Capítulo 1

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Renato e André – Uma história de amor.

A musica tocava em volume baixo, uma baladinha de uma cantora pop, preenchia o carro, o vidro fechado, o ar condicionado ligado, faz calor lá fora, a voz no GPS informa que o caminha usual esta em transito, orienta um novo caminho, Renato nunca fez esse trajeto pra casa antes, as ruas vazias, prédios comerciais à direita, um parque arvorado a esquerda, ele desvia o olhar um momento apenas para a tela com o mapa, quando volta a prestar atenção ao caminho já é tarde demais, ele freia bruscamente, o motoqueiro e sua moto estão no chão.

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Ele com certeza não viu o carro, quando percebeu, estava no chão, à cabeça protegida pelo capacete, o corpo dolorido, nada que não pudesse aguentar, sua maior preocupação a moto, seu retrovisor estava ao seu lado e André não havia caído perto dela, ele estava frustrado e sua bunda doía.

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Renato segurava firme o volante com as duas mãos, a musica continuava a tocar num ritmo dançante como se não percebesse seu desespero.

"Em duzentos metros, vire a direita." – Disse o GPS.

Renato sentia a mão doer, o coração batia desenfreado no peito, as lagrimas escorrendo salgadas em seu rosto. Ele atropelara alguém, um motoqueiro. Renato estava assustado, Renato pela terceira vez em sua vida queria ter sido criado religioso, queria que alguém dissesse que ele ficaria bem, que o motoqueiro ficaria bem, que tudo ficaria bem, Renato chorava, ele estava assustado.

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Com esforço ele se sentou no asfalto, o carro que o atropelara continuava ali, um modelo novo, talvez um volvo, não saberia dizer, com insulfilm nas janelas, impossível ver o motorista, ele não havia saído, o veiculo ainda ligado, André pensou que ele iria fugir, não se preocupou muito com isso, estava mesmo preocupado com a moto.

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Os olhos de Renato estavam embaçados pelas lagrimas, mas mesmo assim ele viu o motoqueiro se sentar, o medo aperto seu coração, se forçou a soltar o volante, desligou o carro, puxou o freio de mão, saiu do carro e correu para o lado do motoqueiro.

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André percebeu que o carro foi desligado, um homem de terno saiu dele e correu para perto de si, ele tirou o capacete par ver melhor.

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—Ei, não tire o capacete, você deve permanecer deitado até o socorro chegar.

— Você chamou uma ambulância? – André soava incrédulo.

— É o que eu vou fazer agora. – Renato sacou o celular do bolso e ligou para emergência, André se levantou do chão com algum esforço e tomou o celular da mão do outro.

— Não precisa de ambulância, eu estou bem, foram só alguns arranhões, não é a minha primeira queda baixinho.

Renato não era baixo, era do tamanho de André, talvez um pouco mais magro, mas não mais baixo, porem Renato não reclamou, Renato chorou, André travou, não sabia o que fazer ao ver um homem adulto de terno chorar.

—Hey cara, você se machucou no acidente? Se a ambulância for pra você, tudo bem, pode chamar, sem problema... – André coçou a cabeça e devolveu o celular para Renato.

—E se você tiver algum ferimento interno, e se teve uma concussão, e se, e se, e se... – Renato chorava, seu nariz escorria, lhe faltava o ar e as palavras, seu coração batia forte.

—Não aconteceu nada, não seja negativo. – André estava se sentindo dolorido, queria uma cerveja e queria cuidar de sua moto, mas por algum motivo que ele não sabia explicar, abraçou o estranho de terno que o atropelou. André queria que Renato parasse de chorar, André queria ver como estava Isabela, sua moto.

Renato e André sentaram-se no meio fio, Renato apoiava a cabeça no ombro de André e chorava, André estava preocupado com a moto.

—Você já sofreu um acidente de moto? – Renato fungou uma resposta negativa – Alguém da sua família ou amigo já sofreu um acidente de moto? – Renato fungou uma resposta positiva – Não vai acontecer o mesmo comigo, ta legal? Tenta parar de chorar – Renato cruzou os braços nos joelhos dobrados e se derramou em lagrimas.

Renato não era do tipo que chorava, hoje não havia sido um dia ruim, não tivera uma semana ruim, nem um mês ou mesmo um ano, mas fazia muito tempo que Renato não chorava, e um acidente de moto era um assunto delicado para ele, estar no volante e ter deixado o motoqueiro no chão não o ajudava a se sentir melhor, mesmo que o motoqueiro jurasse que estava bem, até mesmo parecesse bem, dentro de sua jaqueta de couro, com toda aquela barba, todo aquele cabelo, em seu coturno e em suas tatuagens que escapavam pelas mãos, Renato esperava não o ter machucado, Renato chorava sentado no meio fio.

André resolveu deixar Renato chorar, se levantou e foi olhar Isabela, a moto, levantou-a do asfalto quente, lhe faltava um retrovisor, a pintura estava arranhada, rodou a chave, Isabela não ligava, André bufou e voltou a sentar no meio fio ao lado do homem de terno que ainda chorava. Tirou a jaqueta, fazia calor, sem o movimento de quando montava Isabela, não tinha motivo para usa-la, ficou só de camiseta – de banda, da sua banda preferida – sacou o celular do bolso da calça e mandou uma mensagem.

— Pronto, a ajuda esta vindo.

— Você ligou para emergência?

— Sim, eles logo vem buscar Isabela.

— Isabela?

— A moto.

— Você ligou para a mecânica?

— Sim, o Heitor, ele sempre cuida bem da Isabela.

— E quem cuida bem de você?

André ficou pensativo, ele tinha ele mesmo, tinha a banda que era como sua família, eles cuidavam um do outro, tinha sua família, eles moravam longe, mas se amavam, não estava namorando no momento, ou tinha um animal de estimação, não tinha um medico pra lhe cobrar exames, mas com toda a certeza, não tinha ninguém como Renato, que chorava feito um bebe com medo dele ter uma concussão.

Os dois esperaram em silencio o reboque de Heitor, depois que ele levou Isabela, André aceitou ir ao hospital para fazer Renato para de chorar. Eles entraram no carro, a musica pop ainda tocava, Renato abriu o porta luvas e tirou uma caixa de lencinhos, assuou o nariz duas vezes, limpou o rosto inchado, pegou uma garrafa de agua no banco de trás, estava quente, mas o ajudou a se acalmar, desligou o som, André não parecia confortável com a musica, digitou o endereço do hospital no GPS e foram o caminho todo sem conversar, ouvindo os "vire a direita em trezentos metros", " Vire a esquerda em quatrocentos metro", "Curva suave em cem metros", até finalmente o " Você chegou ao seu destino". Renato estacionou em uma vaga no estacionamento do hospital. André tirou o sinto, Renato também, ele desligou o carro, olhou para o homem tão diferente ao seu lado, André retribuiu ao olhar.

— Alias eu sou o Renato.

— Eu sou o André.

Os dois saíram do carro e caminharam lado a lado para o hospital.

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E este foi o começo da história de amor de Renato e André.

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Renato não esperava uma historia de amor com André.

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André, muito menos.

Continua...

Renato e André - Uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora