09 (Enzo)

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Nunca fui um Chef nervoso. Uma gritaria ou outra, vá lá. Mas expulsar um casal que só reclamou do ponto da carne? Bater vinte claras em neve à mão? Por fogo em meu avental enquanto flambava o peixe? Eu estava perdido.

As pessoas, condescendentes, me davam tapinhas nas costas dizendo que natal é mesmo um inferno para as cozinhas, mas eu sabia qual era meu inferno pessoal: Cecília.

Maldita Cecília. Já faziam semanas.

- Chef, o prato precisa sair da finalização. - Seu Francisco sussurrou no meu ouvido, fazendo-me despertar. Eu estava olhando um Vendetta há trinta minutos.

Ele me pegou pelos ombros, que estavam visivelmente tensos, e me arrastou até a despensa refrigerada.

- Va bene, va bene! Pare de empurrar!

- Então pare com isso! O que você tem na cabeça,  criatura? - Seu Francisco reclama, as mãos alisando o terno bem ajustado.

- Você sabe o que tenho na cabeça -  Chiei, incomodado com toda aquela conversa do meu amigo.

- Cecília fez a escolha dela, Chef. Se você não vai lutar por ela, engole essa saudade! - bateu os pés para fora, deixando-me sozinho.

Foi como se Francisco tivesse me prendido ao seu fusca azul e me arrastado pela estrada. Todo esse tempo, eu não fiz nada para que ela escolhesse ficar. Eu só sentei, à deriva, enquanto todo aquele mar de cabelos cacheados ia embora.

E como o fascínio mórbido de assistir uma batida de carro, entendi por que a palavra saudade é brasileira: porque a minha margherita também é.

Quando olhei para cima da prateleira e vi as mangas de Itarari, finalmente sabia o que fazer. Então, pelo primeiro natal da minha vida, deleguei tudo: eu finalmente tinha o meu presente para preparar.

**

Eu sabia que aquelas mangas seriam uma sobremesa para ela desde que a vi, grávida e louca.

Enquanto descascava as mangas e tirava a polpa, não deixei nenhum outro ingrediente à vista, degustando o mistério. Extensa, cheia da história de nós dois: ia entrega-la uma receita secreta de verdade.

Peneirei o açúcar até se tornar o pó mais refinado, elevando-se como uma nuvem de poeira de estrelas. As mesmas estrelas que nos assistiram dançar, descalços em Itarari. Meu caramelo, sempre feito em uma temperatura à dois passos de queimar e se perder, era como a corda bamba de vê-la se derretendo ao meu toque, moldando seu corpo com o meu. Coloquei o creme bávaro no meio de todo aquele meu delírio nostálgico, um pequeno coração sedoso do seu pescoço contra à minha boca.

Depois das horas de construção, escondi tudo - um beijo só para os lábios de quem era destinado - e olhei para cima.

Vários olhos se espalhavam por minha bancada de trabalho; olhos de desejo, que pescavam os aromas e caçavam as notas do sabor que talvez nunca provarão. Peguei uma margarida perdida em um vaso do salão - tão delicada com aquele botão amarelo minúsculo e adorável - e coloquei ela por cima de toda aquela criação como uma coroação poética. Estava terminado.

A cozinha, despertando de um sonho, voltava em passos sonolentos à trabalhar de novo. Chamei o entregador em um suspiro: estava prestes estourar uma linda bomba no Cipriani.

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Conceito visual (acrescentando a margarida no lugar do macarron) :

Conceito visual (acrescentando a margarida no lugar do macarron) :

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Oi! Este capítulo é na verdade apenas um gancho para o último. Já estou morrendo de saudades de vocês e dessa história ❤ Quem aqui já está esperando o último capitulo?

OVO FRITOOnde histórias criam vida. Descubra agora