Já era terça-feira, quatro dias para a véspera de natal. Já conseguia ouvir os ecos de "e os namoradinhos?!" "É pavê ou 'pacume'?", "Como você cresceu". O que não era muito verdade porque Marriah tinha o seu um metro e sessenta e sete há um bom tempo.
A sua família tinha cansado um pouco da tradição, então resolveram incluir junto com o arroz com uvas passas - que depois Marriah descobriu que chamava arroz à grega - e o pernil de natal um risoto de quatro queijos e uns docinhos do tipo cupcakes ou brownies.
Ela todo ano passava o natal na casa de sua bisavó paterna, mas esse ano passaria com a família de sua mãe. Os familiares iriam até a sua casa, o que não era uma coisa muito imaginável na cabeça dela.
Dona Luísa tinha ido até o supermercado para fazer as compras para o grande dia. Enquanto isso Marriah fazia o que mais gostava de fazer: assistir o MTVhits. Às vezes se empolgava demais e usava o controle como microfone, e foi o que aconteceu quando começou a tocar John Legend entre tantas músicas natalinas.
Resolveu ir ao shopping pois ao contrário de outras meninas de 15 anos, não via problema em ir ao shopping sem amigas ou namorado.
Comprou algumas coisas para fazer o presente de sua mãe, assistiu um filme bem cliché sobre animais fantásticos e resolveu tomar um lanche.
Foi até o Starbucks e percebeu que inclusive lá estava com uma decoração temática e que lá realmente parecia o natal que imaginava. Porém, aparentemente estava viajando um pouco quando percebeu que o atendente estava praticamente pulando em sua frente para que acordasse.
- Oi - disse balançando a cabeça para acordar - me desculpe.
- Imagina, qual será o seu pedido? - Marriah não sabia ao certo se prestava atenção no atendente com o maxilar marcado e cabelos na altura dos ombros ou no seu pedido.
- Uhm, um gingerman - só porque queria combinar com o clima de natal norte americano que tinha o estabelecimento - e um frapuccino de chocolate branco.
- Boas escolhas, qual o seu nome?
- Ah sim, eu me chamo Marriah.
- Ok, nome legal - disse pegando a caneta e escrevendo em seu copo, mas a menina achou que estava em dúvida na escrita quando o garoto olhou para frente e arqueou uma das sobrancelhas.
- É com dois R's e com H no final.
- Não será preciso - a garota estranhou mas deixou quieto.
Estava ao lado do balcão vendo as canecas, copos e Mason jars com a logo do café quando ouviu a voz rouca do atendente lhe chamando.
- Este é seu e, feliz natal! - disse dando um sorriso.
- Muito obrigada, Lucas?!- chutou pelo nome que tinha em seu avental - tenha um bom natal.
- Com certeza terei - o ouviu falando baixo.
Foi comendo o biscoito de gengibre e tomando o frapuccino gelado - que mais parecia um milk shake - ao longo do caminho. E só então dentro do uber decidiu ver se o garoto tinha escrito o seu nome corretamente.
E lá estava, no meio da decoração de desenhos de flocos de neve o escrito: "Um feliz natal pra menina mais bonita que verei hoje".
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O Natal (inesperado) De Marriah - Conto
Short Story"Sorte é uma palavra que não existe no vocabulário de Marriah. Mas sorte não existe, o que existe é a força do destino tentando fazer algo acontecer. Você só tem que aceitar e deixá-la te guiar." O natal de Marriah perdeu a graça quando se deu conta...