1. Don't get too close, it's dark inside

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Eu só queria saber quem eu sou. Não quero ter que continuar acordando todos os dias com esse vazio no peito. Me sinto sozinho desde o momento que morri. A morte me levou e estou em um lugar que é mil vezes pior que o inferno. Eu estou no vazio. No eco que insiste em me dizer que eu sou o mal, o pior. Numa estrada vazia que não me leva a lugar nenhum. Então eu paro. Respiro fundo e repito à mim mesmo que tudo vai ficar bem. Mas eu sei que não vai. Minhas próprias mentiras não têm mais efeito sob mim. A minha morte é um paradoxo e minha vida não foi nada. E eu só quero saber quem eu sou; e quem eu fui.

Sempre tive esse fascínio absurdo pelo o que não entendo. Deve ser por isso que eu quero saber como morri.
- Então eu literalmente estou morta? - pergunto para Brandon que já tinha me explicado isso pela vigésima vez.
- Todos nós estamos.
Engulo em seco. Era tão simples para ele dizer aquilo mas isso soava como uma contradição para mim, uma incoerência. Se estou morta, onde eu estou? Várias dúvidas vagavam pelos cantos mais profundos da minha mente e eu só conseguia pensar:
- Quem eu sou? - pensei alto demais.
- Às vezes você não precisa ir tão longe para encontrar aquilo que mais procura. - Brandon diz.
Então para onde eu devo ir?, pensei.
- Você deveria perscrutar o palácio.
Me levanto antes que ele pudesse concluir a frase. Ele estava sentado numa cadeira e sob sua coxa tinha um livro. Não consegui ver a capa direito. Saio da maca que, de acordo com Brandon, eu tinha adormecido durante um mês; e saio daquela clínica. Entro num corredor vazio cujo o sol do meio-dia tomara conta. Não estava mais com meu vestido branco, estava com uma roupa inteira preta. Vou andando pelo corredor e me deparo com uma porta entreaberta. Dou um pulo para trás quando o som de tiros começa a reverberar pelo ar. Abro a porta e vejo Kristen. Não sei ao certo qual arma ela usava mas ela atirava em bonecos que aparentavam ser manequins. Ela mirava e atirava na cabeça. Dava para ver a cabeça de plástico deles estourando e os pedaços caindo no chão. Quando ela estourou os miolos de todos, ela olha para mim

 Quando ela estourou os miolos de todos, ela olha para mim

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e mira a arma em minha direção. Ela se aproxima de mim ainda com a arma apontada na minha cabeça.
- Você não deveria estar aqui. - ela diz.
- Eu estava conhecendo...
- Você não deveria estar aqui, nesse palácio. Não deveria estar em lugar algum.
Ela me odeia. Quase matei a amiga dela, deve ser esse o motivo.
- Eu sinto muito... - eu digo.
- Você vai sentir mais se não sair da minha frente.
Ela encosta a arma na minha testa e me empurra para que eu saísse daquela sala. Ela bate à porta, fechando-a. Ela não tinha coração. Nenhum pingo de piedade. Ela era ácida. Eu queria aceitar que eu não era culpada por ter feito aquilo com Sam mas eu ajudei, eu não fiz nada para evitar.
- Não foi sua culpa.
Ergo minha cabeça e vejo Sam. Ela usava um curativo no pescoço e mesmo com a dor ela sorria.
- Você está bem? - eu pergunto.
- Já estive melhor. - ela admite.
- Me desculpa...
- Não se desculpe por algo que não dependia só de você. Eu deveria ter matado ela quando tive chance. - ela diz se apoiando na parede.
- O que você quer dizer com isso? - eu pergunto ficando de frente com ela.
Ela me encara e abre um sorriso malicioso.
- Você se lembra do que eu disse antes de ela fazer... - ela aponta para o pescoço - Isso comigo?
Balanço a cabeça em movimento negativo.
- Há mais de cem anos atrás... - ela começou.
- Cem anos?! - me surpreendi.
- Estamos mortos, não envelhecemos. Apenas o nosso corpo apodrece debaixo da terra. Continuemos... - ela diz - Em uma das reuniões de urgência que a rainha solicitou, Emma e sua família foram assim como todo mundo. Ela estava aprendendo a lidar com seus poderes, já que era uma feiticeira. E ela não gostou muito quando uma irmã dela fez uma piada de mal gosto...
- Quem era a irmã dela?
Ela respirou fundo antes de dizer o nome.
- Stacy.
- Stacy?
- Sim, ela é irmã da Emma. - Sam afirma - Emma matou todos presentes naquela reunião.

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