CAPITULO 2 CLARA

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— Rodrigo, podemos ir embora? — pergunto quando começo a me sentir desconfortável com todos me olhando como se eu fosse um óvni.
— Você está bem? — ele me pergunta com um olhar preocupado.
— Claro, só um pouco cansada.
— Tem certeza? — seu tom de voz indica que ele não se convenceu com minha resposta.
— Claro, amor, foi um dia cansativo — Deposito um beijo casto em seus lábios e ele sorri.
— Vou me despedir de alguns clientes e poderemos ir.
— Eu espero aqui.
Vejo Rodrigo se afastar indo de encontro a um grupo de homens que acredito serem importantes. Nesse momento, um garçom passa oferecendo champanhe e eu recuso sutilmente.
— Sabe, não esperava que você tivesse bom gosto — A pessoa que eu evitei a noite toda fala atrás de mim com a voz carregada de sarcasmo.
— Para você vê, como as pessoas mudam — falo me virando para encarar Amanda.
— E você é prova disso. Sabe, Clara, não me surpreendeu o Fernando ter colocado você como a representante da filial daqui, mas o que me deixou bastante comovida foi saber que ele teve uma filha com a sua irmã.
— Pois é, Amanda você bem que tentou, não é? Mas fracassou, em tudo, principalmente nisso. Eles estão felizes, para sua infelicidade — Mesmo com o sangue fervendo meu tom de voz é calmo e baixo.
— Quem diria que a sonsa da secretaria mudaria tanto.
— A vida me ensinou direitinho.
— E com o dinheiro que vocês tiraram de mim, ficou tudo mais fácil.
— Nada mais justo, você não acha? Você tentou me incriminar. Dê graças a Deus por não estar presa igual seu cúmplice.
— Você quer dizer: morta! — Amanda fala com rispidez.
— Como?
— Voltando a ser sonsa, sua cretina? — sua voz é baixa, mas a raiva é nítida.
— Não se esqueça que não sou a mesma de antigamente, cuidado com as palavras, Amanda.
— Richard está morto, ele se matou depois de tudo o que vocês fizeram com ele. O coitado não aguentou a pressão e se matou — Sinto minhas pernas fraquejarem e me apoio na mesa ao meu lado, meus olhos começam a lacrimejar e pisco rápido para não deixar nenhuma lágrima escapar.
— Eu... eu não sabia — falo trêmula e Amanda faz um gesto com as mãos como se estivesse espantando algum inseto.
— É claro que não sabia, você estava ocupada demais gastando o dinheiro dele e o meu.
— Vocês mereceram tudo aquilo, eu só não imaginava isso, morto?! Meu Deus, isso é horrível.
— Ah, garota! Para de drama, você esperava o quê? A empresa dele foi fechada, todo o dinheiro dele foi usado para pagar a indenização milionária que a Dean Bau pediu. Ele está morto e a culpa e de vocês.
— Se alguém aqui tem culpa de alguma coisa essa pessoa é você! Se eu bem me lembro, foi a sua falta de caráter e o seu ciúme doentio que o colocou naquela situação. Então não venha com acusações porque você começou com tudo isso — Amanda se aproxima e abre a boca para falar, mas a fecha rapidamente quando escuta a voz de Rodrigo.
— Algum problema? — meu namorado pergunta passando as mãos pela minha cintura.
— Nenhum amor, podemos ir? — pergunto tentando sorrir.
— Claro, linda.
— Vocês formam um belo casal — Amanda fala e reviro os olhos porque sei que seu comentário e completamente falso.
— Obrigado! — Rodrigo responde educado, me puxando para irmos em direção a saída.
— Não tem de quê, tchauzinho gente. Ah, e Clara, espero que possamos nos reencontrar em breve, será um enorme prazer — Amanda fala alto o suficiente para me fazer virar e caminhar em sua direção, me aproximo e tento falar o mais baixo possível:
— Só se for para você, eu não quero te ver nunca mais e deixa eu te lembrar que deixei de ser a garota ingênua que você enganou, não cruze o meu caminho outra vez, para o seu próprio bem.
— Está me ameaçando, Maria Clara? — sua voz ecoa pelo salão e, como se alguém tivesse apertado o mute, todo o lugar fica em silêncio apreciando o espetáculo em primeira mão que estamos dando.
— Você trabalha na empresa do Drake, certo? — Rodrigo pergunta olhando para Amanda que o olha sem entender.
— Sim, por quê?
— Um telefonema meu e você estará no olho da rua, entendeu? — os olhos de Amanda se arregalam e eu me viro para encarar Rodrigo sem acreditar.
— Como é? — a voz de Amanda sai sussurrada
— Vou explicar melhor para você. Deixe minha namorada em paz, nunca mais fale com ela ou sequer pense nela. Drake é meu melhor amigo e tenho certeza que depois que eu contar sobre o passado da secretaria dele, duvido muito que ela continue com a vaga.
— Você é secretaria? — pergunto surpresa para Amanda, que fica vermelha de raiva, mas não fala nada.
— Ótimo. Acho que você entendeu direitinho. Aproveite o restante da noite — Rodrigo fala e me conduz para saída.
Saímos e o manobrista já nos espera com as portas do carro aberta, ele me ajuda a entrar e se afasta.
— Você está bem? — Rodrigo pergunta pousando sua mão na minha perna.
— Estou, obrigada, você não precisava se expor para me defender — falo acariciando sua mão.
— Você é minha namorada e não permitirei que ninguém a destrate, muito menos na minha frente. E aquela mulher estava me irritando desde a hora que me seguiu até o banheiro.
— Ela o quê? — grito assustando Rodrigo.
— Calma, amor, não aconteceu nada, ela foi atrás de mim e tentou se insinuar, mas eu não dei bola, deixei bem claro que amo a minha mulher.
— Vaca! — me viro em direção a Rodrigo quando suas gargalhadas ecoam pelo carro — Qual é a graça?
— Amor, eu te amo — Reviro os olhos, mas não consigo deixar de sorrir para o homem ao meu lado.
Chegamos ao prédio em que moro e Rodrigo faz bico para entrar, mordo seus lábios e digo “não”. Amanhã trabalho e se o deixar dormir aqui a noite será longa, muito boa, claro, mas longa. E hoje foi um dia cansativo, quero dormir.
Depois de um “boa noite” com muitos beijos e pegação dentro do carro, saio em meio aos protestos de Rodrigo e sigo para o elevador. Entro no meu apartamento e logo o cansaço da noite me domina, vou tirando os sapatos antes mesmo de chegar ao quarto. Tiro meu vestido, as joias e vou direto para o banho, fico relaxando embaixo da água quente do chuveiro e pensando em tudo que me aconteceu hoje.
Finalmente me deito e sinto que se um trator tivesse passado por cima de mim não me sentiria tão exausta como estou agora. Fecho os olhos e tento dormi, mas mesmo cansada e com sono, meus pensamentos fervilham em minha cabeça.
Primeiro July me fazendo voltar ao Brasil. Amanda que reapareceu. A história da morte de Richard... ele foi um miserável, mas não merecia um final trágico assim. Quando penso que esses são os meus maiores problemas, a imagem de Matt surge na minha cabeça. É ele quem está me tirando o sono, a possibilidade de reencontrá-lo está me deixando nervosa.
Já se passaram tantos anos que nem sei se a magoa do passado ainda existe. A única coisa que sei é que voltarei para o Brasil em uma semana e seja o que Deus quiser, porque ter Matt e Rodrigo no mesmo lugar vai ser de parar o coração.
Adormeço com ajuda de um calmante, do contrário viraria a noite com meus pensamentos em conflito.

*

— Bom dia, Lili, alguma novidade sobre as entregas do material do museu? — Paro em frente à mesa da minha secretaria assim que saio do elevador.
— Bom dia, Clara, infelizmente o material não chegou — Lili me entrega o e-mail que recebeu da empresa prestadora de serviços para Dean Bau.
— Ligue para eles e marque uma reunião para hoje. Não aceite um “não” como resposta.
— Imaginei que você pediria isso e me adiantei. A reunião já foi marcada.
— Para que horas?
— Agora, ele está na sua sala.
— Nossa, garota! Você é rápida — Olho meu relógio que marca nove e doze — Só é meio cedo para uma reunião.
— O advogado estava de passagem e resolveu adiantar serviço — Lili fala dando de ombros
— Ótimo, peça para servirem café para ele e um suco de laranja para mim, por favor.
— É para já! — Lili responde já pegando o telefone para ligar.
Entro em minha sala e começo a falar antes mesmo de fechar a porta.
— Me desculpe pelo atraso, não sabia que...
Quando o homem se levanta e vira para me olhar, me pergunto se estou sendo castigada por algum motivo, porque todo meu passado resolveu simplesmente aparecer sem nem me dar uma chance de me preparar para o choque.
— Erick?
— Clara! Estou tão surpreso quanto você — ele fala e pelo tom da voz acredito em suas palavras.
— Preciso de um banho de sal grosso.
— O que você disse? — quando escuto a pergunta de Erick percebo que falei em voz alta.
— Nada... é... droga! Sente-se, temos uma reunião, eu acho.
Guardo minha bolsa e me sento de frente para Erick que me olha de testa franzida e com um ponto de interrogação gigante estampado no rosto.
Erick é o cretino que abandonou minha irmã quando meus pais morreram. Ele fez uma proposta a July: ou ele ou eu. Miserável! Minha irmã escolheu a mim, eu só tinha quinze anos na época e ele queria me colocar num internato. July, com seu jeito protetor, se recusou e esse foi o motivo do fim do relacionamento. Senti-me culpada por anos, me perguntava se não seria melhor ela ter me deixado, mas hoje vendo como minha irmã é feliz ao lado do Fernando, vejo que o melhor que aconteceu na vida dela foi esse idiota ter ido embora.
— Não sabia que você estava cuidando dos negócios do Fernando — Erick fala com cautela.
— Não estou cuidando de nada do Fernando. Estou cuidando do que é meu.
— Não entendo — ele fala colocando a pasta do seu colo em cima da mesa e me encarando com expectativa.
— Sou Acionista, Erick.
— Uau, por essa não esperava — seu tom de voz é de surpresa.
— Nem eu esperava te reencontrar, mas aqui está você, sentado em minha frente.
— Estou acompanhando minha mulher em um evento e fui informado sobre o problema com nosso material.
— Mulher? — De toda a frase que ele disse, essa palavra foi a que me deixou mais surpresa.
— Sim, Clarinha, me casei há dois anos e inclusive sou pai de um menino — Certo! Minha vez de fazer “uau”.
— Não me resta nada a dizer a não ser, parabéns.
— Sei que talvez você nunca me perdoe pelo que fiz, acho que nem eu sou capaz de me perdoar, mas me arrependi. Eu aprendi com meus erros e mudei. Hoje, acredito ser alguém melhor, nada justifica eu sei, mas poxa eu estou tentando — Erick me olha e sei que todas suas palavras são verdadeiras.
— Não estou te julgando. Todos nós cometemos erros não seria diferente com você. Eu realmente fico feliz que você tenha aprendido com seus erros e agora seja uma pessoa melhor, principalmente para sua mulher e seu filho.
— Você também mudou. Se não fosse por esses olhos, diria até que é outra pessoa.
— Como eu disse: todos nós cometemos erros. Eu aprendi com os meus.
Erick me olha e concorda.
Damos início à reunião e depois de muitas ameaças contra a empresa que Erick representa, resolvemos metade dos problemas. Espero que isso seja o suficiente para acalmar os ânimos do conselho.
Erick vai embora depois de me dar um abraço. Percebi que ele esperava pelo meu perdão há muitos anos. Não que eu tenha que perdoá-lo de algo, a única pessoa a quem ele realmente fez mal foi a minha irmã, mas se precisava disso para seguir em frente e em paz com sigo mesmo, ele obteve e eu me senti mais leve depois da nossa conversa, não sabia que o simples ato de perdoar alguém nos desse tanta satisfação.
O dia na empresa foi cheio de trabalhos, novos projetos surgindo, novos contratos. A empresa nunca esteve melhor, e me orgulho muito disso. Devo isso a todos que trabalham aqui, mas quando cheguei tinha muito trabalho a ser feito mesmo carregando o grande nome da Dean Bau, não seria fácil.
E isso foi o que me deu forças para chegar aonde cheguei, tive tanto trabalho que não pensava nos meus próprios problemas, na minha dor. E quando percebi, ela já não existia mais, simplesmente outra pessoa estava do meu lado me fazendo feliz, de verdade.
Fico perdida em meus pensamentos e quando dou por mim, meu celular vibra na minha mesa com a foto do Rodrigo lindo e sorrindo na tela.
— Boa tarde, minha linda — seu sotaque nessa voz sexy é de matar qualquer mulher.
— Estava pensando em você — falo tentando controlar meus desejos.
— Ah, foi, amor? E o que você estava pensando? — ele sussurra e eu reviro os olhos, esse homem, viu?!
— Não é sobre o que você está pensando e sim, sobre o quanto você me faz feliz — a linha fica muda alguns segundos e olho para tela imaginando que a ligação caiu.
— Você também me faz feliz, como nunca fui — seu tom de voz é sério, como sempre, quando o assunto são seus sentimentos. Rodrigo é sincero e jamais leva esse assunto na brincadeira.
— Estava pensando, como hoje é sexta, que tal assistirmos um filme lá em casa e depois pedirmos pizza? — falo empolgada.
— Acho perfeito. Você está bem descansada hoje? — Estranho sua pergunta.
— Sim, por quê?
— Porque hoje pretendo te deixar a noite toda acordada e não vai ser assistindo filme — Mordo minha bochecha e respiro alto.
— Safado.
— Por você, meu amor, só por você.
— Rodrigo, antes que eu me esqueça, precisamos decidir se vamos mesmo ao Brasil — Fecho os olhos desejando que ele me diga que não podemos ir por causa de um trabalho importante, minha irmã vai entender.
— Amor, vamos quando você quiser, se quiser compramos a passagem hoje — Me encosto na cadeira e esfrego minha testa, como se uma dor de cabeça começasse a surgir.
— Claro, amor, me mande seus dados por e-mail, vou pedir para Lili comprar as passagens.
— Mandarei o número do cartão, aproveite e faça as reservas do hotel, Clara.
— Não. Ficaremos na minha casa, nada de hotel — falo me lembrando de que a casa dos meus pais continua intacta e sentindo saudades.
— Por mim, sem problemas. Assim podemos fazer mais barulhos quando estivermos na cama — Sorrio com seu comentário.
— Preciso desligar antes que você resolva fazer sexo por telefone.
— Adorei a ideia, vamos começar com você me falando qual a cor da sua calcinha.
— Rodrigo! — A sua risada do outro lado da linha me faz sorrir também.
— Ok, linda, até mais tarde, beijos.
Desligo o telefone sorrindo, mas quando sou notificada de um novo e-mail, meu sorriso desaparece, são os dados do Rodrigo, agora não tem jeito, vou voltar ao Brasil.
Chamo Lili à minha sala e passo a ela todos os dados que Rodrigo me mandou, junto com os meus e peço a ela que compre as passagens imediatamente, assim esse mês acaba logo e, antes que eu me dê conta, voltarei para minha vida aqui.
Depois de passar todas as informações para minha amiga ela sai da minha sala, me deixando sozinha perdida em pensamentos, e antes que esses pensamentos alcance um lugar onde eu não quero estar, começo a arrumar minhas coisas para ir embora. Meia hora depois estou saindo da minha sala com uma pasta e minha bolsa.
— Tchau, Lili! Até segunda, vê se descansa esse fim de semana — falo seguindo para o elevador.
— Clara, espera.
— O que houve?
— Suas passagens e as de Rodrigo, vocês viajam terça às dez da manhã — ela fala estendendo um envelope em minha direção e só então noto que estou tremendo.
— Você está bem, Clara? — Lili fala me olhando preocupada.
— Sim, tudo bem. Foi rápido, achei que teria alguns dias ainda.
— Antes que eu me esqueça, a secretária de Fernando ligou dizendo que segunda um acionista da Dean Bau de São Paulo chega para ocupar seu lugar durante esse mês.
— O que? E porque eu estou sabendo disso só agora? — pergunto alto assustando Lili
— Não sei, apenas foi esse recado que ela me passou — responde dando de ombros.
— Tudo bem, depois ligarei para Fernando. Bem, como ele chega segunda, não virei trabalhar, passarei apenas para deixar tudo em ordem.
Me despeço da minha amiga, levando o envelope comigo e com minha cabeça cada vez mais confusa. Chego em casa e tento esquecer todas minhas preocupações, tomo um banho demorado, coloco um vestido solto e prendo o cabelo em um coque.
Rodrigo chega por volta das oito, com seu sorriso lindo e seus abraços tranquilizadores.
Ficamos sentados no tapete em volta de um monte de travesseiros assistindo uma variedade de filmes. Quando escuto a barriga de Rodrigo roncar, me levanto para pedir pizza. Quando ela finalmente chega, nos sentamos no balcão da cozinha para comermos.
— Você está bem? — Rodrigo me pergunta enquanto limpa suas mãos no guardanapo.
— Sim, por quê?
— Porque desde a hora que cheguei, você quase não falou — O encaro e suas sobrancelhas estão arqueadas.
— Lili comprou as passagens para terça — falo sem rodeios.
— E isso não deveria ser bom? — ele me pergunta girando em sua cadeira até estar de frente para mim.
— Eu não sei.
— Quem é ele? — Rodrigo pergunta depois de alguns minutos em silêncio.
— Como? — Sua pergunta me surpreende me fazendo esquecer até o porquê de estar tão nervosa.
— Porque você não quer voltar ao Brasil?
— Eu quero, só que a empresa está...
— Clara, eu não sou bobo, você está aqui há quatro anos e nunca teve vontade de voltar ao Brasil, e não me diga que é por causa do trabalho porque nós dois sabemos que não é — Meus olhos se arregalam a cada palavra que escuto.
— Rodrigo eu...
— Ei! Não estou te cobrando nada, minha linda, só quero saber o que terei que enfrentar quando chegarmos lá — Suas palavras fazem meus olhos lacrimejarem.
— Existiu uma pessoa... Ele me fez sofrer muito, passamos uma noite juntos e ele simplesmente esqueceu. Eu estava apaixonada e entreguei meu coração naquela noite e não só o meu corpo, mas ele destruiu tudo dizendo que não lembrava. Eu vim para Nova York para esquecê-lo e refazer a minha vida. E eu consegui, só que... — Quando as lágrimas molham meu rosto, abaixo a cabeça para tentar escondê-las de Rodrigo. Mas ele se aproxima e me abraça.
— Mas você não se sente preparada para voltar e enfrentar tudo — Rodrigo fala adivinhando meus pensamentos.
— Eu não sei, eu sou tão feliz hoje. Eu finalmente me encontrei. Aprendi com todos os meus erros e pensar em voltar me deixa vulnerável — revelo com a cabeça encostada em seu peito.
— Eu estarei com você, para tudo, eu estarei com você. Mas preciso saber, você ainda o ama? — Me afasto o suficiente para encarar os olhos de Rodrigo.
