Genebra

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A viagem foi agradável. Sempre que eu ficava um bocado mais abatida o Dylan dizia uma piada seca, ato este que me arrancava dos lábios um pequeno e rápido sorriso, que depressa se desvanecia em tristeza.

Quando aterramos dirigimo-nos o mais rápido possível para a saída do aeroporto, pois a minha casa ainda ficava longe. O Dylan queria alugar um quarto num hotel, mas eu disse-lhe que se quisesse podia ficar na minha casa durante o tempo que passássemos lá. Embora não achasse piada a ideia de me dar despesa, ele aceitou.

Era bom voltar a casa. Estava tudo como eu deixara à três dias atrás. Não era suposto eu ter voltado a Genebra, uma vez que deveria estar a trabalhar na minha investigação médica. Porém o assunto que eu ia tratar era importante também e do interesse máximo da Assembleia Geral da ONU.

Antes de partirmos para a sede da ONU em Genebra, o Dylan quis conhecer o Musée de L'Histoire des Sciences, que ficava mesmo em frente ao meu apartamento. Já o tinha visitado milhares de vezes, mas não me custou dar mais uma voltinha pelo magnífico edifício.

A guia, Chloé, já me conhecia e assim que me avistou veio ter comigo.

- Tu não devias de estar em Londres? Prometeste trazer-me uma t-shirt dos Beatles de lá!- perguntou-me, frenética.

- Eu sei, mas eu só venho aqui tratar de uns assuntos urgentes, daqui a alguns dias volto para lá...- respondi eu, embaraçada.

- Este aqui é o meu colega de trabalho, o Dr. Dylan Moon.- disse, ainda corada.

- Boa tarde, teria a amabilidade de nos guiar numa visita pelo museu?

- Mas com certeza, doutor, por favor sigam-me.

Pelo meio de instrumentos científicos antigos e gargalhadas íamos pondo a conversa em dia, não que houvesse muito para pôr. No final, o Dylan disse-me " O museu é muito interessante, no entanto este dia está a ser mais". E realmente estava a ser, eram os meus primeiros momentos de descontração desde  o assassinato.

Como nos distraímos com a nossa manhã bem passada quase nos esquecíamos da hora marcada para falarmos com o Dr. Bargalat, o diretor da ONU.

Assim que chegámos ainda tivemos de esperar um pouco por ele. Era sem dúvida uma pessoa amável e compreensiva, não nos tendo sequer dito nada sobre estarmos em Genebra.

- O Dr. Brian não comunicou que viria ter comigo para conversarmos sobre o projeto. É muito estranho que vos tenham dito tal coisa...- afirmou o Dr. Bargalat

- Talvez, mas tem a certeza de que não recebeu nenhum telefonema, ou e-mail que se referisse a ele?- ripostou o Dylan, sempre muito curioso.

- Não, esta informação é a única que vos posso facultar. Além disso, como estão a decorrer os avanços na vossa pesquisa?

- Ainda não tivemos tempo de a começar. Alguns detalhes já foram discutidos, mas ainda não avançamos.- respondi, eu.

Após uns cinco minutos de conversa informal fomos de novo para a minha casa, pois já se fazia noite. Quando chegámos a primeira coisa que fizemos foi acender o aquecimento e a lareira, um dia de janeiro na Suíça não é algo fácil de encarar.

Como era meu hábito, sempre que chegava a casa punha um álbum de uma das minhas bandas favoritas a tocar e, tal como a Chloé, também eu sou uma fã incondicional dos Beatles. O escolhido foi o White Album. Pelos vistos o Dylan também gostava da música

Na calma de Martha My Dear nós conversávamos, gracejávamos, até ao ponto em que, vindo do meu quintal um rapaz encapuçado arrombou a porta da cozinha e veio até à sala. Apontou-nos uma arma e tentou raptar o Dylan. Eu, com uma canhota que tinha à mão, ameacei-o, mas de que é que valia um pedaço de madeira pesado e vagaroso contra uma bala rápida e perfurante?

Não sabia o que fazer, estava paralisada de medo. Se o atacante me quisesse matar naquele momento podia, porque estava com tanto medo que não iria reagir.

Foi então que uma ideia completamente estúpida e destemida me veio à cabeça. Enquanto Dylan se torcia a ver se conseguia escapar o raptor eu atirei-me para cima dos dois e tentei desarmar o rapaz encapuçado. Estranhamente consegui fazer algo e, assim que ele se viu sem a arma desatou a fugir por onde tinha entrado.

Visto que o homem ia a fugir, instintivamente tentei disparar contra ele, mas sem êxito: ele já tinha fugido.

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