Capítulo 6 - Queda livre

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A multidão grita por mim enquanto me vejo preso em um colete de segurança pressionando meu peitoral. Vai ficar todo bem. Respiração consciente. Tenho que me lembrar do que Nick disse: "Você só precisa não cair". Tudo bem, essa trava parece estar bem firme.

Olho por sobre o ombro para um homem com mais ou menos o dobro da minha idade manuseando o painel de comando do brinquedo. Ele vem até mim e confere se o colete está firme, volta ao controle e pressiona algum botão, o freio hidráulico assoprando forte. O carrinho treme e começa a andar, fazendo a multidão gritar mais ainda.

Fecho os olhos fortemente e me perco em pensamentos.

Já são quase dez da noite. Minha mãe deve estar sentada com uma xícara de chá perto da porta, esperando cada segundo ela ser aberta na esperança de ser eu. Se eu atrasar um único minuto que seja, ela vai pensar que eu estou em uma construção abandonada com um cachimbo na boca. Na verdade, eu queria estar em casa.

Meus pais não podem saber que eu estou jogando isto. Eles não descobririam por conta própria, já que mal conseguem mexer no controle da televisão. Minha irmã não vai contar. E por que ela se inscreveu como Observadora? Além de jogar dinheiro no lixo, é doentio ver pessoas bobas fazendo desafios bobos que podem dar errado. Eu acabei de me chamar de bobo?

Falando em Observadora, Camila deve estar me assistindo agora, pensando no quão ganancioso estou sendo em dar uma volta numa montanha-russa, sabendo que eu morro de medo de altura. Ela também deve estar me xingando por não ter ficado com ela na nossa noite de cinema e pipoca. De qualquer forma, quero aqueles patins bonitos.

Quando abro os olhos, percebo que já estou no topo da montanha. A primeira subida é muito alta, maior ainda que a roda-gigante. A vista daqui de cima é bem mais ampla, podendo ver o canal do oceano pacífico que divide os Estados Unidos do Canadá.

Sinto um ar forte no meu rosto, o carrinho cai com tudo trilho abaixo e eu instintivamente grito alto. Ele passa por outra subida e cai de novo, depois segue em uma curva na diagonal. Sinto que vou cair para o lado.

Qual era o desafio de Nick? Ele simplesmente sumiu sem me dizer o que era ou para onde ia. Isso não foi justo. E se o dele for mais fácil que o meu, ou até mesmo difícil? NERVE mandaria ele para o trem fantasma enfrentar sua maior assombração? Até mesmo os durões têm medo de algo. Qual seria o maior medo de Nick?

O frio da noite não ajuda em nada. São muitas as hipóteses: a trave de segurança pode abrir do nada e eu sairei voando, o carrinho pode descarrilhar, as vigas de metal podem desabar me levando junto. São tantos pensamentos que nem percebo que estou indo em direção a um looping gigante, não tenho mais nem voz para gritar. Ele parece ser tão alto quanto um prédio. Não gosto da ideia de ficar de cabeça para baixo nessa altura.

Olho para os lados e vejo várias pessoas apontando seus celulares para mim. De repente, a recomendação de Camila sobre eu me inscrever como Observador invade minha mente. Realmente, é bem menos perigoso apenas assistir e gravar, enquanto os outros se ferram.

O carrinho vai cada vez mais rápido em direção ao looping, começando a subir nele. Meu coração dispara e eu sinto uma náusea repentino. Por que eu aceitei esse desafio?

Quanto mais o carrinho vai subindo, mais ele perde a velocidade. Isso deveria acontecer? Chegando ao pico, a droga do carrinho para completamente, então eu sinto todo o sangue cair para a minha cabeça.

De repente, a trava de segurança abre sozinha. Puta que pariu, isso definitivamente não deveria ter acontecido.

Instintivamente faço força contra o colete aberto, ele é firme o bastante para que eu consiga manter minha bunda no assento, mas mesmo assim meu grito é rouco. Estou tão desesperado que não consigo nem fechar os olhos. Eu deveria ter deixado meu testamento antes de jogar NERVE.

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