Conto 3 "MEU AMOR LITERÁRIO"

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Meu amor literário

Kellyane Ribeiro

- Parabéns, Gabriela, estamos muito felizes em tê-la conosco, fazendo parte da nossa família. – Apertou a minha mão o dono da Editora Estrela, uma das maiores do Estado e meu sonho de consumo.

- Eu agradeço a oportunidade, Senhor Andrade. – Retribui o sorriso dirigido a mim, o meu coração batia acelerado e uma certeza invadia o meu ser: eu consegui!!!

Essas eram apenas lembranças de cinco anos atrás, mas sempre que alguma pedra no percurso me assustava ou afligia, eram as lembranças de todo o esforço que fiz para chegar até aqui que fortalecia meu coração e me dava uma injeção de ânimo.

Aos trinta anos, sete livros publicados em um período de cinco anos, milhares de seguidores nas redes sociais e um contrato extremamente vantajoso, com uma das maiores editoras do Brasil, me fazia ver que tudo valeu a pena. Sou uma romântica incurável, e meus livros, todos romances, Chick lit, deixavam claro esse meu lado. Mocinhas modernas, corajosas, cheias de sonhos; mocinhos lindos, charmosos e fortes, outros ogros e turrões, mas que fazem tudo por sua amada, esses eram os temas da maioria deles. Meu público era muito amplo, desde de adolescentes à idosas, já tive o prazer de ver uma senhora de cabelos brancos lendo um livro meu na sala de espera de um consultório médico, e fazia de tudo para que essa aceitação continuasse crescendo. Estava em luta com meus pensamentos quanto o telefone na sala começou a tocar, levantei e atendi no terceiro toque.

- Funerária Vá com Deus, boa noite.

- Gabriela Cerqueira Guimarães, pode parar de gracinhas. – Gargalhei ao ouvir o tom bravo de meu irmão.

- Gui, sabia que era você. Quem em sã consciência ligaria para a casa de uma pessoa às 10:30 h da noite? Somente meu irmão desocupado. Vou perguntar à Carla se ela não tem uma trouxa de roupa pra colocar você pra lavar, ou qualquer outra coisa que queiram fazer.

- Calma, senhora mal humor. Liguei para dizer que estamos aqui com alguns amigos que chegaram agora a pouco e resolvemos fazer um churrasco. Queria você aqui com a gente.

- Gui, numa boa, está tarde. Amanhã tenho uma tarde de autógrafos, não quero sair agora.

- Gabi, já passou da hora de sair dessa sua vidinha monótona e sozinha. Há quanto tempo você não sai com ninguém? Só fica com esses perfeitos fictícios e acha que isso é ser feliz.

- Guilherme, te amo muito, mas da minha vida cuido eu. Sou feliz assim e estou muito bem. Boa festa ou churrasco, sei lá, para vocês. Beijos. – Desliguei sem esperar respostas do outro lado da linha.

Minutos depois, já deitada em minha cama, ouvi um pib e peguei o celular. A mensagem via WhatsApp de Guilherme fez meus olhos arderem com as lágrimas que não consegui conter.

"Minha linda, você é uma das pessoas mais importantes na minha vida, não adianta brigar por minha preocupação excessiva, você é minha única irmã e o meu elo com nossos pais, nossas raízes. Só quero que você seja feliz, e não estou falando de seus livros, falo de ter um companheiro de verdade, que te ame com seus defeitos e qualidades, que esteja ao seu lado em todos os momentos. Sei que os belos exemplares masculinos (segundo Carla) são realmente de tirar o fôlego, mas não são de carne e osso. Quero que você sinta a felicidade que me envolve quando vejo Carla entrar em casa ou quando fazemos planos para o futuro. Seja feliz! Guilherme. "

Chorei como não fazia há anos, na verdade desde que Felipe resolveu que conciliar nosso namoro de quase cinco anos com meus livros e minhas viagens não estava mais dando certo. Felipe foi meu primeiro namorado sério, ele sempre me apoiou quando falava que queria ser escritora em tempo integral. Conheci Felipe em uma reunião no colégio onde trabalhava. Eu tinha quase vinte anos e acabara de me formar em História e começara há alguns meses nesse colégio. Ele era filho da diretora pedagógica, nos conhecemos, começamos a sair e consequentemente a namorar.

As Aventuras das BelasOnde histórias criam vida. Descubra agora