A bicicleta

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Trinta e cinco verões já se passaram desde aquele no final dos anos 70. Trinta e cinco verões e ele aprendeu uma porrada de coisas: sabia dirigir um carro, atravessava a nado uma piscina olímpica, podia adestrar um cachorro, conhecia as constelações visíveis de seu apartamento, cantava o repertório completo do U2, escrevia com a mão esquerda também e até conseguia projetar um edifício. Isso sem falar em todas as cervejas que tomou, todos os países que conheceu, a física, a matemática e a vizinha da frente que tinha um péssimo humor. Mas aí apareceu o outro ele - o elezinho, o ele em miniatura.

Foto: canva

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Foto: canva.com 


E o ele maior percebeu que, mesmo passados trinta e cinco verões desde aquele no final dos anos 70, ele ainda não sabia como andar de bicicleta. Como poderia ensinar o ele em miniatura? Travesseiros, colchões, muitos tecidos nos braços e nas pernas, um capacete, uma ave-maria e lá foi ele tentar dar a primeira pedalada. Caiu, o nariz sangrou um pouquinho. Como conseguia equilibrar um prédio de vinte e tantos andares e mal podia ficar em cima de uma bicicleta?

- Chega, pai, deixa eu tentar.

E o mini ele saiu pedalando - sem travesseiros, nem colchões, nem tecidos, nem capacete, nem ave-maria: só foi. O vento no rosto foi a melhor sensação - e a mais livre - que o mini ele teve naqueles oito verões.


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