Capítulo 3

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Capitulo 3

André dormiu pensando em varia coisas e tentando não pensar em Renato e em sua rejeição, mas seus sonhos tinham outros planos. André passou a noite pensando no homem de terno, em seu rosto, em seus olhos castanhos inchados do choro e como isso não o deixava menos bonito, sonhou com o corpo em baixo do terno, a nudez branca e crua, talvez só a gravata, seria firme e definido ou quem sabe Renato seria magro e sensual, seus sonhos o levaram para lugares escuros na mente e quando André acordou precisou se aliviar no banho, desta vez não hesitou em pensar em Renato e em seus cabelos escuros perfeitamente não arrumados dançando entre seus dedos no dia anterior.

André queria muito fazer sexo com Renato, ele tinha completa noção de isso provavelmente não iria acontecer, mas nos dias de hoje, quando é que se faz sexo com uma pessoa que você conheceu no dia a dia, na casualidade de um atropelamento, ok, não tão casual, a ideia não se torna menos excitante por isso.

André se enxugou e se vestiu, tornando-se ele também um cara de terno, colocou o sapato social, mesmo querendo o coturno, penteou a barba e o cabelo, um rabo de cavalo baixo, escovou os dentes, pegou o capacete, se lembrou de que Isabela, a moto estava com Heitor, o mecânico, guardou o capacete de volta, chamou um Uber e saiu.

André trabalha no centro, é arquiteto em uma grande empresa de arquitetura, não a maior ou mesmo a segunda maior, mas grande o suficiente, boa o suficiente para aceitar que nem todo mundo é igual e contrata-lo pelo enorme talento que ele tem e não julgar as tatuagens, o cabelo e a barba.

Os colegas de trabalho de André se parecem um pouco com Renato, menos cuidados e mais descuidados, mas em essência, são todos homens de terno desbarbados, André nunca teve interesse em fazer sexo com nenhum deles, não como tinha com Renato. André acha o assistente do seu chefe, Gustavo, gostoso, e o analista do RH, Victor, lindo, mas sabia o que todos além do seu chefe Henrique, pensavam dele, então o trabalho, virou trabalho e a diversão se iniciava as dezesseis.

André desceu em frente à empresa, atravessou a rua e tomou um café da manhã reforçado na padaria de sempre, deixou uma boa gorjeta para Juliana, a atendente, porque ela sempre pedia para o chef caprichar nas suas panquecas e ele meio que a amava por isso.

O dia de trabalho de André foi normal como qualquer outro, ele estava trabalhando em um projeto para um novo cinema na cidade, ele estava animado com isso, desenhava feito um louco, e sempre tinha muitas ideias, seu chefe, Fernando, um homem baixo e gordinho, muito gente boa, adorava suas iniciativas, e ele era o chefe do projeto, seus colegas de trabalho não gostavam, isso piorava quando nas reuniões com o dono de cinema o cara não franzisse o nariz para André, não pisava pra trás ou analisava a aparência, pelo contrario, o cara já havia prometido cinema de graça para o resto da vida de André.

André era o filho mais velho de cinco irmãos, ele tinha certeza que o pai não tinha muito o que fazer além de fazer sexo e ouvir rock, o pai não ligou quando André fez suas primeiras tatuagens, pelo contrario, o levou no próprio tatuador, quando André terminou o colégio, o pai sentou de frente com ele e tiveram uma conversa seria, como o mundo era preconceituoso com pessoas como eles, que decidem ser como querem ser, fazer do seu corpo uma obra de arte, sem medo de ser feliz, sem ligar para o que os outros vão pensar, Matheus, pai de André, pediu juízo na hora de escolher a profissão, porque seria o que André faria para o resto da vida, seria o que lhe traria sustento financeiro, e o que passaria o dia inteiro fazendo, precisava que fosse algo que amasse, mas que o mercado não fosse preconceituoso, o pai deixou claro, fazer o que ama desempregado não iria o levar para lugar nenhum.

André naquela época entendeu o que Matheus queria falar, se diferenciar não só pela aparência, mas pelo talento, quando André falou para o pai que queria fazer duas faculdades ao mesmo tempo, o pai soube que não era brincadeira e pagou orgulhoso.

André teve quatro anos sofridos, mas se formou em engenharia civil e arquitetura, uma profissão completando a outra, ele sendo um profissional dois em um, orgulho da família, orgulho de Matheus, os primeiros anos foram difíceis, por mais que o currículo chamasse a atenção, a aparência não deixava os contratos serem assinados, André fez mestrado e vários cursos, mas o preconceito ainda era maior do que a coragem, a desculpa, sempre a mesma, corte o cabelo, faça a barba, maquie as tatuagens e então volte para uma nova entrevista, hipócritas idiotas, todos eles.

André pegava um pequeno projeto aqui, uma ponte pra projetar la, principalmente projetos do governo, pagava as contas, mas não era o que ele deveria ganhar, por tanto que ele estudava. O pai não ligava em ajudar financeiramente, sempre comprava as brigas do filho, sempre arrumava contatos, e pedia para André projetar as casas novas dos amigos.

Foram quatro anos pós faculdade frustrantes para André, foi quando ele decidiu se entregar para outra paixão, aquela que aceitava e venerava sua aparência, o rock, uma noite entrou num bar, uma banda estava tocando, eles não tinham guitarrista, no final do show, André foi cumprimentar pela musica e falou sobre o fato.

—Vocês não tem guitarrista.

—Não, você toca guitarra?

—Toco.

—Toca bem?

André fez um solo de guitarra no ar. Os dois riram, o cara passou o endereço dele, pediu para André ir fazer o solo de guitarra de verdade lá.

—Eu sou Rafael.

—Eu sou o André.

Os dois apertaram as mãos. André foi fazer um teste na garagem do cara, a banda o adorou, ele entrou. Rafael e André viviam em uma relação de amor e ódio, eram melhores amigos e piores inimigos, de um minuto para o outro. Marcos, o baixista era o melhor amigo de André, a banda virou a família e o trabalho de André por quase dois anos e foi num show de rock que sua carreira como arquiteto deslanchou.

Uma garota deu em cima dele depois do show, ele a dispensou, ela era tão nova e tão bêbada, ele era tão gay, ela foi dar em cima de outro cara, o cara era um escroto, passava a mão nela como se ela não fosse a adolescente que era. André pensou em Bianca, a irmã mais nova, pensou que queria que alguém a tirasse das mãos sujas de um babaca, então ele a chamou, ela largou o cara e veio pra ele, ele se despediu da banda e a levou pra casa, fez com que ela dormisse no sofá, a cobriu e a deixou la, naquela noite ele mesmo não conseguia dormir, sem vontade de beber sozinho, sem poder sair e deixar a garota sozinha na casa dele, ele se sentou e começou a projetar, o nome do projeto era a casa perfeita, seria sua casa quando envelhecesse, ele adorava trabalhar nesse projeto em especifico, até por que não tinha outros para trabalhar. A bolsa da garota tocou, ele atendeu, era o pai dela, ele lhe passou seu endereço, o cara foi busca-la.

Era um cara baixinho e gordinho, quando André abriu a porta, ele parecia saber que André não tinha tocado a filha, mas a salvado de um idiota, o cara não o julgou, acordou a filha, que foi vomitar no banheiro de André, André riu e ofereceu uma agua para o homem, o homem elogiou o projeto da casa perfeita, perguntou pra qual empresa André trabalhava, André falou que tocava em uma banda, o homem abriu a carteira, retirou e lhe estendeu um cartão, pediu que se fosse do desejo de André, que fosse fazer uma entrevista na segunda, a menina saiu do banheiro, ela e o pai foram embora. O pai da garota era Fernando, o chefe de André. Ele adorara seu currículo, não pediu que André se barbeasse ou que desse um jeito no cabelo, elogiou as tatuagens, ofereceu um emprego, André aceitou e na empresa de Fernando, André tem crescido cada vez mais nos últimos oito anos, fazendo seu nome como o grande arquiteto e engenheiro que é, enfrentando as barreiras do preconceito cultural, André pode fazer o trabalho que ama do jeito que ama ser e era assim até hoje.

André bateu sua saída as quatro da tarde, foi pra casa tomar um banho e se aliviou sozinho mais uma vez, pensando em Renato. André odiava o jeito que Renato não saia de sua cabeça, de nenhuma delas. Os arranhões do acidente não o incomodavam mais. Vestiu uma camiseta da sua própria banda e saiu para o ensaio, tocou e bebeu cerveja com os meninos até de madrugada e dormiu no sofá de Rafael.

André foi dormir pensando em Renato e pensou se Renato estava pensando nele também.

—-

André é um homem normal, extraordinário nas suas próprias descobertas, batalhador e bom de briga com a vida, corre atrás daquilo que te interessa, André é humano, é comum e diferente. André é o cara por quem Renato ainda não sabe que vai se apaixonar.

Continua...

Renato e André - Uma história de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora