Capitulo 9

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Micael


Quando Íris conseguiu controlar suas emoções a levei de volta para o campus, as pessoas não podiam notar sua ausência e nem perceber que estava comigo. Durante a volta seus olhos eram fixos na janela e nenhuma palavra saía de sua boca e eu achava que era melhor assim. Liguei o rádio para descontrair o ambiente, eu só queria que as imagens desse dia fossem apagadas das nossas mentes.

― Alô - atendi o celular, já era a 5º chamada perdida de Jason.

― Aonde você esta?

― Estou chegando no campus, tive que resolver alguns problemas e acabei encontrando uma das alunas fora do internato.

― Está com a Íris né? - a voz de Jason parecia estranha.

― Sim, tenho que desligar agora...

Coloquei o celular no bolso novamente, não sabia que desculpa eu iria usar, mas sabia que a verdade não podia ser dita. Íris agora mantinha seus olhos em mim e eu não sabia o que iria falar para convencer o Jason não dar um sermão para ela.

― Não precisa se preocupar, eu digo que tentei ir para rodoviária. Ele sabe que ainda não me acostumei com esse lugar. Acho que posso convencê-lo. - a voz de Íris era calma, serena e cheia de certezas.

― Tudo bem, mas eu também terei que falar com ele...

Chegamos ao campus e Jason estava ao lado de fora, Íris desceu rápido do carro e foi até ele sem hesitar, a silhueta dos dois sumiram para dentro do campus. Aproveitei os últimos minutos que teria ali sozinho para repensar em tudo, ascendi um cigarro e tentei respirar pela primeira vez, tentei relaxar o corpo, o que eu mais queria era que a dopamina começasse seus efeitos no meu corpo. Eu temia tanto as coisas que viriam a seguir que eu não sabia o que fazer, se eu pudesse eu fugiria disso tudo, mas eu sentia que se fosse para longe algo sempre iria me trazer de volta para essa garota. Joguei o cigarro no chão e me dirigi para dentro do campus, era a minha vez de passar pelo interrogatório. Quando estava perto do corredor da sala de Jason, vi Íris saindo, ela passou por mim, nossos olhares se cruzaram por segundos, mas sabia que estava tudo bem. - Me dirigir para dentro da sala, Jason estava em pé praticamente com o corpo debruçado na mesa.

― Sinto muito pela ausência... Tive outras dores estranhas e fui ao hospital.

― Minha preocupação não é com você no momento. Não sei mais o que fazer para essa garota se acostumar com esse lugar, ela quase não fala com ninguém, só a vejo tranquila perto de Travis. Você acredita que ela tinha ido para a rodoviária? Se ela consegue ir embora daqui, provavelmente estaríamos ferrados. - Jason respirava fundo e passava as mãos pelo cabelo o tempo todo. ― Como foi que você a encontrou?

― Estava passando perto do centro e a vi meio perdida, foi difícil convence-la de voltar. Ela ainda é muito apegada a New Orleans, querendo ou não ela tinha uma família, ela é diferente de muitos aqui.

― Ela disse que você tem a ajudado, que vocês costumam conversar. - Um riso saiu sem querer, Íris sabia mentir, porque se tem uma coisa que não fazíamos muito era conversar.

― Eu tento conversar, acho que aos poucos ela vai se acostumar. Em breve ela já vai ser maior e ter autonomia, é só esse primeiro processo que é difícil.

― Mas e você? - perguntou Jason, puxando uma garrafa de uísque de seu armário.

― Ah seu pilantra, então é aqui que você esconde o ouro. Bom saber... - indaguei e Jason riu.

― Às vezes isso é tudo que um diretor de internato precisa. Somos péssimos nisso, alias.

― Não somos. Você não é. Os alunos aqui o respeitam muito, você deixa seus pais orgulhosos.

― Não conseguiria sem você, meu grande amigo. - disse Jason servindo dois copos com uísque e gelo para nós.

Eu queria contar para Jason na assombração que a minha vida tinha virado, queria dizer a ele que a garota que ele acabou de conversar tem possíveis asas e que um apocalipse pode acontecer a qualquer momento. Eu queria poder desabafar, gritar meus maiores medos, afinal, ele sempre soube dos meus medos, sempre esteve ao meu lado. Mas, nessa fase da minha vida eu não poderia contar muito com isso, teria que mantê-lo fora desse jogada. Bebemos um pouco, talvez muito. Já tínhamos esquecidos dos problemas e agora decidíamos como iriamos passar o feriado de final de ano, o que iriamos fazer com os alunos que ficaram no campus.

― Não são muitos alunos que ficaram, acho que dá para montar uma ceia de natal sem gastar muito. E na noite de ano novo podíamos deixa-los livre pela cidade.

― Você só pode estar louco né Micah? Deixar eles soltos pela cidade?

― Não, eles também tem que sair um pouco daqui, deixa que eu consigo convencer eles de voltarem para o campus. O centro aqui no ano novo é muito bonito, tem musica ao vivo, contagem regressiva da entrada do novo ano. Vamos fazer algo diferente por eles.

― Se você acha que isso é uma boa, você vai ser o responsável por isso. - Jason se levantou, guardou a garrafa de uísque que agora estava na metade. ― Eu já vou ir para casa, você quer uma carona?

― Não, acho que vou ficar essa noite no campus. Acho que fiquei fraco para uísque. - Nós dois rimos, me despedi de Jason e o vi trancando algumas portas do campus e indo embora.

Segui para o quarto que eu tinha aqui no campus, fazia tempo que não dormia por aqui. Mas, hoje seria um bom momento para fazer isso, ficar mais perto de Íris caso algo acontecesse novamente, mesmo tento uma conversa descontraída e normal com Jason alguns minutos atrás, meus pensamentos ainda se voltavam para Íris e como ela estava lidando com todas essas coisas. Tirei minha camiseta e deitei na cama, hoje a marca que tinha no peito ardia mais do que o normal, acho que não tinha reparado no como eu fiquei perto do perigo. Começava a sentir o feito do uísque, minhas pálpebras iam se fechando lentamente, então pude lembrar de uma oração que minha mãe fazia comigo antes de eu dormir, Pai Nosso. Eu não lembrava direito às palavras, nem a ordem, mas me forcei a orar, afinal, se eu estava do lado dos bonzinhos, eles teriam que nos ajudar.


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