"O último baile". Parte 1

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Contado em primeira pessoa por Will.

Já era tarde e nós três ainda estávamos sentados naquela sala. Ninguém dizia uma palavra, e tudo que eu mais queria, era pegar na mão de Julia e sair correndo antes que minha mãe pudesse dizer qualquer coisa. Mas então lembrei que brigamos momentos antes de Paula chegar, triste coincidência!

E demorou mais um pouco até que alguém tivesse coragem de dizer algo:

-Eu vou indo, está ficando tarde! Disse Júlia se levantando.

-Então você é a Julia? Aquela menininha que vivia pra cima e pra baixo com meu filho... na verdade continua, mas acredito que a brincadeira não é mais esconde-esconde! Disse Paula constrangendo-a.

Então ela pegou sua mochila no canto da sala e saiu. Eu chamei por Julia mas nem sequer olhou para trás:

-Por que fez isso? E por que voltou tão cedo? Perguntei.

-Achei que ficaria feliz de me ter aqui. Agora você tem alguém capaz de te dar os devidos cuidados. Alguém que possa ter por limites filho, você não pode mais ficar sozinho, é muito perigoso! Respondeu Paula.

-Julia não é minha enfermeira, e nem você é! Eu gosto dela, então não se empenhe em acabar com o pouco de alegria que eu tenho.

Naquela noite foi quase impossível fechar os olhos e dormir,, eu liguei para Julia umas 20 vezes, mas na vigésima primeira ela desligou o celular. Eu estava tão perto dela, poderia andar alguns metros e ir até sua casa, mas tudo que ela queria era um tempo! De manhã eu saí mais cedo de casa, para evitar encontrar com minha mãe.

Por todo lado no São Lourenço, só se via flores. E todos já estavam no clima às vésperas do baile de primavera. Foi num desses bailes que dei meu primeiro beijo, mas isso não tem importância agora, talvez depois. Meu amigo Arthur estava com um colar de flores em seu pescoço, dando em cima da pequena Brenda do grupo de teatro, que escreveu seu número na mão dele:

-O predador do São Lourenço ataca novamente! Disse a ele, me aproximando.

-Só estou aproveitando Will, antes que eu seja um completo fracasso na vida. Respondeu Arthur.

-Brigou com seu pai de novo?

-Ele disse: "faça faculdade, porque seu irmão fez e hoje é bem sucedido e, blá-blá-blá!" Meus tímpanos explodiram depois de uma hora de sermão!

-Lá em casa também não está lá essas coisas, a Paula voltou!

-A Sra."Gostosa" está na cidade de novo?

-Você sabe que está falando da minha mãe?

-É claro que sei! Hoje à tarde nós vamos comprar os ternos para o baile, não é?

-Eu nem sei se vou, Julia e eu não estamos bem!

-Olha, quem diria? Will o homem vegetal sofrendo por uma garota. Não pode deixar de ir para esse baile, provavelmente será seu último ano de lucidez. Não vou deixar que perca isso! Se quiser posso até ser seu par, só não vai rolar o beijo na varanda depois.

-Que bom quê esclareceu as coisas! Disse a ele sorrindo.

Arthur sempre foi meu melhor amigo, e o único que me entende. Ele não olha pra minha vida e pensa "nossa, coitado!", acho que se pudesse escolher ele teria a doença junto comigo. Amigos assim não se encontra em qualquer lugar.

Eu entrei na sala e olhei diretamente para a carteira de Julia e lá estava ela, sentada passando a mão no cabelo. Então ela virou o rosto e olhou para mim, mas não esboçou nenhuma reação. Continuei andando para o fundo da sala quando ouvi Anne falar para ela:

-Porque não falou com ele?

-Não temos o que falar. Respondeu Julia.

O professor entrou, e escreveu a palavra "Ecstasy" no quadro, todos ficaram em silêncio esperando que ele explicasse:

-ECSTASY (Êxtase), também conhecida como balinha, geralmente é ingerida oralmente, mas também pode-se cheirá-la ou mesmo introduzi-la no traseiro. Não, não é brincadeira! As mortes por seu consumo são bem raras, consumidas principalmente em baladas e festas. E por que estou falando isso? Porque no último baile da primavera, foram pegos 4 alunos portando a droga, e o diretor Brum, pediu aos professores que falassem sobre o assunto. Então eu pensei que seria mais... Interessante ouvir a opinião de vocês. Então quero que levantem-se e venham até aqui, e expliquem porque são contra ou a favor. Disse o Sr. Ricardo.

Todos ficaram olhando um para o outro, então o professou insistiu então as pessoas começaram a falar como é legal, ou como a onda é "maneira". Parecia unânime a opinião da turma. Então Julia se levantou e todos pararam em silêncio sem saber o que esperar, eu congelei olhando para ela:

-Eu tive uns problemas com drogas á uns dois anos. No começo era legal, eu me sentia bem... E não sei se posso dizer se sou contra ou a favor. Porque se você quer apenas fugir da porcaria da sua vida, esquecer por alguns minutos os problemas que tem com seus pais, ou o quanto você se acha inferior aos outros, vai lá. Acho que você será feliz por algum tempo. Mas um dia vai cansar de fugir, e tudo que vai pensar quando ser olhar no espelho é "caramba, eu não era tão ruim assim". Você pode não usar, e acreditar que um dia tudo vai passar, eu não sei. Mas seja o que for, o vazio ainda vai estar lá, te esperando todos os dias. Mas uma hora ele vai ser preenchido.

-Pelo que? Perguntou o Sr. Ricardo.

-Pela culpa! Disse Julia.

Eu não consegui entender o que fez Julia falar daquele jeito na aula. Ela nunca tinha me contado nada disso. Então percebi o quão pouco eu sabia sobre ela. Talvez estivesse na hora de entender o nosso passado.

AcorrentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora