montanhas, podíamos sentir o poder que a rodeava. Era tão forte a pressão, que ficava difícil de respirar, o ar parecia mudar de densidade.

As gramas estavam cheias de orvalho, molhando os meus tênis como a parte mais baixa da calça.
As montanhas pareciam não pertencer a esse lugar, pois era a parte mais obscura que havia aqui. Meu corpo todo arrepiava só de imaginar que entraríamos lá.
Quando chegamos na entrada, eu olhei para cima admirando a altura das montanhas, era tão fantástico como a natureza se portava, conseguir fazer coisas que os humanos nem imaginavam existir.

___ Ellen?
Me chamou Miguel.

___ o que?
Respondi ainda atônita com a pressão do ar.

___ olha aquilo.
Ele apontava para uma árvore a nossa frente.

___ o que que tem?
Perguntei olhando estranhamente para ele.

___ a árvore se mexeu.

___ o que?
Perguntei querendo escutar de novo o que ele tinha falado. Porque era bem engraçado uma pessoa virar pra você e dizer que a árvore se mexeu. Se eu tivesse escutado isso a alguns meses atrás talvez eu tivesse rido da cara dele e mandado ele parar de tomar chá de cogumelos.

___ nada. Deixa pra lá.
Ele respondeu com a cara ainda um pouco assustada.

___ Ta bom.
Dei de ombros.

"Ellen, Ellen ajude-nos filha!"
Escutei as vozes de meus pais ecoarem por toda a mata.

" filha, não nos deixe morrer." 

___ mãe! Pai! Cadê vocês?
Sai correndo na frente de todos, eu não me importava com nada, no momento eu só me importava em   ajudar meus pais, agora sendo uma criatura e com meus poderes, eu poderia ajudá-los coisa que eu não fiz naquele tempo.

Antes de desaparecer na mata a única coisa que escutei foi Miguel gritando o meu nome, pedindo para mim parar.

Quanto mais eu corria, mas as vozes dos meus pais ficavam para trás. Eu não podia parar, não dessa vez. Não ia deixar ninguém os machucar, não de novo . Tudo o que estivesse ao meu alcance eu iria fazer. Tudo.

____ NÃO! NÃO!
Eu olhava de um lado para o outro sem saber para onde ir, agora eu só conseguia escutar a minha respiração ofegante, meus olhos já estavam embaçados e lágrimas   rolavam  em minhas bochechas.
Insistentemente corri mais um pouco até tropeçar em um galho e cair no chão.

Minha cabeça latejava e eu escutava grunhidos e gritos.
Simultaneamente coloquei as mãos em minha cabeça no intuito das vozes se calarem.

Quando finalmente as vozes se calaram, me levantei desajeitadamente ignorando a dor na minha cabeça. Ainda mancando e mesmo sozinha continuei com a missão.
Enquanto caminhava eu tentava sentir a presença dos outros e
chamá-los, mas tudo era em vão. Esse lugar nos proibia de  transformar e de até mesmo usar os instintos e os sentidos que o lobo tem.

S.G.O

A Filha da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora