Prólogo - Cold Outside

463 14 0
  • Dedicado a Beatriz Garbin Caramelo
                                    

Era uma madrugada fria de dezembro quando Clarity deixou sua pequena filha de alguns meses de vida na porta do orfanato em Nova Orleans. Era muito doloroso para Isabel deixar sua filha naquele local, ainda mais em uma noite tão fria como aquela. E o coração de Clarity estava frio, vazio, ou pelo menos ela deveria ser daquele jeito, fria e vazia para conseguir fazer aquilo. Ela colocou sua pequenina em um cesto e o deixou na porta do orfanato Grace and Light, o orfanato mais conhecido da cidade. Clarity olhava atentamente para sua filha que se mantinha quieta dentro daquele cesto, com os olhos vidrados na mãe. Aqueles grandes olhos azuis, de um azul tão belo e tão claro que sua cor se aproximava quase do branco. Uma lágrima escorreu dos olhos de Clarity, ela gostaria de passar o resto de sua vida com sua pequena, mas a vida não a deixava outras escolhas a não ser essa, de abandonar sua filha. Clarity temia que o mal que a perseguia desde que ela renegou algumas coisas, viesse de encontro com sua filha, e ela sabia que esse mal viria. Ela já podia sentir. Clarity respirou fundo, estava na hora de partir, se ficasse mais tempo ali era capaz de alguém nota-la. Ela depositou um doce e quente beijo na cabeça de sua filha, tentou eternizar aquele momento, então se afastou do cesto. Clarity tocou repetidas vezes à campainha do orfanato, correu parar atrás de um muro, tentando se esconder da vista de qualquer pessoa que passasse por aquela rua, mas principalmente de qualquer pessoa que abrisse a porta daquele orfanato. Ela esperou, naquele momento voltou a rezar, coisa que ela já não fazia mais, que pensava que jamais voltaria sentir um fio de esperança. Ela colocando o resto de sua fé em qualquer pessoa que abrisse a porta do orfanato e que pudesse cuidar de sua filha. Quando Clarity voltou de seu transe, de suas preces. Ela viu uma freira envolta em um roupão abrindo a porta. Com olhos suspeitos a freira demorou a notar o cesto que se encontrava ao lado da porta. Clarity mantinha os olhos na freira, torcia para que ela olhasse para o cesto, que o pegasse. Ela pôde notar o brilho nos olhos da freira, quando essa se deparou com o cesto.


 - Olha o que temos aqui. - Clarity ouviu a freira dizer.


- Não acredito que alguém possa ter deixado uma coisa tão pequenina e bela abandonada nesse frio. - Aquelas palavras da freira atingiram Clarity como um soco no estomago.


       A freira tomou o bebê em seus braços, a criança se mantinha quieta, inocente de qualquer coisa.


- Vamos, vou leva-la para um lugar mais quente. Vamos cuidar de você mocinha. - As portas do orfanato se fecharam.


 Naquele momento, Clarity se permitiu desabar. Não conseguia conter as lágrimas que saiam incontroláveis de seus olhos. Mal havia dado à luz a maior dádiva que a vida podia conceder a ela, e agora estava abandonando a única coisa que poderia dar sentido em sua vida, aquela vida medíocre que levava. Clarity sabia que isso era consequência de suas escolhas no passado. Da escolha de renegar o Céu para vir a Terra para se entregar a um amor humano e carnal. Consequência que ela não teria como mudar. Clarity se pôs em pé, secou suas lágrimas. Ela não teria como fugir do passado, um passado de que ela não se arrependia, por mais doloroso que foi. Ela sabia o que aconteceria quando fez essa escolha, e agora ela iria arcar com ela. Temeria o amanhã, enfrentaria tudo, iria se manter forte pela proteção de sua filha. O mal que a perseguia não poderia alcançar sua preciosa, ela daria sua vida para proteger sua filha. Essa era a sua promessa, e ela seria comprida.


Quando Clarity deu as costas para o orfanato, sabia que ali seria o final de uma linha e o começo de outra totalmente perigosa. Não teria mais notícias de sua filha, não saberia se ela cresceria bem, saudável. Ela só torcia para que tudo ficasse bem. Então Clarity correu por dentre aquela noite fria e escura de dezembro, sem saber para onde ir, ou o que aconteceria depois.

The Call of DestinyOnde histórias criam vida. Descubra agora