Ele ficou sozinho o dia inteiro, mas isso era normal. Ele a via só quando a noite já estava caída e o segundo noticiário já aparecia na TV. Ela trabalhava demais, às vezes chegava e se atirava na cama. Sem comer. Nem tomar banho.
E lá ia ele oferecer um pouco de carinho ou só companhia mesmo. Ele sabia que, por mais que ela jamais admitisse, o emprego era a única coisa que ela tinha e que ela podia dizer que amava de verdade - além dele, obviamente, o companheiro de muitas alegrias e de muitas fossas e ressacas. Tinha sido assim por quase 15 anos: ela trabalhando exaustivamente pra se esquecer do fracasso da vida amorosa; ele ali, oferecendo um ombro amigo sempre que ela precisava.
Ele não era de muitas palavras, apesar do nome que tinha. Elvis Presley. Mas ele estava sempre pronto pra ouvir, na melhor versão padre de paróquia que escuta as confissões das fiéis sempre que elas precisam de ajuda. Mas o Elvis já estava ficando velho, e a solidão diária a que era submetido estava desgastando sua alegria de viver.
- Elvis, cadê você, querido? Eu te trouxe ração novinha!
Mas o Elvis não veio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Agora Já Contei
General FictionEstes contos que você lerá saíram das telas virtuais para suas mãos, em formato físico. Escrevendo no blog Agora já contei desde 2013, as histórias que antes eram feitas de luz e pixels agora foram impressas e podem ser lidas em papel e tinta. Par...