"O último baile". Parte 2

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Contado em primeira pessoa por Will.

Eu sentei naquela cadeira, e não conseguia parar de olhar o relógio. Cada segundo que passava eu desejava sair daquele consultório. Minha mãe me convenceu a ir em um psicólogo, na tentativa de me compreender. Se já não bastasse a manhã turbulenta que tive no São Lourenço, ainda teria que ouvir um estranho. Depois de uns 5 minutos a mulher entra na sala e se apresenta como a doutora Laura. Ela era uma moça baixa de cabelos pretos. Sentou em minha frente e cruzou as pernas, me olhou como se já soubesse tudo ao meu respeito:

-Eu poderia pedir a senhora que nos deixasse a sós? Disse Dra.Laura a minha mãe, que se levantou e saiu.

Então continuou:

-Eu não quero que tenha reservas quanto a mim, não estou aqui para me meter em sua vida, só quero ajudá-lo a entender a si mesmo. Mas antes preciso te conhecer, fale um pouco sobre você.

-Não tem muito o que entender. Aos 15 anos descobri a Alzheimer, então fiquei em casa trancado por meses, até que consegui "acalmar a doença" . Mas no começo desse ano descobri que ela se agravou e tenho 75% de chances, de ficar como um "vegetal" em breve. E fim! Respondi sem mostrar interesse na consulta. .

-Objetivo, gostei! E como é seu relacionamento com seus pais? Como eles reagiram?

-Não sei bem se o que temos pode ser chamado de relacionamento. Minha mãe reagiu como se fosse o fim, e meu pai nunca tocou no assunto. Na verdade acho que ele mudou de cidade só para não me ver assim.

-Por que acha isso?

-Ele passou a mesma coisa com minha avó, talvez não quisesse me ver passar pelo mesmo!

-Você tem namorada Will? É Que sua mãe comentou sobre uma amiga de infância! Que ela disse ser "uma péssima influência para meu filho!".

-Não, eu não tenho namorada! Pelo menos não mais... Desculpa, mas eu tenho alguns assuntos pra resolver, preciso ir.

-Tudo bem por hoje, nos veremos 1 vez por semana nesse horário. Mas... posso te fazer uma pergunta? A última!

-Ah... tá bom!

-Como você se vê daqui um ano?

-Daqui um ano? Sei lá... Talvez numa praia surfando, escrevendo um livro. Ou talvez numa cama deitado sem conseguir segurar uma colher. Quem sabe?!

-Até semana que vem Will. Foi um prazer conhecê-lo!

Eu sabia que precisava saber mais sobre Júlia, então fui até sua casa. Seu avô estava na varanda mexendo em alguns vasos de plantas, eu pedi para falar com Júlia mas ele não permitiu. Ainda não tínhamos nos falado desde aquele almoço, não tínhamos superado aquilo.

No outro dia saí com Arthur para compramos os trajes para o baile. Mas por que comprar se nem um par eu tinha?

Fomos em uma pequena alfaiataria no centro da cidade. Arthur escolheu um terno azul horrível. Ele se apelidou como "Roberto Carlos do São Lourenço", não consegui segurar a risada. Então olhei pela janela e vi Júlia sentada em uma cafeteria do outro lado da rua. Saí da loja com o terno, e fiquei batendo no vidro até que ela olhasse. No começo ela ignorou, mas logo saiu:

-Eu fui até sua casa hoje. Disse a olhando nos olhos.

-Eu estava em casa, mas não sei se estava pronta pra falar com você. Respondeu Júlia olhando para baixo.

-Eu ainda tenho duas entradas para o baile, já tenho o terno. Você sabe o que está faltando?!

-Não sei... mas, eu já tinha comprado o vestido. Seria uma pena não usá-lo

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