Capítulo 2

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André sabia que estava bem, mas por insistência do Renato, fez uma bateria de exames, Renato pediu aos medico ressonâncias, raios-X, até exame de sangue André fez, para deixar Renato feliz, para não ver Renato chorar. Foram quatro longas horas no hospital, os exames mostraram o que André já sabia, mas Renato ficou feliz em saber que o motoqueiro estava bem, clinicamente bem.

No final da tarde, os dois estavam cansados, famintos, André perguntou se Renato queria comer um pastel, André não achou que Renato fosse aceitar, o homem de terno mesmo meio inchado do choro, parecia aquele tipo de cara que nunca sai de casa amarrotado, que nunca um fio de cabelo esta fora do lugar, que nunca solta um pum e que não come pastel em uma feira perto de um hospital, provavelmente só come coisas de nome muito esquisito. Para a surpresa de André, Renato queria um pastel.

Já beirava as cinco da tarde, a feira perto do hospital estava meio vazia, na barraca do pastel, o pasteleiro fritava para os dois homens sentados a sua frente, quem olhasse de fora, não acharia que eles fossem amigos, bem, eles não eram, mas iriam ser, iriam viver um bela história de amor, mas naquele dia, Renato era apenas o homem de terno que dirigia um carro caro e que chorava e que atropelou André o motoqueiro rockstar tatuado que não gostava de hospitais e amava Isabela, a moto. Os dois, sentados lado a lado, cada um pediu um pastel, Renato pediu um suco, André, uma cerveja, Renato não deixou André beber a cerveja, pediu um suco no lugar, André bufou, mas decidiu que tomaria sua cerveja em casa. Os dois comeram seus pastei sem conversar.

André gostava muito de comer, seus amigos sempre tiravam com sua cara por causa disso, André não era gordo, não era magro tao pouco, estava feliz com o corpo, mas independente de qualquer coisa, e do que as pessoas dissessem, ele gostava muito de comer, odiava ir pra casa com fome porque as pessoas achavam que ele já havia comido demais.

André pediu outro pastel e outro suco, Renato, também.

André não sabia, mas Renato se sentia da mesma forma em relação à comida, mas diferente de André, Renato sempre ia pra casa com fome, por que se preocupava com a opinião dos outros, mas se André fosse pedir mais pastel e suco, Renato também iria.

André pediu quatro pasteis.

Renato também.

— Eu não acho que aguento mais um, mas se você topar, a gente divide um especial.

Renato topou.

Os dois estavam comendo com companhia, e saiam satisfeitos do local. Sem serem julgados. O pasteleiro queria julgar, mas estava feliz demais em vender tantos pasteis e sucos aquela hora do dia, então só sorria a cada pedido.

Renato insistiu em pagar, André também, Renato fez cara de choro, André cedeu, Renato passou o cartão e depois riu.

—Relaxa, eu não choro por tudo. – André também riu, Renato falou que o levaria para casa.

Renato e André entraram no carro, André digitou seu endereço no GPS, Renato falou que ele podia ligar o som, André colocou em uma radio que tocava rock clássico. André sabia quase todas as letras. Renato nunca tinha ouvido, mas achou as musicas muito agradáveis.

Chegaram a casa de André.

André convidou Renato para subir, Renato negou, queria ir pra casa, dormir, André pensou que Renato poderia dormir em sua casa, na verdade, desde a pastelaria, André queria muito, muito, muito, beijar Renato, André não sabia se Renato era gay, e se fosse, será que ele iria querer beija-lo também? Renato não fazia o tipo de André, mas André não estava procurando um namorado, estava querendo aproveitar o atropelamento para fazer sexo casual. Frequentemente André era um galinha, seus pais gostariam que ele namorasse serio, André gostaria de fazer sexo com o maior numero de pessoas possíveis. André queria beijar Renato, André queria fazer sexo com Renato.

— Nos vemos no sábado? – Perguntou Renato alheio aos desejos de André. Eu passo aqui as duas da tarde para buscarmos a Isadora?

— Isabela.

— O que?

— Minha moto se chama Isabela, não Isadora.

— Desculpe.

— Tudo bem.

— Então, sábado, as duas?

— Sim. Sábado as duas.

Renato destrancou a porta do carro, André entendeu como um convite pra ele sair. André tirou o cinto. Ele sabia que sábado não conseguiria beijar Renato, então ao invés de abrir a porta e sair, André virou para o outro lado, colocou a mão tatuada entre os cabelos castanhos normalmente perfeitamente alinhados, hoje bagunçados de Renato, e beijou o homem de terno.

Renato levou um susto, no inicio retribuiu o beijo. Depois, colocou a mão no peito do tatuado e o afastou. Renato virou o corpo totalmente pra frente, e segurou o volante, ele queria chorar. Mas lembrou que ele não era o tipo de cara que chorava, mesmo em um acontecimento como esse, um beijo, depois de tanto tempo sem beijar.

Renato pensou que beijar um cara com barba era diferente e gostoso. Mas também pensou que não estava pensando em beijar ninguém, com certeza não o motoqueiro barbado que ele atropelara.

André colocou a mão no ombro de Renato, queria puxar para mais beijos, queria o convidar para subir para seu apartamento, queria que o homem de terno não vestisse nada. Renato olhou pra ele, André não achou que Renato estava com cara de quem fosse se despir pra ele.

— Acho que você não quer subir e me beijar mais lá em cima...

— Não, eu não quero.

— Você é gay?

— Sou.

— Então?

— Não é por eu ser gay que eu vou querer beijar qualquer homem que queira me beijar.

— Achei que essa era a premissa básica.

Renato não riu, André se sentiu desconfortável. Ele não estava acostumado a ser rejeitado, Rafael, o vocalista de sua banda, diria que isso estava acontecendo por que Renato era bonito demais, bonito do tipo certinho, com seu cabelo no lugar, seus dentes alinhados e seu terno, e André, André era André, com seu cabelo longo, sua barba, seus alargadores, suas tatuagens, fazia sucesso entre os roqueiros, aparentemente não entre os certinhos.

— Eu só não quero beijar ninguém.

— Tá.

—Sábado, às duas horas?

— Sábado, às duas horas.

André saiu do carro. Renato dirigiu para casa com cuidado redobrado para não atropelar mais nenhum motoqueiro.

—-

Este foi o primeiro beijo de Renato e André, foi esquisito como primeiros beijos não deveriam ser, ou deveriam?

André não achou que beijaria Renato novamente.

Renato com certeza não acho que voltaria a beijar André.

Mas eles voltariam, eles se beijariam muitas, muitas e muitas vezes.

Continua...

Renato e André - Uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora