25 - Assaltos e conversas

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Na manhã seguinte do hospital, recebi alta por volta das 7 da manhã, tia Kate e eu fomos até a delegacia assim que saímos.

- Em que posso ajuda-las – o policial perguntou gentilmente

- Queremos fazer uma denúncia – tia Kate respondeu e explicou toda a situação ao policial, enquanto eu me mantinha quieta o tempo todo, pensando no que ia falar e se teria coragem para tal

- Me acompanhem por favor – fomos levadas até uma sala pequena e gelada onde o policial se sentou à nossa frente e fez algumas perguntas sobre o que Dom havia feito. Eu contei tudo o que lembrava sobre o que ele fez no dia anterior, e falei sobre o que costumava fazer antes

- Ele sempre foi assim. – Meu coração batia tão rápido que eu achei que sairia pela boca. Eu apertava a beirada da cadeira fortemente tentando controlar a ansiedade que eu sentia - Quando estava em casa com meu pai e uns amigos ele costumava a me olhar com malicia, e sempre me agredia quando eu não fazia o que ele pedia. Ou quando eu o xingava ou pedia para parar de me olhar daquele jeito nojento. Ele até roubou uma amiga minha.

"Várias vezes eu cheguei em casa e meu pai estava com ele e mais alguns amigos, sempre usando drogas e bebendo. Eles costumavam jogar cartas, eu nunca entendi muito bem. Quando eu chegava da escola ou do serviço e encontrava com eles eu ficava apavorada. Eu sabia que eles me forçariam a servir bebidas e ficariam olhando pra mim. Uma vez eu disse que eles poderiam se servir sozinho e Dom me fez engolir uma dose de alguma coisa apertando a minha boca"

Eu sentia minha voz falhar várias vezes. As juntas dos meus dedos estavam brancas de tanto apertar a cadeira. Relembrar de todos os detalhes como se estivesse vivendo de novo era como ir e vir do inferno.

- E seu pai? O que ele fazia? - Perguntou o policial me incentivando a continuar

- Ele nunca fez nada a respeito. Na verdade, ele também me batia as vezes quando perdia a cabeça. Costumava me enforcar ou apertar meus braços, ou até bater em meu rosto. Não tinha muito o que fazer contra ele, a sorte é que ele nunca ficava em casa, então eu aproveitava o tempo sozinha mais tranquila

Eu tinha certeza que minha mão estava dormente de tanto segurar a madeira. Eu respirava fundo e engolia em seco tentando não ter um surto ali. Cada vez que eu pensava neles, eu era levada de volta a cada cenário que já presenciei, e a cada tapa que já havia sentido. Falar dos detalhes era como senti-los em minha pele novamente.

- Então você ficava sozinha em casa sem um responsável?

- A maior parte do tempo. Minha tia – olhei para ela a indicando- não mora aqui, ainda. Mas eu passo muito tempo fora de casa, na escola e no trabalho. Só fico sozinha quando chego.

- Mas isso já vai ser resolvido seu policial. Já conversei com Helena, a dona da lanchonete que a Mica trabalha, ela é muito próxima dela e da mãe, que faleceu ano passado. Ela vai ficar na casa dela até eu conseguir pegar a guarda dela.

- Bom, muito bom. Mas quanto a seu pai teremos de prendê-lo por agressão e falta de cuidados. Dominique também será preso por roubo e por agressão. Colocaremos a polícia para procura-los agora mesmo. – O policial disse, e escorria uma lagrima do meu rosto, eu era a culpada dele estar sendo detido, por mais que não fizesse sentido sentir pena – Há mais testemunhas sobre a agressão?

- Há. Pedi pra ele vir prestar depoimento. Seu nome é Adam Lombard. – Falei pronunciando calmamente cada palavra

- Muito obrigada seu policial - tia Kate agradeceu apertando sua mão. Eu fiz o mesmo e saímos de lá.

Mandei uma mensagem para Adam pedindo que passasse na delegacia. Provavelmente a polícia só o prenderia mesmo se houvesse uma testemunha. Era minha esperança final para acabar com isso logo.

Lembranças Perdidas De Uma Garota QualquerOnde histórias criam vida. Descubra agora