A poltrona era confortável, mas a janelinha, pequena demais. Tinha pessoas desconhecidas por todos os lados, que conversam como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez até fosse mesmo, mas não para ela. Nem para o seu colar de cruz, que já quase desaparecera em meio aos dedinhos finos.
Os olhos arregalados observavam cada palavra de negócios ou de férias que volta e meia escapavam por entre as poltronas, atrevidas que só. As mãos suadas tentavam acalmar os dedos tremeliquentes. O estômago se encolhia, e no vórtex por ele criado, ia engolindo os demais órgãos. Acho que os pulmões já eram.
Lembrava de alguém lhe dizendo: "parece uma montanha-russa, relaxa".
Mas ela sempre odiou montanhas-russas.
E quando aquilo tudo começou a fazer barulho e a se movimentar lentamente pela pista, arrependeu-se em cada nervo de seu pequenino corpo (quase tão pequeno quanto a própria janelinha). Gostaria de parar tudo e sair correndo. E daí que fosse atropelada por outro gigante?
Então veio o martírio. A subida a deixou tonta, enjoada, chorosa. Por que mesmo tinha escolhido aquela poltrona? Um alívio lhe desceu pela espinha: ao menos, a janelinha era pequena.
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Agora Já Contei
Ficción GeneralEstes contos que você lerá saíram das telas virtuais para suas mãos, em formato físico. Escrevendo no blog Agora já contei desde 2013, as histórias que antes eram feitas de luz e pixels agora foram impressas e podem ser lidas em papel e tinta. Par...