Capítulo 7 - A visita

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Entramos de férias, então eu e Maxon combinamos de fazer uma visita a um lugar que fica mais próximo de onde moramos, aqui mesmo, Cape Reinga, um lugar ao norte da Nova Zelândia, onde o oceano pacífico e o mar da Tasmânia se encontram, são 1.055 quilômetros da capital e dá pra ir de carro. Fomos apenas nós três, Maxon, Olhos azuis e eu.

No carro apenas eu e Maxon conversávamos sobre nossas expectativas do lugar, Olhos azuis permaneceu em silêncio, já não estava mais como ontem, parecia ter voltado para a depressão.

- Meu Deus! Que lugar mais lindo! - Exclamei ao ver tamanha beleza.

- Realmente muito bonito! - Torceu o nariz. - Não acha Olhos azuis?

- Tanto faz!

Franzi as sobrancelhas.

Todos se calaram, como dizer algo diante de tudo que via? Por um instante me perdi em meus pensamentos.

À tarde fizemos um piquenique, eu estava com muita fome, todos estavam meio calados, até eu não estava muito afim de conversar, não fosse o senso de humor de Maxon aquele clima estranho seria pior, ele era o único que puxava assunto, arriscava até uma piadinha de vez em quando.

Já estava escurecendo, aos poucos as pessoas que estavam ali foram indo embora, entramos no carro e Maxon começou a dirigir.

- O que acham de uma aventura? - Disse Maxon empolgado.

- Que tipo de aventura? - Perguntei.

- Não vamos descer pela estrada. - Torceu o nariz. - Vamos descer pelo morro!

- Ah! Não acho que seja lá a melhor da ideias mas...Vamos lá!

- É perigoso! - Revidou Olhos azuis.

- A larga de ser estraga prazeres.

Então pegamos outro caminho, e começamos a descer pelo morro, logo de início comecei a perceber que a estrada era de lama, e a travessia era muito mais difícil, Maxon acelerou e começamos a andar em alta velocidade, cinco minutos depois pudi perceber que estamos afundando na lama a medida que descíamos, o carro foi parando, e então ficamos presos.

- Merda! Ficamos presos. - Disse num tom frustrado.

- Ah que ótimo! Eu avisei! - Olhos azuis estava perdendo a paciência.

- Ah não começa cara! - Passou as mãos pelo rosto. - Vamos pedir ajuda.

- Já está escuro! - Olhei pela janela. - Todos os visitantes já foram embora, a capital fica a 1.055 quilômetros daqui, como vamos pedir ajuda?

- Tem um hotel a 2 quilômetros daqui, podemos ir até lá.

- Não temos dinheiro para hotel. - Comecei a me desesperar. - E fica muito longe para ir de a pé.

- Não vamos ficar lá, vamos ver se conseguimos ajuda pra tirar o carro daqui, dá tempo de chegar lá, são apenas 19:05h da noite, vamos conseguir.

- Você sugere que todos nós andemos 2 quilômetros só pra consertar um erro seu? Você deveria ir sozinho afinal...Você é o culpado! Eu vou esperar aqui. - Entrometeu Olhos azuis.

- O quê? Cara você pirou? - Disse Maxon virando-se para mim.

- Ele tem razão Max, eu não vou conseguir andar isso tudo.

Respirou fundo...

- Está bem!

Ele saiu do carro e meus olhos o seguiram até perdê-lo de vista. Olhos azuis saiu do carro e começou a andar em direção ao forte, sentou-se ali na grama e ficou lá parado olhando as estrelas, então resolvi ir até lá e sentar ao seu lado, meio se jeito. Ninguém disse nada, ficamos ali parados vendo como longe da cidade o céu era mais bonito, ele estava tão concentrado que pareceu nem perceber que eu estava ali. 

- E então...O que você tem? - Minha voz fez eco.

Ele me olhou por um instante, depois voltou a se fixar nas estrelas, aquele silêncio dele me doeu profundamente.

- Nada! - Quebrou o silêncio então. - Absolutamente nada, nem lembranças, nem saudade, não consigo ouvir uma música e me lembrar de alguém, nem se quer saber se já estive aqui antes, nada! - Respirou fundo. - Nem família, nem uma casa de verdade, eu não tenho nada.

- Mas você tem a nós e...

Nem esperou eu terminar a frase.

- Não, Stephanyne! É diferente...Você não entende... - Passou a mão pelos cabelos. - Já fazem duas semanas, e ninguém...Ninguém...

- Mas você vai se lembrar!

- Quando? Daqui a vinte ou trinta anos? - Abaixou o rosto e deixou que seus cabelos caíssem sobre ele. - Eu estou muito confuso!

Fiquei muda.

- Terão dias em que você vai adorar ter me conhecido, terão dias em que você vai se arrepender amargamente por isso. - Respirou fundo. - Você realmente nunca entenderia...

- Claro que sim! - Virei-me para ele. Eu já me senti assim...Confusa.

- Mas é diferente, você pelo menos se lembrava de seu nome.

- Eu sei que é diferente, mas poderia ser pior...Eu já passei por muita coisa que você também não entenderia.

- Tipo o quê? - Olhou pra mim.

respirei fundo e comecei...

- Eu morava em Londres, com minha mãe e meu pai, tínhamos uma vida boa, éramos felizes, eu tinha apenas sete anos, viajamos para Bahamas e naquele dia...Aconteceu o acidente...Meus pais morreram e eu fiquei sozinha no mundo. - Senti as lágrimas escorrerem sobre meu rosto.

- Mas... E o Patrick? - Franziu as sobrancelhas.

- Ele não é meu pai. - Limpei as lágrimas com a mão. - Ele me adotou num orfanato três anos depois, quando fui morar com ele...Ele era casado, minha madrasta era muito ruim, parecia me odiar com todas as forças, me batia, e várias vezes eu chorei escondida, ficava confusa, me arrependia de ter ida pra aquela casa onde eu era mais infeliz do que no orfanato...Até que um dia eles discutiram e ela foi embora, sumiu, e desde então nunca mais a vimos...Então viemos morar aqui, só eu e ele...Ele é um ótimo pai, não me deixa faltar nada, eu o amo...Mas não faz ideia do quanto eu sinto falta dos meus pais, mesmo depois de tantos anos...É como se faltasse algo, como se parte de mim estivesse morrido naquele acidente também.

Ele me olhou com pena, e num gesto carinhoso me abraçou, e ficamos ali, perdidos no meio do nada, por um momento só tínhamos um ao outro, e assim ficamos até eu apagar.

Dione - Os enigmas do fundo do marOnde histórias criam vida. Descubra agora