CAPÍTULO 6 Carol

5K 536 30
                                    


Fico parada do lado de fora da casa de July esperando que todas as lágrimas sequem, respiro fundo algumas vezes antes de ter coragem de apertar a campainha. Quando finalmente o faço, uma dona Maria toda animada me recebe com um abraço apertado, mas depois de me olhar nos olhos seu sorriso desaparece dando lugar a uma expressão de preocupação.
— Você está bem, minha filha? — me pergunta com as mãos pousadas sobre meus ombros.
— Estou sim, dona Maria, só com um pouco de dor de cabeça — A mentira faz meu peito se apertar, mas nesse momento a verdade me faria chorar mais.
— Então entre, filha, vou lhe dar um remédio que vai te ajudar.
Dona Maria fecha o portão atrás de nós e entra comigo na casa. July já me espera na sala com Alice sentada no tapete, vê essa cena traz lágrimas aos meus olhos, mas pisco rápido para evitar que transforme a sala em uma grande Cantareira.
— Minha amiga, que saudades — July se aproxima e me aperta em seus braços. Seu abraço é reconfortante e cheio de carinho, tudo que eu precisava nesse momento. E minhas lágrimas rolam pelo meu rosto antes que eu consiga detê-las. — Carol? Ei, o que houve? Por que está chorando? — minha amiga me olha preocupada secando minhas lágrimas que insistem em cair.
— Ah, minha amiga.
— Vem, senta aqui — Sou puxada para o sofá e sinto as mãos de July segurando as minhas.
— Eu estou perdida — falo quando o silêncio é sufocante.
— Estou aqui, vamos achar o caminho juntas — Não tenho coragem de olhar nos olhos da minha amiga. Ela me deu tantos conselhos.
— Dessa vez é diferente, dessa vez não tem como voltar atrás — Cada palavra dita é um soluço que escapa dos meus lábios.
— Ok! Agora você está me deixando muito preocupada. O que aconteceu Carol?
Balanço a cabeça de um lado para outro em sinal negativo. Sei que ficar quieta não vai mudar o fato de que estou grávida de um homem casado. Meu Deus, o que foi que eu fui fazer da minha vida? Por que não escutei meus amigos quando me diziam para me afastar daquele homem? Mas eu acreditei nele, nas promessas dele, quando me falava que iria se separar da mulher para ficar comigo, que o casamento estava mal. Burra... Burra, é isso que eu sou.
Meus ombros tremem e meu choro ecoa pela casa. Escuto Fernando se aproximando perguntando o que houve, mas nesse momento nada é capaz de fazer minhas lágrimas cessarem, a dor é tanta que só quero chorar. Escuto perfeitamente quando July pede para Fernando levar Alice e seu colo é o lugar que me deito e choro até sentir que não tenho mais lágrimas para derramar.
Acordo quando algo é enfiado dentro do meu nariz, abro os olhos assustada e me deparo com dois olhinhos azuis me encarando e rindo muito.
— Alice. Eu disse para deixar sua tia dormir — July entra na sala pegando Alice do chão que mostra a mãozinha para ela rindo.
— Está tudo bem, July. Nossa eu peguei no sono, nem tinha percebido que estava tão cansada.
— Você dormiu durante duas horas. Pedi para dona Maria arrumar um quarto lá em cima para você descansar melhor — July se senta ao meu lado e volta a colocar Alice no chão que se distrai rapidamente com seus brinquedos.
— Desculpa, July.
— Ei, desculpas pelo quê? Não tem que se desculpar de nada, você é minha melhor amiga e sempre vai ter meu colo para chorar.
— Estou grávida! — falo sem rodeios antes que perca a coragem.
— Desculpa? Eu não entendi o que você disse — July fala com a voz trêmula.
— Entendeu sim, estou grávida. Do Tiago — Não encaro minha amiga mesmo sentindo que seus olhos estão fixos em mim.
— Meu Deus!
July fica alguns minutos em silêncio e isso me corroí por dentro, eu esperava que ela gritasse, brigasse, falasse da besteira que fiz. Mas tudo o que ela faz foi ficar calada.
— July, eu sei que...
— Ele já sabe? — Sua pergunta corta o que eu pretendia falar.
— Sabe.
— E o que ele disse? — Nesse momento crio coragem para encará-la. E o que vejo nos olhos da minha amiga não e nada do que imaginava. Ela me olha com compreensão.
— O que você acha? — falo enxugando uma lágrima que rola pelo meu rosto.
— Maldito, desgraçado.
— O que eu esperava, não é mesmo? Ele é casado, é claro que se em três anos não me assumiu, não iria fazer agora que estou grávida.
— Pai não é aquele que faz. Se ele rejeitou o próprio filho, é ele que perde nessa história.
— Ele me deu dinheiro para abortar — Nunca vi minha amiga tão vermelha, a raiva que vejo em seus olhos me fez arregalar os meus.
— Ele fez o que? —Sua pergunta soa controlada e calma, tudo o que ela não está nesse momento.
— Mas eu não vou tirar meu filho, ele não tem culpa das escolhas que fiz — me apresso em falar.
July volta a segurar minhas mãos e seu sorriso não muda o fato de seus olhos estarem vermelhos das lágrimas que sei que está tentando reprimir. Essa é minha amiga, está sempre querendo ser durona, mas no fundo é uma manteiga derretida. Sei que ela está muito triste com tudo isso, mas tenho certeza de que ela nunca irá me deixar.
— Sei que está sendo difícil, também passei por isso, lembra? A situação era diferente, mas ainda assim eu me sentia sozinha. Nada vai mudar a dor que você sente nesse momento, mas amiga a maior alegria da vida é um filho e mesmo que aquele miserável não queira esse bebê, ele será muito amado. E nada faltará para ele, nem para você. Estou aqui sempre, me recuso a ser deixada de lado nesse momento.
— Ah, July... — Abraço minha amiga e dessa vez as lágrimas que molham meu rosto são de emoção.
July insiste que eu descanse um pouco mais no quarto, me avisa que sairá para resolver umas coisas na rua, mas voltará logo. Antes de sair, ela marca com o obstetra que cuidou da sua gravidez e isso me tranquiliza, tanta coisa na minha cabeça que tinha até esquecido do pré-natal, sei que isso é muito importante para mim e para a criança.
Mesmo não me acostumando ainda com a ideia de ser mãe, não vou ser irresponsável a ponto de não cuidar dessa gravidez, como disse a July: essa criança não pediu para vir ao mundo, não posso deixar que nada de mal lhe aconteça. Entro no quarto que dona Maria preparou para mim e me deito na cama. Meu corpo protesta quando sinto a maciez dos lençóis. Estou exausta como não me sentia há muito tempo.
Minha mãe vem em minha mente antes que eu consiga dormir, a conversa com ela será difícil, muito difícil. Mas antes que eu me torture mais com esses pensamentos caio em um sono profundo, relaxando todo meu corpo e minha mente.

Sedução - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora