Capítulo 21

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Daniel

Medo! Era a única coisa que eu conseguia sentir!
Melissa não entendia, mas eu sofri a cada palavra que aquele médico me disse. E cada vez que eu relembrava era pior.

Respirei fundo e apoiei a cabeça no chão gelado passando a mão pelo sapatinho que Melissa comprou para me contar que estava grávida.
E

stava deitado no chão do quarto que será da nossa princesa, já tinha indícios do projeto: alguns móveis desmontados, latas de tintas e mais algumas coisas. E eu só conseguia pensar na dor de ter que escolher uma das duas.
Não sei quanto tempo eu perdi encarando o teto do quarto, mas teve uma hora que eu senti sua presença ali. Era uma coisa inacreditável, mas aonde eu estivesse, se Melissa chegasse no local meu corpo reagia.
-Você devia estar na cama de repouso. - disse sem olhar para ela.
-Você sabe que não consigo dormir bem sem você e muito menos quando estamos brigados. - respondeu com a voz baixa. Sentei no chão e a observei.  - Posso sentar com você? - perguntou e eu concordei. Melissa sentou na minha frente com um pouco de dificuldade, sua barriga de 7 meses estava enorme. Quem olha de fora acha que ela já está entrando no nono mês, mas falta tanto ainda.
-Vai ficar me observando? - perguntou.
-Perdi esse direito também?
-Como assim "também"?
-Não quero brigar. - respirei fundo e algumas lágrimas ameaçaram sair. - Eu to cansado, os dias tem sido exaustivos. E eu...
-Eu to com medo. - sussurrou me deixando surpreso.
-Eu também estou com medo, muito medo. - peguei na sua mão. - Não consigo sentir outra coisa desde que conversei com o médico no hospital. - as lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos e eu não pensei em limpar. Melissa me abraçou e senti suas lágrimas molharem meu ombro.
-Preciso que fique forte por nós duas, Daniel. - ela segurou meu rosto entre suas mãos.
-Melissa, nunca conseguiria escolher entre vocês duas. - acariciei seu rosto.
-Você não vai precisar escolher. Me desculpa? Eu fui egoísta e isso nunca mais vai se repetir. Você e a Alícia são minha prioridade, sempre vão vir em primeiro lugar.
-Nunca suportaria ter que escolher. - chorei no seu ombro. - Eu não vou saber viver sem vocês duas.
-E não vai precisar, meu amor. - senti seu beijo por todo o meu rosto e acabei dando um sorriso fraco. - Deixa eu limpar essas lágrimas. - ela limpou as lágrimas que estavam no meu rosto.
-Olha o que eu estava olhando um pouco antes de você chegar. - peguei nosso álbum de casamento e coloquei na sua mão.
-O dia mais feliz da minha vida. - falou passando as fotos com um sorriso enorme no rosto.
-Nunca canso de ver essas fotos.
-Sabe que nem eu, tenho algumas no meu celular. Sempre estou olhando. - confessou me fazendo rir.
-Agora que nos acertamos...
-É a nossa reconciliação? - perguntou com a voz rouca. Aquilo me deixou duro na hora. Eram 3 dias sem tocar na minha esposa e eu precisava de algo antes.
-Não, quero saber o que sua mãe falou. - ela ficou séria na hora e tentou levantar, mas sua barriga atrapalhou. Então quando tentou levantar de novo, puxei ela para o meu colo.
-Melissa, precisamos contar tudo um para o outro.
-Não me orgulho do que eu ouvi.
-Quero saber mesmo assim.
-Ela disse que nunca quis ter filho, que se soubesse teria abortado. Perguntou se eu sabia quem era o pai da minha filha e outras coisas que prefiro não repetir. - sua voz estava triste. Aquilo me partiu o coração  mas a vaca da Manoela iria ouvir. Ah, com certeza iria!
-Sua mãe não merece saber o que é amor, ainda bem que seu pai se livrou dela.
-Verdade. - apoiou a cabeça no meu peito e eu acariciei suas costas. - Podemos deitar? Estou com o corpo cansado.
-Podemos sim. - levantei com ela ainda no meu colo.
-Vai chegar um dia que não vai me aguentar mais.
-O dia que isso acontecer, arrumo um jeito de te carregar. Fica tranquila! - beijei sua bochecha e a deitei na cama.
-Sempre romântico. - deitei colado ao seu corpo.
-Só pra você.
-Assim espero. Dorme bem. - fechou os olhos e segundos depois caiu num sono profundo. Fiquei a observando por mais um tempo e logo depois me entreguei ao sono.

[...]

Tinha passado uma semana desde daquela conversa com Melissa sobre a sua mãe e finalmente consegui uma entrevista com a "respeitada" Manoela Fontes.
-Sr. Daniel, por aqui, por favor. - uma senhora simpática me conduziu até a sala de reuniões das empresas Fontes. - A Sra. Manoela virá em breve. - saiu da sala e eu aguardei poucos minutos antes de uma versão da Melissa um pouco mais velha entrar na sala.
-Não costumo dar entrevistas, mas você foi bastante insistente. Qual o interesse? - revirei os olhos, foi direta como me disseram. Levantei e segui na sua direção.
-Vim te dar um recado: a próxima vez que encontrar com a minha esposa na rua não fale besteiras. Finge que não conhece, é bem melhor.
-Do que está falando? Vou chamar a segurança. - coloquei a mão no telefone antes dela.
-Você sabe bem do que eu estou falando. - ela me olhou perdida. - Manoela, você mexeu com a minha filha e com a sua. Você não tem coração? Deixou ela passando mal no meio de um shopping sabendo que grávida nenhuma pode se estressar?
-Isso não te interessa.
-Interessa sim, você mexeu com a minha esposa e ninguém mexe com ela. Entendeu? Então já vou deixando um aviso: se algo acontecer com a minha filha ou com a Melissa você vai pagar muito caro.
-Garoto, quem você acha que é pra me ameaçar?
-Serei seu pior pesadelo, é melhor torcer para que tudo fique bem com as duas ou já sabe. - dei um sorriso discreto para ela e fiquei satisfeito ao ver ela assustada. - Agora tá explicado, porque a Melissa foge de você. Você é uma mulher amarga, mal amada e vazia de todos os sentimentos bons e os mais lindos de ser vividos. - vi seus olhos ficarem ainda maiores. - Adorei nossa entrevista, Sra. Manoela. - saí da sua sala e respirei fundo antes de sair daquele prédio. Só em estar alí dentro eu já me sentia mal, mas agora eu sentia que minha consciência estava tranquila, pode se dizer.


Primeira publicação: 15/01/2017

O Jogo Do Amor - Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora