CAPÍTULO 3 MATT

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Olhar para Clara agarrada a esse cara, me faz ter pensamentos homicidas como nunca tive na vida. Ela é minha e não desse merdinha que agora a abraça, esse lugar é meu. Mas que merda eu estou pensando? Ela nunca foi e nunca será minha.
Sinto os meus dedos ficarem brancos com a intensidade que aperto o copo em minha mão. Há quatro anos Maria Clara foi embora, desde então minha vida se transformou num maldito inferno. Eu passo os meus dias trabalhando feito um condenado para tentar tirar da cabeça os pensamentos de como a perdi sendo um covarde filho da puta incapaz de lutar por seu amor.
Covarde, é isso que sou e agora estou aqui encarando seus olhos enquanto ela abraça July. Clara está de volta, mas com outro homem. Inferno!
— Ei, também quero um abraço — Escuto a voz de Carol ao fundo e desvio o olhar.
— Tem abraço para todo mundo — Clara fala se afastando de July enquanto limpa o canto dos olhos.
— E "pa' mim tia? — Alice fala fazendo todos rirem.
— Principalmente para você, meu amor — Clara se abaixa para pegar Alice no colo que já tem os braços levantados.
Enquanto os abraços são distribuídos, fico o mais distante possível, minha vontade é de ir até lá e tomá-la para mim, mas com que direito?
Quando a sala cai em um silêncio sufocante, Fernando faz a pergunta que todos estavam interessados em saber, todos menos eu.
— Não vai apresentar seu amigo? — Fernando pergunta franzindo a testa para o babaca que agora está abraçando minha Clara.
— Ah, claro, esse é o Rodrigo, meu namorado — O desgraçado ainda deposita um beijo nos lábios dela.
— Futuro noivo! — Ele fala, me fazendo engasgar com a bebida. Péssima hora, todos os olhares da sala se voltam na minha direção, levanto a mão e digo que estou bem.
— E por que só estou sabendo disso agora? — July fala fingindo estar brava.
Nesse momento me afasto sem interesse de saber os detalhes da relação do casal feliz. Sigo para cozinha para pegar mais uma dose de uísque e quando estou me servindo, a voz que esperei anos para ouvir novamente, sussurra atrás de mim me fazendo esquecer até meu nome.
— Você deveria ir devagar — Me viro para olhá-la.
— É bom te ver também, Pequena — seus olhos ficam frios e sua expressão fica rígida. Idiota é isso que sou, um completo idiota.
Antes que ela volte a se afastar, coloco minha bebida no balcão e me aproximo, a puxo para meus braços e a abraço forte. Ela não retribui o abraço, seu corpo fica tenso com minha aproximação. A última vez que a vi, estava no bar com outra mulher, seu olhar me cortou o coração, mas fui incapaz de ir atrás dela. Eu nunca a mereci, nunca fui digno do seu amor.
— Bom te ver, Matt, agora preciso ir — Ela se afasta do mesmo jeito que se aproximou fria e muito mudada.
Clara sempre foi uma menina doce e gentil, quando a conheci estava no pior momento da minha vida, percebi que seus olhos brilhavam cada vez que encontrava os meus e desde então, estabeleci um limite em nossa relação, a de irmãos. Sei que no começo ela ficou satisfeita com isso, mas logo que deixou de ser uma adolescente e se transformou numa bela mulher, a mais linda por sinal, eu não conseguia disfarçar mais o que sentia por ela.
Sempre fui apaixonado por ela e daí você me pergunta: por que porra não lutou por ela? Simples! Porque sou um ex-presidiário. Fui preso quando tinha acabado de fazer 18 anos. Motivo? Quase matei meu padrasto, o mandei para o hospital depois de uma surra, ele ficou uma semana na UTI, e infelizmente o desgraçado saiu vivo.
Não sou assassino e sou totalmente contra fazer justiça com as próprias mãos, mas quando cheguei em casa e o encontrei espancando minha mãe que já estava desmaiada, não pensei, simplesmente fui para cima dele.
As consequências dos meus atos me levaram há alguns dias na cadeia, até que o pai de uma amiga, o senhor Rodrigues pagou minha fiança. Acabei podendo responder em liberdade, porém nada disso faz diferença. O que realmente me chocou foi ver minha mãe depor a favor daquele homem, depois do meu julgamento, nunca mais nos falamos, ela mudou-se com ele para outra cidade e nem se despediu.
Meu verdadeiro pai faleceu quando eu tinha sete anos, depois de sua morte, minha mãe passou a beber e a fumar. Ela não trabalhava e o dinheiro da pensão que recebíamos mal dava para comer, imagine então sustentar vícios. Foi quando ela conheceu Heitor, um homem sem escrúpulos e capaz de vender sua alma ao diabo para conseguir dinheiro para comprar drogas.
Foi assim que minha mãe adquiriu mais um vício. Quando o dinheiro deixou de ser suficiente, Heitor me obrigou a trabalhar. Parei de estudar quando tinha 15 anos e comecei a vender balas e chicletes nos faróis. E sempre que chegava em casa com dinheiro faltando, ele me batia, a última coisa que via antes de desmaiar era o olhar da minha mãe sem nenhuma emoção, ela já não me amava mais.
Enquanto eu tenho o nome sujo por quase matar um homem, Clara é uma arquiteta importante, merece mais do que eu posso oferecer, nunca me senti digno dela e nunca serei. Tenho certeza de que se ela soubesse dessa parte da minha vida iria pensar o mesmo.
— Pensando na vida, cara? — A pergunta de Fernando me tira dos meus devaneios.
— Um pouco — respondo pegando meu copo de cima do balcão.
— Atrapalho?
— Fico feliz que tenha feito.
— Dia ruim? — Fernando pergunta apontando para meu copo
— O pior! — respondo tomando um gole da minha bebida.
— Não poderia ser diferente, ver a mulher que você ama com outro, deve ser foda.
Encaro Fernando e termino de virar minha bebida na boca.
— Preciso ir — falo, mas não aguardo uma resposta, apenas me afasto.
— Matt? — Fernando me chama, mas não me viro para olhá-lo, apenas fico parado.
— Você ainda tem tempo cara.
— Perdi minha chance há quatro anos, agora é tarde.
Me afasto e sigo para porta, não me despeço de ninguém apenas preciso sair daqui, mas antes de fechar a porta, encontro o olhar de Clarinha. Fecho a porta com a certeza de que eu a perdi, dessa vez para sempre.

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