O retrato do porvir

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A cada encontro

Tantas despedidas

Devíamos despir-se sem prantos

Das fantasias do "poder-se-ia"

Eis o corpo, nada mais.

Em cristo, sem cristo,

Hoje, tanto faz.

Como viver é difícil

Sem querer um "algo mais".


Minha alma presa a um quadro,

é só remorso.

De traço em traço, delineando o torço

Torpe do fracasso.

Aquarela realista,

Retrato de um modelo idealista

Não me bastava querer.

Não me bastava a vida.

Manufaturei o desejo

a não poder mais conquista-lo.


Se a pintura revela o artista,

eis aqui minha carne

a esboçar um pacto fausto com Platão

negociei a vida por uma vã Beleza.

Tomei por eterno o feio.

Me desacostumei a vida

encastoado à sombra do que sonhei.

Envelheço sem mão afável

para me debruçar,

como outrora na infância.

Me sinto, só.


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⏰ Última atualização: Dec 30, 2016 ⏰

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