Capítulo 5 - Água e Sangue

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– O que foi isso?! Mais um míssil foi detonado! – Grita Govannon para Sin no calor da batalha.

– Nosso povo não vai aguentar por muito tempo Govannon! – O desespero estava estampado nos olhos de Sin, mas curiosamente seus movimentos de luta eram calmos; ela mantinha as mãos unidas próximas ao coração e um escudo de luz erguia-se e a protegia de disparos mortais.

– Precisamos por um fim nisso, temos que despistá-los!

Dois androides inquisidores e um soldado vinham atacar Govannon, ele berrou enraivecido e acionou algo no equipamento que usava, – mãos eletrônicas cheias de botões, como luvas metálicas grandes e estranhas – um campo eletromagnético surgiu ao seu redor. Instantaneamente os robôs começaram a ter espasmos nos corpos eletrônicos até finalmente pararem de funcionar soltando fumaça. O soldado por sua vez agiu como se recebesse um golpe invisível caindo desmaiado ao chão, jorrando sangue coagulado pelo nariz.

– Vamos Sin, vamos para onde ocorreu a última explosão. Haviam muitos dos nosso naquela área!

Os dois correram em meio a guerra que estava sendo travada, os rebeldes resistiam e lutavam vorazmente. Passavam por baixo das pernas de um guerreiro mecha; correram fugazes livrando-se de puxões; socavam rostos; desviavam de raios lasers. Finalmente chegaram aos barrancos, agora um lugar devastado, até o solo tipicamente vermelho estava negro e coberto de fuligem. Havia um ponto central vazio, como se alguma força afastasse tudo para as extremidades e na parte periférica fogo, escombros, pedras, sucatas, resto mortais...

"Restos mortais?!" – Perguntava-se Govannon, ainda com o corpo dormente, garganta seca e palpitações que lhe doíam o peito. Estavam acostumado a conviver com a morte, mas ele sabia que as crianças do acampamento tinham sido levadas para aquela área afim de serem protegidas pelos mais fortes. O que aconteceu? Estavam todos mortos? Como se desculparia com aquelas famílias? Ele não foi forte o suficiente, não pôde protegê-los.

Govannon só conseguia focar uma coisa de cada vez, seu cérebro ainda negava o que via; olhou para a Sin, ela estava inerte como uma estátua sem expressões. Depois, mais adiante, viu um jovem em meio toda aquela destruição, ele também estava parado com os olhos mortos e corpo extremamente trêmulo. Era o Davi, filho dos Citrini. Como ele havia sobrevivido ao que quer que tenha acontecido? Govannon achou ter visto uma áurea de luz circular desaparecendo ao redor do jovem e então um sussurro da Sin destacou-se daquele macabro cenário, "isso tem que acabar agora!"

A bruxa segurava um pingente pendurado em um cordão que dormia escondido entre os fartos seios e o mordeu com certo azedume no rosto. Caminhou alguns passos, agora com um olhar totalmente decidido e concentrado, parecia outra mulher.

"Elementum recolligo huic, commodo locus mihi vestri vox. Elementum ego unda dico vos. Permissum pluit é est meus nos sic vadum is exsisto!"

Ao proferir tais palavras, progressivamente o vento se tornava mais violento e logo era difícil continuar em pé sem ter que segurar alguma coisa, com exceção de Sin que se mantinha majestosa. Entendendo o que estava acontecendo, Govannon se curvou protegendo-se e igualmente a Sin, a alguns momentos atrás, tirou um pingente do pescoço e o apertou com fervor enquanto fazia preces baixinho.

A ventania transformou-se em tempestade. O céu estava coberto com nuvens negras que engoliam todas as luzes celestes; chovia e ventava tão violentamente que não podia-se ouvir seus próprios pensamentos, os trovões rasgavam o firmamento. Os rebeldes que resistam e lutavam contra as forças do governo em uníssono seguraram com paixão seus pingentes idênticos ao de Govannon. A tempestade era tão furiosa que todos os soldados e robôs pararam de atacar e se preocuparam apenas com suas seguranças. Escombros e corpos voavam para lá e para cá, mas curiosamente nada acontecia aos rebeldes remanescentes que continuavam concentrados em suas preces.

Sortilégio - Passado, Futuro, Ciência e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora