08. Snowy

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- Eles estão aprontando alguma coisa.

Pulei de susto e a chave de fenda em minha mão escorregou um pouco e quase atingiu o sistema de fiação que tinha passado dias para organizar de um jeito que funcionasse como Tony queria. Por sorte, não bambeei no banco alto em que estava sentado.

- Dahra! - grunhi, afastando a ferramenta do protótipo para um lugar seguro - Quantas vezes tenho que lhe dizer para não chegar de fininho quando eu estiver no laboratório?

Aliás, eu até hoje não sabia como ela tinha conseguido convencer Stark a lhe dar acesso àquele andar. Acho que mesmo alguns dos Avengers não tinha aquele tipo de permissão.

- Eu não cheguei de fininho. - balançou a mão em sinal de descaso - Essas botas Chanel - apontou para as maravilhosas botas pretas de cano alto que chegavam até o meio de suas coxas, onde a barra de seu vestido preto de manga comprida chegava - fazem cliques que podem ser ouvidos a metros de distância. Além disso, eu te chamei duas vezes. Você que fica tão concentradas nessas engenhocas super importantes para o desenvolvimento mundial que esquece o mundo aqui fora.

- Tanto faz, Lis. - revirei os olhos. - Tem algum motivo em particular para você quase me matar do coração ou está fazendo isso só para testar o resultado, como Tony tem feito ultimamente?

- Stark é um merdinha às vezes. - comentou, mas estava sorrindo divertida.

- Só às vezes? - também sorria.

Apesar dos pesares, não tinha como não amar Tony Stark.

- Mas você não veio aqui para falar sobre o comportamento de Stark, não é mesmo?

Aquilo apagou o sorriso de seu rosto e o brilho decidido voltou aos seus olhos.

Oh-ow.

Conhecia bem aquele olhar. Era o sinal que eu tinha antes de Dahra nos meter em alguma encrenca. Parecia ser o Universo tentando me avisar para que eu corresse para longe enquanto ainda era tempo, mas em vinte e tantos anos de amizade nunca tinha aproveitado esse favor cósmico. Em outras palavras, Dahra Lisbon sempre me convencia a embarcar nas enrascadas que pretendia encarar.

Felizmente, entretanto, o poder de retórica Lisbon sempre conseguia nos livrar das consequências grandes. Não que isso fosse de grande consolo quando estávamos ouvindo um longo sermão de papai.

- O que vim dizer é que eles estão aprontando alguma coisa.

- O quê? Quem?

- Barnes e Rogers, é claro! Aqueles dois idiotas estão aprontando alguma coisa. - passou a andar de um lado para o outro, a mão no queixo enquanto ponderava.

- Dahra, do que você está falando? - tirei o óculos de grau que usava e o coloquei no balcão ao meu lado, usando o polegar e o indicador para massagear a ponte do nariz.

- James tem agido de maneira estranha nesses últimos dias, meio evasivo.

- Lis - comecei da maneira mais delicada possível - você sabe que Bucky tem o comportamento mais fechado, certo?

- Não desse jeito! - parou de andar para me encarar, torcendo os lábios em desagrado, mas logo estava zanzando de um lado para o outro novamente - É como se ele estivesse me escondendo algo, e Bucky nunca me esconde algo. Além disso, Steve também não está em seu normal. Os dois ficam cochichando pelos cantos, sempre encarando o relógio ou o calendário estúpido de papel que penduraram na parede da cozinha. Isso tudo sem contar as vezes em que eles somem no meio do dia e voltam com alguma desculpa esfarrapada sobre estarem treinando.

- Como você sabe que é uma desculpa? Talvez eles estivessem realmente treinando.

Minha melhor amiga me lançou um olhar incrédulo e depois soltou uma risadinha debochada.

Freezing FireOnde histórias criam vida. Descubra agora