A cada encontro
Tantas despedidas
Devíamos despir-se sem prantos
Das fantasias do "poder-se-ia"
Eis o corpo, nada mais.
Em cristo, sem cristo,
Hoje, tanto faz.
Como viver é difícil
Sem querer um "algo mais".
Minha alma presa a um quadro,
é só remorso.
De traço em traço, delineando o torço
Torpe do fracasso.
Aquarela realista,
Retrato de um modelo idealista
Não me bastava querer.
Não me bastava a vida.
Manufaturei o desejo
a não poder mais conquista-lo.
Se a pintura revela o artista,
eis aqui minha carne
a esboçar um pacto fausto com Platão
negociei a vida por uma vã Beleza.
Tomei por eterno o feio.
Me desacostumei a vida
encastoado à sombra do que sonhei.
Envelheço sem mão afável
para me debruçar,
como outrora na infância.
Me sinto, só.
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Antítese
PoetryRio de mim, ora, poeta... Serão meus versos uma mentira minha ou eu uma mentira de meus versos?