Cap. 19: ADN

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Dois dias depois

*Pov John*
De tudo o que já sofri na minha vida, nada fora tão doloroso como ter de enterrar Merry. No entanto, aqui estou eu, ajoelhado na sua sepultura onde apenas o corpo dela permanece. Se é verdade que todos temos alma, e se o céu existir mesmo, então Mery estará lá neste preciso momento. Mery sempre foi o meu anjo da guarda, a luz que me guiava na escuridão. Agora, o que seria de mim? Eu valeria tanto como uma vela apagada, um pássaro sem céu, uma fonte sem água. Numa palavra: seria inútil. Era assim que me sentia ao chorar sobre aquela sepultura: inútil, incompleto. Para que serve algo incompleto, partido? Para nada. Sou apenas um peso para este mundo, apenas mais um. Os meus objectivos já não interessavam, nada interessava.

-Talvez esteja na hora de saíres daqui.- disse Bryan atrás de mim.

-Não consigo. Não quero abandoná-la.- disse eu chorando ainda mais.

-Tu não estás a abandoná-la.- disse Bryan.

-Estou sim, eu sinto que estou.- disse eu.

-Vá lá. Estás aqui há mais de um dia, desde que ela foi enterrada. Não dormiste, não comeste... Se continuares assim morres.- disse ele.

-Não me importa. Para quê viver?- disse John.

-Hey, então mano?- disse Bryan ajoelhando-se ao meu lado.

-Ela era tão bonita...- disse eu.- Porque é que a vida é tão injusta? Porquê? Primeiro tirou-me a Mary, agora tirou-me a Merry. Estou destinado a ser infeliz para o resto da vida...

-Não digas isso, mano.- disse ele.- Por favor, vem comigo. Tens um clã para governar, não os podes abandonar por isto...

-Por isto?- disse eu.- Por isto? O que tu chamas de "isto" é a melhor coisa que me aconteceu.

-Eu não queria dizer isso.- disse Bryan.

-Mas disseste.- gritei eu.

-Baixa a voz. Eu entendo que estejas a sofrer mas não és o único. Eu também estou a sofrer com isto, aliás, todos estamos. Mas nós temos responsabilidades.- gritou Bryan.

-Eu amava-a...- disse eu.

-Mais um motivo.- gritou Bryan.- Tu pelo menos sabes que ela te ama, estavas com ela. Já eu, eu gosto...- Bryan acalmou-se. -...gostava dela e nem podia estar com ela porque mais uma fez ela preferiu-te a ti. Eu também estou a sofrer, mas eu respeitei o teu espaço e cuidei do teu clã por ti, mas não o vou continuar a fazer. Não posso John, simplesmente não consigo. Eles precisam de ti. Apenas de ti.

-Eu não sabia o que sentias pela Mery.- disse eu.

-Tu sabias. Simplesmente não querias ver. Era mais fácil ignorar.- disse Bryan.

-Tens razão. Eu sabia mas...Acho que bem no fundo tinha ciumes. A maneira como ela falava de ti, como ela olhava para ti.- disse eu.- Tudo isso me fazia inveja, ciúmes.

-Não precisavas de os ter. Ela só tinha olhos para ti. Eu sim invejava-te.- disse ele.- Tu podias estar com ela, dizer-lhe todos os dias o quanto a amavas. Eu não. Tinha simplesmente de olhar para vocês e fingir um sorriso...Tinha de dizer o mesmo que fazia quando te via com a Mary.

-O destino é mesmo cruel. De tantas mulheres que há no mundo, logo nos havíamos de apaixonar pela mesma mulher... duas vezes.- disse eu.

-O destino não é cruel para ti. Dessas duas vezes tu ficaste com as damas, e eu, eu era um simples pião. O destino não foi cruel contigo, foi cruel comigo.

-Tu, pelo menos, não tiveste de enterrar duas vezes a tua amada.

-Aí te enganas. Eu enterrei duas vezes a minha amada... Só que enquanto tu tinhas liberdade para chorar a sua morte, eu tinha de me armar em forte e apoiar-te. Tu choravas a tua amada sem pudor algum e eu chorava-a escondido para ninguém ver. Acredita, John, eu sei o que é sofrer. E é por isso que te peço que vás ver do teu clã. Era isso que a Mery queria...Foi isso que prometeste à Mary.

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