Já fazia quase dois meses, desde que voltei para a cidade onde eu cresci. Era o auge da primavera, Will e eu sempre vínhamos no campo da cidade após a aula. As flores exalavam tanto perfume que o ar tinha seu cheiro. Ali ficávamos por horas deitados naquele, enorme tapete florido. Tudo parecia estar bem. Meu avô tinha começado a trabalhar como jardineiro em uma casa, Anne estava perdendo o medo das pessoas, e não ficava mais no banheiro. Apesar de tudo, Will parecia estar bem. Ninguém podia dizer que ele estava tão doente.
Todos na escola estavam animados para o baile anual de primavera do São Lourenço. Eu só me lembro de ir duas vezes a esse baile quando era pequena. Lembro das cores, e de como tudo parecia mais bonito. Eu e minha mãe íamos com vestidos iguais, e com flores no cabelo. Acho que é uma das poucas lembranças boas, que tenho quanto à ela.
Numa manhã, eu ainda dormia quando meu celular tocou. Não acordei então tocou novamente. Eu abrir os olhos procurando o celular que estava em baixo do meu travesseiro:
-Alô?! Disse ainda sonolenta.
-Isso são horas de você está dormindo? Disse Will.
-São 8 da manhã e é sábado.É isso que as pessoas normais fazem nesse dia, dormem. Menos você! Respondi.
-Você me disse outro dia, que fazíamos trilhas na floresta de bicicleta, lembra? Perguntou-me Will.
-Lembro, mas isso faz tanto tempo que já até esqueci como se anda.
-Quem disse que vamos pedalar? Já ouviu falar em motocross? Já disse que você passou muito tempo fora, o negócio agora é mais sério! Disse Will sorrindo.
-Não está achando que vou andar de moto com você?
-Quer apostar?
Então ouvi uma buzina, fui até a janela e vi Will, sentado em uma moto olhando para mim:
-Acho que você vai ganhar a aposta Will!
Eu subi na moto dele, então saímos pela cidade. Tudo parecia um flash, cada loja e pessoa. Eu me sentia tão bem.
Nós cruzamos quase toda a cidade, quando paramos em um sinal, vi a Sra. Fernandes(minha antiga professora). Eu acenei para ela, mas não me correspondeu. Ela só atravessou a rua olhando para mim, com um olhar de espanto e frieza. Eu não sabia o que pensar. Ela sempre me tratou tão bem, até me orientou quando voltei a escola.
Will arrancou com a moto então entramos na floresta. Ele andou devagar até chegarmos na ponta de uma trilha, com uma enorme descida:
-Você está pronta? Perguntou-me.
-Não, e você está? Respondi.
Will soltou a moto naquela trilha, então descemos. Passamos tão rápido por cada canto daquela floresta, que o vento esbarrava em nossos rotos. Então levantei meu corpo sobre a moto, e pus minhas mãos nos ombros dele. Eu nunca tinha sentido algo igual, só conseguia sorrir e me sentir viva. Esse era um daqueles casos raros de quando você está no lugar certo, e na hora certa. E nada poderia estar mais certo do que está com Will.
Era estranho pensar, como se nada tivesse mudado. Parecia que eu nunca tinha ido embora, ou que ele não se lembrasse de nada. Por um segundo eu quis realmente acreditar nisso!
Nós paramos em um campo, então Will tirou de sua mochila alguns sanduíches e um refrigerante que, espumou quando abriu:
-Se você gosta de espumante de cola, vai adorar esse aqui! Disse Will brincando com a situação.
-Eu amo! Respondi. Você viu o que aconteceu lá no sinal? Na cidade quando paramos.
-Você está falando da Sra. Fernandes? Me perguntou como se já soubesse a resposta.