Capítulo 7 - Asas Cintilantes

14 1 0
                                    

Govannon não podia se conter. Era como se seu corpo fosse pequeno demais para todas as sensações que explodiam dentro dele, e explodiam de inúmeras formas. Um filho! Ele tinha muito medo; medo de não ser um bom pai e principalmente temia em colocar em um mundo cheio de sofrimento uma criança; mas também sentia muito orgulho, como se aquela vida, que estava sendo gerada no útero de Boadiceia, fosse a mais nobre forma de resistência do seu povo.

Os rebeldes caminharam por todo um dia e depois de uma última parada nas imediações de Orsini, eles desbravariam a mística floresta de Colonna. Poucos não versados em magia se arriscavam por entre aquelas matas, isso deixava alguns rebeldes mais a vontade.

Era uma manhã clara e fresca, Govannon caminhava com pensamentos distantes, ainda com o pesar de suas perdas tão recentes e ondas de euforia ao pensar na paternidade. Ele não via a hora de poder contar a todos as boas novas, como uma chuva refrescante depois de caminhar em areias escaldantes.

A mística floresta de Colonna parecia um recorte de algo deslocado do mundo dos homens. A muito tempo, no advento da Novíssima Era, uma grande falha foi aberta na malha existencial no coração daquela floresta, desde então, seres do mundo espiritual, assim como elementais passaram a transitar ou até criar comunidades na floresta. Essa influência mágica mudou a matéria de toda aquela região. Aventurar-se por Colonna era mergulhar em um mundo de cores espectrais e formas extramateriais.

Pouquíssimas nuvens ousavam ofuscar o quente azul turquesa do céu, o clima era abafado e úmido — típicos das florestas — e no ar, dançava uma mágica atmosfera elétrica, era quase como um clímax do desconhecido. Os rebeldes avançavam em filas paralelas, Boadiceia tinha as rotas mapeadas por um dos aparelhos que ela carregava, sempre a vista, e para chegarem em seu destino, precisariam atravessar o coração da floresta.

Das sombras, entre troncos e galhos luminescentes, surgia uma figura, esgueirando-se e observando aquele grupo de humanos. Era uma forma feminina, esguia e muito rápida, tão rápida que parecia voar. Ela os observava a um bom tempo e os seguia com cautela, cuidando para não ser notada.

Em certo momento quando desceram um pequeno vale tectônico, derem de cara com um grupo de felinos. Eram animais diferentes, lembravam tigres, mas diferentes desses que eram solitários (e estavam completamente extintos), aqueles felinos andavam em bandos e eram bem maiores; a pelagem de um magnífico cinza opalescente que cintilava quando a luz do Sol filtrada pelas copas das árvores brilhava em seus poderosos copos. Os animais logo perceberam que não estavam sozinhos. Um maior e mais peludo continuou deitado, tão pomposo como um rei, enquanto quatro animas menores e menos felpudos — as fêmeas — começavam avançar ao grupo de humano; avançavam exatamente como os gatos que caçam as baratas.

Para os rebeldes era como estar olhando para a morte mais dolorosa e violenta possível; eles se agruparam em um círculo bem unido, as crianças e mais velhos no centro, enquanto os mais fortes construíam uma barreira com suas armas em punho. Boadiceia sacou o bastão preso na coxa que brilhou e se revelou como sua fiel lança... Ela mantinha os olhos vidrados nos animais e ainda assim prestava atenção em qualquer movimento periférico. Os quatro felinos menores começavam a cercar o grupo, o silêncio e tensão eram tamanhos que podia-se ouvir claramente pequenos gravetos no chão partirem sob as poderosas patas.

Davi Citrine segurava um longo facão. A sua mão no cabo da arma tremia e suava, os nós dos dedos, brancos sem sangue, refletiam a força que ele aplicava; o rosto estava molhado e vermelho, os mais próximos a ele o ouviram gemer de raiva quando em um ato precipitado e de pura ira se separou do grupo e avançou para um dos animais. Alguns rebeldes gritaram de surpresa e medo, Davi jamais teve chances. Boadiceia e os outros se preparavam para atacar e resgatar o jovem Citrine, mas as outras três fêmeas impediram avançando contra o grupo de humanos urrando intimidadoras.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 15, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Sortilégio - Passado, Futuro, Ciência e MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora