Bem, galera, este é o primeiro capítulo de meu novo projeto, um projeto que nasce de forma bastante experimental, com múltiplos caminhos possíveis ainda. Manda o seu feedback, preciso saber se estou trilhando um bom caminho! Estrela e comentários são sempre inspiradores! Meu muito obrigado aos que acompanham ;)
Eu não sei dizer onde minha vida começa. Se no meu nascimento (ou concepção), ou se naquele dia fatídico em que entramos numa lanchonete, durante uma viagem, para descansar, comer alguma coisa, e relaxar de mais uma discussão ríspida.
Eu tinha 28 anos. Teoricamente, tínhamos viajado para comemorar nove anos de casados. Passamos dois dias em Foz do Iguaçu. Dois dias bizarros. Originalmente, passaríamos uma semana. Mas Diane e eu não estávamos tão conectados quanto gostaríamos. Ou quanto eu gostaria, ao menos. Não posso falar por ela.
Ela era professora de Sociologia no ensino médio, e estava cogitando fazer Mestrado na área. Nas horas vagas, era anarquista profissional, participava de todas as manifestações possíveis, e fazia questão de estar na linha de frente dos protestos. Admiro isso nela. É algo que sempre faltou a mim. Preguiça, em parte. Dificuldade de lidar com a subjetividade, também. Nunca achei que manifestações resolvessem alguma coisa. No fim das contas, o governo faz o que quer, do jeito que quer, com ou sem protestos. Mas esse acabava sendo o motivo de muitas das discussões. Ela me acusava de ser um alienado, desinteressado dos rumos da nação. Eu argumentava que estava mais preocupado com o nosso futuro. Ela contra-atacava dizendo que pensar na coletividade era pensar em nós também. Nada objetivo, mais uma vez. Meu raciocínio era mais lógico. O que é, é. O que não é, não é.
Falando assim, parece que não era nada demais. Mas estava ficando insuportável. Nem sexo fazíamos mais, de tanto que brigávamos. Eu a achava radical demais. E piorava a cada dia. Ela me achava um tapado, um banana, um covarde. Omisso social. Pária da sociedade. Adorava inventar esses apelidos para me ofender. Não conseguia, pois eu nem os entendia muito bem, mas a questão é que tínhamos cada vez menos em comum.
Porém, não pensava em separação. Especialmente pela nossa filha. Também porque não me via com outra pessoa, apesar das discussões. Nas tréguas, ela voltava a ser a mulher encantadora que eu conhecera. Sua juventude nunca morrera. Eu é que estava envelhecendo. Talvez fosse esse o problema, Ela continuava lutando pelos seus ideais. Eu já era... adulto. E quem disse que é bom ser adulto?
Quando criança, eu não sabia que ser adulto era tão horrível. Soubesse, teria me mudado para a Terra do Nunca. Porém, cresci e uma vez crescido, não há volta. É a inexorável caminhada rumo ao fim. Nascemos morrendo. Cada segundo de vida é um segundo a menos. Comemoramos aniversários por tolos, pois não passa de uma contagem regressiva que diz que falta um pouco menos agora. Cada vez menos. Mas a rotina é dura, e não nos deixa pensar muito. Por íncrível que pareça, era nessas bobagens que eu pensava enquanto ouvia mais um sermão da dona Diane. Desenvolvi um método para aguentar calado: viajar na maionese. Porém, na viagem de volta da comemoração do aniversário de casamento, estava particularmente difícil suportar. Diane me chamava de Solomongo quando estava de bom humor. Não era o caso naquele dia.
— Eu canso, Solomon, eu canso de te dizer, e você cansa de não me ouvir! Eu não posso me conter diante de tanta apatia! Não é possível que tantos anos convivendo comigo e com minha família tenham passado em branco pra você!
— Uhum.
— E você se faz de sonso! Não concorda, não discorda, não reage! Reaja, pelo amor de todos os santos!
— Diane...
— Eu não sei se posso conviver com isso por muito mais tempo, Solomon... — falava, quase chorando, a voz um pouco embargada. Ela não era de fazer muito teatro com emoções.
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Tente Outra Vez
Fiksi UmumTENTE OUTRA VEZ de volta ao Wattpad por tempo limitado! Portanto, você que ainda não leu o livro no Wattpad, aproveite para ler agora! ;) CAPA DE JULIAN DE SOUSA (@juliandesousa) Solomon e sua família viajam de volta para casa. Param em uma...