Arrasto o meu corpo por entre os corredores do hospital até ao quarto onde me disseram estar a minha mãe e o meu falecido pai.
As lagrimas pararam mas eu sinto-me a morrer. Sinto-me como se já não houvesse motivos para viver, as pálpebras pesam-me e os meus pensamentos estavam vazios, totalmente vazios. Não consigo pensar em nada. Vou sempre com o olhar fixo no horizonte, sempre sem olhar para as pessoas que me olhavam com pena. Odeio que tenham pena de mim. Não preciso que tenham pena de mim.
Os meus olhos doem-me e descobri a pouco no reflexo do comboio que estão vermelhos.
Já aceitei a morte do meu pai, fi-lo no comboio. Toda a gente morre e eu já me devia ter preparado para isso, afinal ele estava muito doente e já não era novo.
Finalmente cheguei ao quarto e bati a porta. A minha tia abriu-me a porta e abraçou-me fortemente tal como eu gostava que Harry me tivesse abraçado.
Entrei no quarto e a minha mãe encontrava-se sentada numa cadeira a beira da cama onde um homem pálido se encontrava, onde o meu pai se encontrava. Ela chorava, chorava desalmadamente. A minha mãe ama o meu pai como nunca vi ninguém amar alguém.
Ela levantou-se e abracei-a fortemente com lagrimas a caírem-me dos olhos. Ela estava de rastos, ela mal conseguia falar. Umas olheiras gigantes encontravam-se por baixo dos seus belos olhos azuis e possuía um aspeto cansado.
Puxei uma cadeira e sentei-me ao lado dela a olhar para o homem da minha vida, o meu progenitor, o homem que me criou, o homem que trabalhou arduamente para que não me faltasse nada, o meu pai.
Ficamos assim, ambas a olhar para o meu pai, bastante tempo ate uma enfermeira entrar no quarto.
"Senhora, o corpo tem que ser levado daqui. Para que cemitério quer que o transportem?" Percebi que a pobre rapariga estava a tentar ser o mais simpática que conseguia de modo a não ferir mais os nossos sentimentos.
"Eu...eu não sei, deixei-me falar com a minha filha e já lhe dizemos." A minha mãe disse com lagrimas continuas a escorrerem-lhe dos olhos.
A enfermeira assentiu e saiu do quarto pedindo com licença.
Não sei o que me custa mais, se ver o meu pai assim ou a minha mãe a chorar e sem forcas para nada.
"O teu pai um dia disse-me que quando morresse gostaria de ser queimado e deitado ao mar." A minha mãe soluçou. "O teu pai gostava muito do mar, ficava sempre impressionado com a quantidade de seres vivos que lá existiam, com a sua bela cor azulada e com o cheiro a maresia que sentia sempre que se aproxima da costa." Eu sabia disso, o meu pai era um amador do mar. Acredito que ele fosse capaz de passar minutos, horas, dias a olhar para o mar, uma coisa que muitas outras pessoas não eram capaz pois iam achar aborrecido, mas para o meu pai era das coisas mais belas da vida.
"Então só temos que aceitar." Eu disse olhando para a minha mãe enquanto o observava.
"Porque é que isto aconteceu? Porque e que isto foi acontecer agora? Porque filha, porque? O teu pai era tão novo e tão boa pessoa, ele não merece isto." A minha mãe chorava no meu ombro.
"Sempre pensei que eu fosse morrer primeiro que ele, ele sempre foi tão saudável, tão cuidadoso com tudo o que comia, com o que fazia.. Como e que isto foi acontecer?" Eu apenas tentava acalma-la mas era em vão. As lagrimas que eu a pouco tinha conseguido parar voltaram só de ver a minha mãe neste estado.
"Mãe, acalma-te. De certeza que o pai não queria que parasses a tua vida toda por ele. Tens que continuar, seguir em frente. O pai vai estar sempre connosco, sempre contigo." Eu disse enquanto lhe esfregava o topo da cabeça. "Va acalma-te, a vida continua. Podes chorar, podes gritar podes fazer tudo isso mas depois também tens que erguer a cabeça e seguir em frente porque isso não vai trazer nada de volta, alias só te vai fazer pior."