— Eu estou com você e é com você que vou ficar, nada nem ninguém vai mudar isso — Seus lábios pressionam os meus quando termino de falar.
— Era só isso que eu precisava ouvir — Rodrigo fala me puxando para seus braços, o meu porto seguro.
Passamos o final de semana todo juntos.
Depois da minha conversa com Rodrigo me sinto até melhor. É como se tivesse tirado um peso dos meus ombros.
Fazemos nossas malas, passeamos e conversamos muito. Rodrigo insiste em comprar presentes para minha irmã e sobrinha. Se duvidar, vamos pagar mais caro nas malas de viagens do que nas passagens com tanta coisa que meu namorado está levando.
Depois de um fim de semana maravilhoso, a segunda-feira começa com muito trabalho. Vou até a empresa para deixar o acionista que ocupará meu lugar durante esse mês, a par de tudo. Ele, diferente dos outros, respeita meu trabalho e o fato de eu ser mulher. Me garante que me mandará e-mails semanalmente com relatórios de tudo que está acontecendo na minha ausência. E essa atitude, de certa forma, me deixa mais aliviada, agora posso até viajar em paz.
Rodrigo segura minha mão enquanto o avião decola e sorri com minhas caretas.
Dou graças a Deus quando esse negócio para de balançar. Nem acredito que esse dia chegou. E aqui estou eu, finalmente voltando ao país que nasci, não sabia que sentia tanta saudade desse lugar até o momento que o avião decola. Agora não tem como voltar atrás. Rodrigo sorri e me beija me acalmando o tempo todo. E estou grata por ele estar aqui, as coisas serão mais fáceis tendo ele para me apoiar.
No final da tarde, Rodrigo e eu saímos do táxi que nos trouxe até em casa, achei estranho minha irmã não ir nos receber, mas ela me garantiu que virá amanhã. Com ajuda do taxista, Rodrigo carrega todas as malas até a entrada da minha casa.
— Essa é a hora que eu te pego no colo? — Rodrigo fala me abraçando por trás enquanto procuro minhas chaves dentro da bolsa.
— Acho uma ótima ideia — Rodrigo toma as chaves da minha mão e abre rapidamente a porta, me pega no colo e eu entrelaço minhas pernas em sua cintura. Sua boca encontra a minha em um beijo desesperado. A sensação me faz gemer sobre seus lábios, Rodrigo entra em casa e escuto a porta sendo fechada atrás de nós. Ele dá alguns passos para o lado até que sinto minhas costas na parede.
A luz é acesa e a palavra "surpresa" é gritada em uníssono como num grande coral. Rodrigo interrompe o beijo e meus olhos se arregalam. Merda!
— Mas que porra... — escuto Fernando murmurar enquanto a gargalhada da minha irmã ecoa pela sala.
— Me fala que isso é um sonho — sussurro quando Rodrigo me coloca no chão e enterro minha cabeça em seu peito morta de vergonha.
— Acho que na verdade é sua festa de boas-vindas — Escuto a risada do meu namorado enquanto sinto as minhas bochechas pegarem fogo.
— Isso não é hora para você rir, Rodrigo — digo brava.
— Você fica linda quando faz bico — Dou uma tapa no seu braço enquanto ele morde meus lábios.
— Será que dá para vocês dois pararem de cochichar, porque estou com saudades e quero um abraço — July fala e Rodrigo se afasta me dando a chance de olhar por toda a extensão da sala.
— Minha irmã, que saudades — July se aproxima e me envolve em um abraço caloroso que eu retribuo feliz.
Meus olhos se arregalam ao ver a pessoa que eu rezei tanto para não encontrar. Matt encara Rodrigo com olhos cheios de raiva, seus punhos estão fechados ao longo do corpo, seus olhos finalmente encontram os meus e uma onda de emoção me atinge.
Sentimentos conflitantes que estavam adormecidos por anos, ressurgem.
Merda e lá vamos nós de novo.

Sedução - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora