Depois da tarde na sorveteria, parecia que uma barreira havia sido levantada entre nós dois. Não estávamos mais presos à convenção silenciosa de que nossa interação se limitava às reuniões tecnológicas ou a esbarrões rápidos nos corredores. Ao invés disso, tínhamos pequenas conversas diárias sobre amenidades.
Na quarta-feira, me encontrei um tanto quanto ansiosa, enrolada em uma toalha depois do banho, enquanto procurava uma roupa para usar na sessão de cinema que começaria dali a pouco. Finalmente consegui decidir por uma calça de moletom e uma blusa preta qualquer, pois tinha bastante ciência de que estava atrasada. Não tenho muito orgulho de dizer que cheguei à sala de cinema ofegante, descabelada e de pantufas de coelho — que, aproveito para pontuar, só naquele momento percebi que calçava.
— Oi, boa noite. Desculpe a demora — passei pela porta já murmurando as desculpas. — Eu perdi a hora no laboratório e acab-
Parei de falar abruptamente ao encontrar um par de olhos azuis me encarando divertidos.
— Olá.
— Sargento Barnes — engoli em seco.
— É um prazer conhecê-la pessoalmente, Mia.
— Pessoalmente?
Alguma coisa passou rápido por seus olhos, mas logo um sorriso apareceu junto com a resposta:
— Ah, sim. Dahra fala bastante de você.
— Oh.
Um tanto quanto sem graça sob seu olhar atento, passei a mão sobre a calça e mudei o peso de um pé para o outro.
— Steve disse que eu poderia vir hoje.
Ainda em silêncio, ainda com aquele olhar divertido e ainda com um sorriso fechado, ele assentiu.
— E onde ele está? — perguntei depois de alguns segundos em silêncio e de passar os olhos pela sala.
— Foi buscar pipoca.
— Hmm... Entendi.
Sabia que ele não estava propositalmente tentando me deixar sem graça, mas o jeito como ele me olhava, como se eu fosse transparente e ele pudesse ver por qualquer segredo ou mentira que eu tentasse manter, era bem intimidante. Felizmente não demorou muito mais para Steve voltar.
— Mia!
Virei-me bem a tempo de ver minha melhor amiga passar pela porta depois de Rogers, assim como ele, também carregava dois baldes enormes de pipoca.
— Hey, olá. — Levantei a mão e, ainda acanhada, acenei para ele como uma boba.
— Oi, amiga. — Lis se aproximou. — Também fui convidada. Espero que não se importe. Não tão bem vestida, — franziu o cenho, encarando um ponto abaixo de meu pescoço, — mas também animada.
Confusa, também abaixei a vista. Meu cérebro, sempre tão rápido, se recusou a compreender de imediato o que encarava, mas mesmo o mecanismo de autodefesa não foi suficiente para impedir que, depois de alguns momentos, me desse conta que minha camiseta tinha a estampa do escudo do Capitão América. Minhas bochechas queimaram como nunca antes.
Não tinha vergonha de minha blusa — ou de todas as outras que tinha com merchan do Capitão América. O problema é que não era minha ideia desfilar na frente de Steve com elas.
Engoli em seco.
— Eu gostei também. — Steve ofereceu, sorrindo sincero.
Isso aliviou um pouco meu constrangimento, mas ainda preferia não me alongar naquele assunto, então tentei pegar um dos potes da mão de minha melhor amiga, mas ela foi rápida em tirá-los do meu alcance.

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Freezing Fire
Short StorySteve Rogers precisava aprender a viver no século XXI e Mia Voight precisava aprender a ficar de boca fechada. Era basicamente assim que eles haviam chegado naquela situação: a cientista havia se tornado uma espécie de guia para o Capitão no admiráv...