3. He left and i stay

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Uma hora e meia já se tinha passado e a livraria fechava em menos de meia hora. Estava impaciente. Perguntava á minha mãe de cinco em cinco minutos onde é que ele estava, porque é que nunca mais chegava ou até mesmo se já não vinha. A minha mãe conseguia descansar-me sempre mas não tanto como na última hora e meia. Eu ainda estava com esperanças que ele viesse e quando a livraria tinha que fechar eu comecei a chorar, a espernear e a dizer que eu não queria sair dali porque ele ia aparecer, que ia chegar e eu não estava lá, mas isso nunca aconteceu. Ele nunca chegou. A minha mãe conseguiu pôr-me no carro com muita chantagem e mal entrei no carro, quando vi a minha mochila lembrei-me do presente que a Anne me tinha dado no início do dia. Peguei rapidamente na mochila assustando a minha mãe que me olhou rapidamente assustada.

"Mãe, a mochila! Dá-me a minha mochila por favor mãe." Pedi-lhe ainda com lagrimas nos olhos e a fungar. A minha mãe fez o que eu pedi e deu-me a mochila. Abri-a rapidamente e procurei a caixa. Encontrei-a no fundo da mochila com os cantos um pouco estragados. "Olha mãe, a prenda que a Anne e o Harry me deram, a Anne pediu para eu só abrir contigo e agora tu estás comigo por isso eu posso abrir." A minha mãe assentiu com a cabeça fingindo-se de entusiasmada. Sim fingindo porque ela muito provavelmente estava com uma raiva enorme de mim por ter feito aquela birra toda.

Um sorriso apareceu na minha cara quando abri a pequena caixa cor-de-rosa. Lá dentro estava um fio de metal com um medalhão cinzento, um cartão e um saquinho com gomas. Na altura não liguei muito ao fio nem ao cartão, apenas liguei as gomas. A minha mãe pediu-me o cartão para ler e o medalhão.

A minha mãe leu o cartão e ficou com um ar um pouco triste.

"O que diz mãe? O que diz?" Perguntei entusiasmada.

"Diz: Gostamos muito de ti Sophie, espero que tenhas um dia de anos fantástico, beijinhos. E depois tem a assinatura do Harry e da mãe dele." Ela aldrabou quando me leu mas eu na altura não notei pois mal sabia ler. Tirei-lhe o cartão das mãos com um sorriso enorme na minha cara e comecei aos pulinhos na minha cadeira. "O medalhão é lindo Sophie, não achas?"

"Sim, sim é muito giro." Disse despachando-a. Quando era pequena nunca achei piada ao medalhão. A minha mãe deu-me tudo para a mão e pediu-me para guardar tudo de volta na caixa. Tudo menos as gomas pois eu já as tinha comido.

Quando cheguei a casa corri para o meu quarto sem passar pelo meu pai e pus a caixinha em cima do meu armário. Fiquei montes de tempo a arranjar um sítio para a por que eu nunca me esquecesse, que eu visse todos os dias de manhã e que me lembre sempre do que é. Depois disso desci para ir jantar e cumprimentar o meu pai. Contei tudo ao meu pai e ele ficou muito feliz com o presente. Mal acabei de jantar subi logo para o meu quarto para ir dormir rapidamente porque queria que o dia de amanha chegasse rápido. Queria falar com o Harry. Queria perguntar-lhe porque não foi á livraria no dia anterior.

O dia seguinte chegou e eu estava de novo sentada nas grandes escadas no portão da minha escola á espera do Harry e da Anne. Esperei sempre sem tirar os olhos do portão, sempre a olhar para dentro de todos os carros que passavam e nada. Ele não chegava. Esperei o máximo de tempo que pude até tocar. Quando tocou ele ainda não tinha aparecido e eu queria ficar ali á espera que ele entrasse sorridente por aquele portão mas as mulheres que eu odiava a que chamam de auxiliares não me deixaram e ameaçaram-me de ligarem á minha mãe. Eu subi para a minha sala e pensei que o Harry se tivesse atrasado ou adormecido, toda a gente se atrasa as vezes. Mas quando tocou para o intervalo eu comecei a chorar. A minha professora que por acaso era uma mulher muito simpática e de quem eu gostava muito veio ter comigo e levou-me para a sala de professores com ela. Sentou-me naquelas cadeiras todas com almofadas que costuma haver para os professores e pediu a uma auxiliar para me fazer um chá. Sentou-se ao meu lado e pediu para eu me acalmar. Simplesmente não me conseguia acalmar, eu queria ver o Harry, queria brincar com ele às nossas brincadeiras idiotas mas ninguém entendia isso.

"O Harry não vem." Disse ainda a chorar para a minha professora.

"Ele deve estar doente, não te preocupes com isso Sophie, ele está bem, vais ver." Ela sorriu-me e a auxiliar trouxe-me o chá. "Bebe o chá e quando chegar podes ficar aqui um pouquinho até te acalmares mas depois sobe pode ser?" Assenti e comecei a beber o meu chá.

Já estava mais calma, já não chorava mas ainda fungava. Apliquei o truque que a Anne me tinha ensinado de respirar calmamente e contar até três e eles desapareceram. Acabei de beber o meu chá e mal tocou eu subi para a minha sala. Eu sabia que podia faltar um pouco e se eu fosse outra pessoa qualquer tinha aproveitado o tempo todo possível, mas eu não era outra pessoa qualquer. Eu era estudiosa e odiava chegar atrasada as aulas, tal como o Harry. Eramos sempre os primeiros a chegar á sala de aula quando tocava, fazíamos sempre os trabalhos de casa e respondíamos sempre á professora quando ela perguntava alguma coisa. Sempre fui assim em pequena e continuo-o a ser. A professora sorriu-me e eu fui sentar-me no meu lugar. Ela deu-nos o trabalho para fazermos e enquanto todos os meus colegas que eu não gostava estavam entretidos a professora veio ter ao meu lugar e abaixou-se ao meu lado.

"Estás melhor Sophie?" Ela disse mexendo a sua mão para cima e para baixo nas minhas costas.

"Sim, estou. Obrigada." Ela apenas me sorriu e voltou-se a sentar na sua secretária.

Tentei o resto do dia não pensar no Harry e fui brincar com as raparigas da minha turma que me pareceram mais simpáticas na altura. Quando a minha mãe me foi buscar eu contei-lhe que o Harry não tinha ido e ela descansou-me dizendo o mesmo que a minha professora. Que ele estava doente.

Os seguintes dias foram como réplicas deste. Ele não vinha, eu chorava cada vez menos todas as manhãs e a minha professora acalmava-me dizendo que a mãe dele lhe tinha ligado a dizer que ele estava mesmo doente e que vinha na próxima semana, obviamente mentido e com a esperança que eu me esquecesse. Eu na altura não percebi isso e como ela esperava eu esqueci-me. Esqueci-me do rapaz de caracóis que brincava comigo todos os dias. O meu único amigo na escola e na livraria. Também mudei um pouco a minha rotina. Deixei de ir todas as tardes á livraria da minha mãe, passei a brincar com as raparigas da minha turma e do dia para a noite a pequena caixa rosa que costumava estar em cima do meu armário desapareceu. Obra da minha mãe é claro mas eu nem liguei.

Nunca mais vi o rapaz dos caracóis e de olhos verdes.

A partir de agora vai ser a Sophie no presente. 
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Beijinhoos 
-Mariiana_1d

the boy of library // h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora