Capítulo 21 - Polarizado

652 50 70
                                    

Minha música matinal favorita toca notas baixinhas ao mesmo tempo que abro os olhos, me xingando mentalmente por ter deixado a cortina aberta. Detesto sol na cara assim que me acordo. Miles ronrona nas minhas pernas, se espreguiçando junto comigo. É bom estar formado.

Desligo o despertador e checo minhas notificações, com esperança de tudo ter acabado, mas parece pior do que ontem. Já passou um mês desde que desafiei NERVE e fugi daquela armadilha, desde então metade dos Observadores me viram como herói, enquanto a outra metade me chamam de covarde. Se eu iria ou não levar um tiro, nunca vou saber, mas prezo pela minha vida, isto que importa.

Deslizo por todas as mensagens que recebi em todas as redes sociais até encontrar uma especifica, fazendo meu coração derreter. Minha barriga ronca e eu levanto da cama, não antes de fazer carinho no Miles. Dez minutos depois, já estou fora de casa. A primeira semana foi terrível, minha casa era infestada por Observadores pedindo pronunciamentos e jornalistas sedentos por uma matéria. Não hesitei em nenhum momento: disse tudo que pude com a intenção de derrubar esse jogo maluco. Não deu em nada, é claro, inclusive próximo sábado já deve ter uma nova edição novinha em folha. Espero que os jogadores tenham me ouvido. Não posso impedi-los de jogar NERVE, mas posso dar dicas de como sobreviver nas Grandes Finais. Iniciar uma rebelião é um bom começo.

Também consegui convencer meus pais que fui sequestrado. É meio mentira, fui por conta própria, mas no momento que me trancaram quando decidi desistir a história muda. Eles me chamaram de corajoso por todos os desafios perigosos que fiz, mas mesmo assim me deixaram de castigo para o resto da vida — ou pelo menos até entrar na faculdade. Tive que fazer um esforço para convencer eles a ficar com meu emprego no Discos e Livros, depois tive que convencer meu chefe a mudar minha carga horária para manhã, por causa do castigo. Também fiz migué para me darem patins novos, não sou bobo.

No final, sai ganhando. Meus pais finamente acreditaram que eu não tentei me matar quando tomei todos aqueles comprimidos antidepressivos. Foi loucura e desespero. Isso diminui duas vezes a preocupação deles comigo, mas não diminui meu castigo. Apenas me deixam sair pelas manhãs de sábado para um breve passeio na praça, depois direto pra casa. Gosto de ficar em casa, de qualquer forma. Meus pais me compraram um violão numa venda de garagens no final da rua. Com ele, aperfeiçoo minhas técnicas em música antes de entrar na minha faculdade desejada. Ainda vou precisar entregar bastante coisa no meu emprego.

Caminho até o meu Monza vermelho parado na frente da garagem. O dia está ensolarado, o clima caloroso. Foi um ótimo combo vestir bermuda e camisa. Estou sendo básico? Não importa, já deixei claro que fama não é para mim. Não agora.

Aaliyah sai correndo e entra na porta do passageiro. Nem lembrava que prometi a ela uma carona para a casa da amiga dela. Fica no caminho, de qualquer forma. Depois de cinco minutos, paro no meio fio de um condomínio e minha irmã bate a porta do carro, marchando na direção de algumas garotas de sua idade que estavam curtindo o sol na escada do prédio. Adeptos da vitamina D?

Dirijo pelos subúrbios de Seattle e estaciono na praça, onde um surrado Ford Del Rey chama minha atenção. Caminho pela praça até onde um homem usando óculos escuro me esperava sentado em um banco. Ele estende o braço e eu aperto, com intenção de o ajudar a levantar, mas ele me puxa, me fazendo cair no seu colo, depois me beija na boca sob a sombra de uma árvore. Ouvi barulho de foto?

Amo seus beijos calorosos, mas repreendo-o em seguida.

— Nick!

Escorrego do seu colo e me aninho ao seu lado, com seu braço envolto dos meus ombros. Ele fica engraçado com esses óculos escuros. Nick está usando um calção preto fininho, mostrando panturrilhas saradas e uma regata branca que realçam seus bíceps definidos. Ah, vou passar mal.

NerveOnde histórias criam vida. Descubra agora