– Certo – murmurou depois de um tempo. – Deixa eu ver se entendi direito. Você paga um serviço de filmes na internet, usando um cartão, mas na verdade não precisa do cartão, porque seu banco, – e a cada nova frase ele franzia um pouquinho mais o cenho para o notebook sobre a mesinha de centro, dividindo sua intenção entre ultrajado e completamente descrente, – que você também não precisa informar diretamente sobre a operação, transfere um dinheiro que você nunca chegou a ver, direto para essa empresa.
Sabia que aquele decididamente não era o momento para pensar em como Steve Rogers ficava ainda mais adorável quando estava frustrado pela confusão que sentia. Não devia pensar que era fofa a maneira como mordia o lábio inferior ao reanalisar o próprio raciocínio ou como ele, mesmo em sua paciência infinita, chegava a um momento de frustração e passava a mão por seu cabelo. Também sabia que minha paixonite pelo homem mais adorado da América era bastante infrutífera. Por isso, então, sacudi aqueles pensamentos para fora de minha cabeça e me concentrei em responder sua pergunta:
– Sei que parece bem abstrato, mas você resumiu de maneira muito eficiente, Capitão.
Voltou o olhar para o Stark Phone em suas mãos. Nós estávamos há mais de uma hora tentando repassar o básico de um smartphone, mas, a cada passo que avançávamos, eram dois para trás. Steve só se lembrava do que acabávamos de revisar, abandonando os comandos imediatamente anteriores. Levei vários minutos para entender como o homem que liderava o exército mais poderoso da Terra não pegava o que uma criança sabia fazer. Porém, supunha que deveria ter adivinhado muito antes. Capitão Rogers era, de fato... um capitão. Ele não conseguia seguir ordens cegamente, precisava entender o que acontecia. Os "por quês" eram imprescindíveis. Mesmo nessa abordagem, entretanto, estávamos tendo alguns problemas.
– Ah! E você também não precisa do cartão, porque pode usar direto seu celular para isso também – soltou o ar pesadamente e colocou o celular de lado.
Sentindo-me mais impotente do que em muito tempo, virei de lado, apoiando a perna dobrada sobre o sofá e ficando perpendicular a este. Tomei alguns segundos para apreciar seu rosto perfeito e depois mais alguns momentos me lembrando de que não podia consolá-lo porque não tínhamos intimidade o suficiente para isso – e porque certamente morreria de vergonha quando ele me rejeitasse, ainda que do jeito mais educado possível. Assim, engoli as palavras reconfortantes e, ao invés, disse:
– Está tudo bem, Capitão. Tudo bem. Vamos fazer uma pausa – com um sorriso triste, levantei do sofá, um plano se formando em minha cabeça.
Mal tinha colocado o pé no chão para o primeiro passo quando senti seus dedos ao redor de meu pulso, tão eficiente quanto uma corrente de ferro. Franzindo o cenho, levantei o olhar de sua mão até seus olhos azuis. Tão azuis. E de repente tão... desesperados.
– Capitão? – voltei a me sentar. – O que aconteceu?
– Me desculpe, Mia – seu tom estava até um pouco mais rouco. – Sei que estou sendo absolutamente insuportável, mas é que isso... tudo isso... – olhou para os lados com aquela expressão perdida de novo – é tão... – engoliu em seco e desviou o olhar do meu, não encontrando as palavras.
– Hey, hey – abaixei um pouco para que meu olhar ficasse no mesmo nível que o seu. – Eu só estava indo buscar pipoca. Pensei em fazermos uma pausa.
Quando a tensão abandonou seus ombros, voltei a me endireitar.
– Ver na prática como o Netflix funciona. Afinal, estamos no lugar perfeito para isso. Volto logo.
Saindo da sofisticada sala de cinema de Stark, caminhei até a cozinha do andar e peguei vários pacotes de pipoca do armário, colocando no micro-ondas três deles e, aproveitando o tempo em que estouravam, abri a geladeira para escolher duas cervejas. Afinal, Steve estava precisando de um agrado extra. Ponderando que não conseguiria carregar duas tigelas diferentes, escolhi a maior que encontrei para despejar toda pipoca.

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Freezing Fire
Short StorySteve Rogers precisava aprender a viver no século XXI e Mia Voight precisava aprender a ficar de boca fechada. Era basicamente assim que eles haviam chegado naquela situação: a cientista havia se tornado uma espécie de guia para o Capitão no admiráv...