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- Quem é você e o que faz em nosso esconderijo secreto?

Enzo tossiu. Não devia estar acostumado com coisinhas pequenas e desaforadas.

- Ele é o meu chefe - expliquei tanto para Amanda quanto para os meus amigos, rezando para que eles entendessem a dica e não me entregassem sem querer.

- Mio nome é Enzo, non "meu chefe". Fui convocado para deixar mais bonita a partida de buraco - ele sorriu para Amanda e desceu mais uma real na mesa.

- Lia está oficialmente demitida do cargo de minha parceira - Alice fez um high five com o chef. Seus cabelos lisos estavam presos em um rabo de cavalo - Amanda, acho que a Jujú acordou! Você pode tirar ela do berço para mim?

- Mãe desnaturada! - tossi, sarcástica, enquanto ia para cozinha pedir comida para todos.

**

Estava sentada perto do balcão quando Alice sentou do meu lado, segurando a Jujú no colo, que mastigava alguma coisa desconhecida.

- Adimita que está caidinha por ele - ela apontou com o queixo para a área do karaokê, onde Seu Paulo, Dona Eugênia e Enzo estavam escolhendo uma música e bebendo o resto do vinho.

- Eu estou caidinha por ele. Agora no que isso interfere no meu foco? Nada - resmunguei - só preciso descobrir essa receita logo e dar o fora.

- Precisa mesmo. Seu pai não quer te falar, mas ouvi que está um clima péssimo no Cipriani. Estão prevendo demissão em massa - suspirou, embalando Jujú - Por que você o trouxe aqui, aliás?

- Aconteceu de novo, no Guanabara. Foi horrível, Ali, todas aquelas pessoas... E ele estava lá. Eu só queria sair dali.

Alice não falou nada. Esticou a mão até tocar na minha e apertou. Assim eu sabia que ela entendia; que ela estava lá por mim mesmo passando por tanto.

- E como você está?

- Cada dia mais difícil, você sabe. A sua mãe ainda não quer ver a Jujú, e eu não devia, mas sempre levo para o pessoal...

Remexi na cadeira, desconfortável. Odiava falar sobre aquele assunto e Ali sabia.

- Passam noites, passam dias... mas não passa esse amor!

- Pelo amor de Deus! - Amanda grita, com as mãos nos ouvidos. Enzo gritava a música de Pablo do arrocha enlouquecidamente, para o telão neon.

- Madrugadas tão vazias, e eu aqui com a minha dor... - e gesticula para que eu o acompanhe. Aliado à seu sotaque, tudo parecia muito engraçado.

- Sonho e acordo sozinho, faz tanta falta o seu carinho... -acompanho, gritando também, enquanto faço graça para a Jujú.

A atmosfera nos envolveu rápido, e logo estávamos todos cantando o refrão. Era quase como se a gente fosse feliz de novo.

Olhei para Alice, e sabia o que ela estava pensando.

Era como se nada tivesse acontecido.

**

No outro dia, o Sparvoli já estava agitado quando cheguei, o suor escorrendo na testa. O verão já tinha começado, e aquela manhã beirava os 40 graus. Seu Francisco que abriu a porta dos fundos para mim, beijando habitualmente minha mão.

- Bom dia, atrasada. O chef está com ressaca e enlouquecido. Já perguntou por você três vezes.

- Eu sempre estou atrasada. Moro no fim do mundo! - sorri, vestindo o avental e calçando as luvas de borracha - obrigada por me preparar para o furacão.

OVO FRITOOnde histórias criam vida. Descubra agora