39º Capítulo - No air

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Quando chegas, finalmente, ao secundário, achas que tudo vai ser perfeito. Que vão ser os melhores três anos da tua vida.

Todos nós achamos que vamos ter imensos amigos. E quem não for teu amigo, vai pelo menos saber quem és ou vai querer ser como tu.

Achamos que vamos ter um namorado que nos vai amar incondicionalmente. Que faria tudo por nós, que nos dá o seu coração sem nunca pedir nada em troca.

Que vamos sair todas as noites e em todas as noites vamos ter uma história épica para contar a todas as pessoas que conhecemos.

Aparentemente, esta altura da tua vida, tem tudo para ser perfeita.

Mas não é. É apenas uma grande treta. Montes de treta.

E custa muito a sair deste encantamento. Custa a abrir os olhos e veres a dura realidade, quando o escuro é tão mais acolhedor e reconfortante.

Tudo o que acabei de mencionar são apenas mentiras, sonhos que toda a gente espera concretizar, mas são pouco os que conseguem. Os tais "populares" conseguem. É dessas pessoas que todos temos inveja. Podes pensar que não, mas é verdade. Podes pensar "eu estou melhor aqui sozinha do que a rir com aqueles idiotas. ". É mentira. Tu preferias estar a rir. Quem não preferia? E talvez ao admitir isto, seja um grande passo para abrires os olhos e veres o mundo colorido.

Todos os amigos que achas que vais ter na escola, metade deles são apenas colegas. Todos fingimos que somos todos muito amigos, mas no fundo, bem lá no fundo, odiámo-nos porque queríamos ser aquela pessoa que tem aquele cabelo sedoso, que tem aqueles olhos azuis, que tem boas notas. E os teus melhores amigos vão ser aqueles que moram no outro lado do globo, o que é estranho, uma vez que eles fazem-te sentir muito melhor do que as pessoas que estão à tua volta. Talvez eu seja uma sortuda por ter pelo menos duas amigas verdadeiras e que estão perto de mim. Talvez também seja uma exceção e não queira ser como todos os outros e queira ser diferente. Mas ser diferente, não é, necessariamente, bom.

O teu namorado imaginário, aquele que tu imaginas quando tens seis anos e estás a sonhar acordada, não existe. Não vais encontrar aquele rapaz perfeito. E se o encontrares e fores como eu, vais-te sabotar a ti própria e clicar no teu botão de autodestruição. Se calhar quando tinha seis anos, devia ter pensado mais tempo a sonhar acordada sobre coisas mais importantes.

Não vais receber os convites para sair todas as noites. E quando saíres de casa, vais preferir estar no teu porto seguro. E quando estiveres em casa, vais preferir estar a conhecer o mundo lá fora. Talvez não, a mim, apetece-me sempre estar em casa, onde ninguém me manda facas diretamente para o meu coração sem muitas vezes sequer fazer pontaria. Sinto-me confortável e o mundo lá fora não me atinge, estou no meu cantinho sossegada, sem ninguém me incomodar. Mas a realidade volta sempre para me assombrar, de qualquer das maneiras.

É difícil, aliás, difícil é um eufemismo. É MUITO difícil. É difícil perceberes quem são os teus supostos amigos, é difícil perceberes se estás integrada neste confuso mundo, é difícil perceberes quem és! Como é que podemos nós ser capazes de descobrirmos quem somos, se há sempre alguém, e podem crer que há, que nos está constantemente a mandar abaixo? Serei a única a sentir-me assim?

Entristece-mo com os meus pensamentos (como vos digo, cliquei mais vez no botão de autodestruição), mas ao mesmo tempo consegui fugir da realidade à minha volta. Nem sequer me apercebo que estão a tentar chamar-me, até que ouço o meu nome a ser gritado pela professora de inglês. "Hum?" pergunto ainda desnorteada.

"Daisy, ainda não percebeu? " a professora de inglês exclama um pouco zangada. " Para o palco. "

Levanto-me do local mais escuro do auditório, onde me encontrava sentada e a tentar passar despercebida. Mas como é que eu ia passar despercebida neste ensaio, quando eu sou uma das personagens principais?

3 YOUS & IOnde histórias criam vida. Descubra agora