Capítulo 2 - Helena

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Eu não sabia o que falar.

Nunca fui do tipo de pessoa que tem assunto para conversar com alguém desconhecido. Na maioria das vezes, a pessoa tinha que chegar perto de mim e puxar assunto. Minha timidez sempre me impedia de formular algum assunto interessante.

Por isso, saia sempre algo do tipo:

— Eu pensei que o tempo aqui fosse mais frio.

É, pois é. Esse tipo de coisa havia acabado de sair da minha boca.

Para minha sorte, ele sorriu para mim e disse:

— Com esse chiado... Eu tenho certeza que você é do Rio de Janeiro — falou, olhando-me de lado. — Acertei?

Inconscientemente, coloquei a mão na frente dos meus lábios. Chiado?

— Eu não chio.

— Chia sim.

— Chio nada.

— O seu "mais" sai assim: "maixxx".

— O quê? Nada a ver. No Rio, a gente fala normal...

— Viu? Eu sabia que era do Rio!

Atravessamos a rua e, assim que pisamos na calçada, olhei para cara dele.

— Você deve estar acostumado com esse pessoal da televisão. Eles forçam muito mesmo, mas, eu? Nada a ver. Sou supernormal.

Mexxxxxmo?

Abri a boca quando ele, novamente, me imitou a falar. Provocativo, o senhor pacote do pecado jogou a cabeça para trás e riu de mim.

Riu de mim.

Ótimo. Eu havia acabado de chegar ali e meu vizinho já estava rindo de mim.

— Você está praticando bullying comigo, sabia?

— Desculpa... — ele pediu, ainda sorrindo de lado. — Seu sotaque é bonitinho.

— O seu também. Viu? Eu nem te zoei. Sou boazinha — falei, piscando para ele.

Certo, eu tinha acabado de piscar para o meu vizinho. E só o conhecia a pouco mais de dez minutos.

Controle-se!

— E por que quis sair da Cidade Maravilhosa, Helena?

Mordi o lábio, indecisa sobre o que inventar. Não tinha pensando em nenhuma história para contar para as pessoas que conheceria naquela região. Para falar a verdade, eu ao menos queria conhecer pessoas, queria ficar quieta, aproveitar um pouco a solidão e me esquecer do passado.

Mas, ao contrário dos meus pensamentos quando decidi me mudar, era inevitável não ter nenhum tipo de contato com o outro. E o seu Jô e o pacote do pecado, por exemplo, pareciam ser pessoas muito legais.

Talvez, eu pudesse fazer novas amizades.

Na verdade, novas amizades poderiam me ajudar a enterrar o que deixei para trás. Ou o que estava lutando arduamente para deixar para trás.

— Desculpe, eu não quero me meter na sua vida...

— Não, não precisa se desculpar — falei, vendo que eu havia ficado tempo demais sem falar. — Eu saí do Rio porque precisava de um tempo só para mim. Precisava conhecer um novo lugar, pessoas novas... Ás vezes, precisamos fazer isso, sabe? Mudar de verdade, deixar para trás o que nos prende.

De repente, você (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora