Capítulo 1

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Capítulo 1

Aprovada.

Este foi o meu resultado no concurso que eu havia realizado em minha cidade. Não achei que eu poderia passar, sinceramente. As questões estavam bem difíceis, principalmente as que eram da disciplina de matemática. E eu nunca fui do tipo nerd. Mas também não era tão ruim nas provas. Se existe um meio termo para isso, eu era em pessoa.

Terminei a minha faculdade de Geografia no ano passado, e com o resultado do concurso, eu teria a oportunidade de dar aulas. Porém, até já imaginava o que estava por vir... Alunos que só queriam tirar selfies pela sala, alunos que queriam fumar ou namorar atrás do colégio, alunos que só queriam dormir debruçados na carteira e alunos que mentiam para ir embora de qualquer jeito. Como sabia de tudo isso? Os meus estágios estavam sempre nos meus pensamentos. É lindo você ter a oportunidade de ensinar alguém, mas não é nada fácil ser um professor, porque ganha muito mal e tem que ouvir cada coisa dos alunos!

Por enquanto, deixa isso para lá. O ano não havia terminado. Ainda era 01 de novembro. Eu estava querendo muito trabalhar. Então, coloquei um currículo na loja "Sempre na moda". Essa loja continha roupas bastante caras. Todos os ricões iam lá.

Quando cheguei, confesso que não fui com a cara de ninguém. Todos eram exibidos para mim. Fiquei com vontade de sair no mesmo dia, falando sério. Mas não podia decepcionar a minha mãe. Ela estava desempregada e o meu padrasto, o Ronaldo, também. Na verdade, ele não estava desempregado por falta de emprego, mas, sim, porque tinha preguiça. Não sei por qual motivo a minha mãe ainda era casada com um traste como ele. Ele era ajudante do pastor da igreja e, por isso, dizia que não tinha tempo para fazer outras coisas.

Respirei fundo e me convenci que eu estava ali naquele trabalho por uma boa causa. No primeiro momento, imaginei que seria apenas uma estoquista, pois a dona da loja estava precisando de estoquistas. Mas me enganei perfeitamente, porque a primeira coisa que me mandaram fazer foi lavar o banheiro e depois cuidar da pequena cozinha que havia no fundo da loja. E era só isso? Não. Além de lavar o banheiro e cuidar da cozinha, eu teria, sim, minha função de estoquista, ou seja, todo funcionário naquela loja tinha que ser um "pau-para-toda-obra". Essa expressão era muito usada por minha mãe quando ela ficava nervosa, pois ela dizia que era o "pau-para-toda-obra" em casa.

Não fiquei muito satisfeita com esses afazeres todo, claro. O que eu queria mesmo era dar aula. Mas, naquele momento, era o que tinha para mim.

O problema não era só esse, infelizmente... Já falei que não fui com a cara de ninguém, mas não gostei mesmo foi da gerente. O nome dela era Angélica. Ela era uma mulher muito bonita, mas só queria saber de mandar e achar que era melhor que todo mundo ali.

Depois que terminei de limpar toda a cozinha, comecei a ajudar a outra funcionária nova, que tinha mais ou menos a minha idade e era magrinha e loirinha. Não gostei muito dela também, e senti que a mesma também não gostou de mim.

Enquanto eu estava ajudando a nova funcionária a dobrar algumas peças de roupas que estavam no balcão, fiquei olhando de longe para a tal gerente. Não sabia se era solteira ou casada. Mas de uma coisa eu estava certa: ela era muito de mal com a vida.

Minutos depois, ela me chamou:

— Júlia!

Eu caminhei até ela seriamente.

— Vá fazer um café para nós. — disse ela, me entregando uma garrafa.

Eu peguei a garrafa e fui diretamente para a cozinha. Isso seria mais um problema, porque imagina uma pessoa que não gosta de café, preparando um café! Era eu ali. Já fazia quatro anos ou mais que eu não sabia o que era uma gota de café na minha boca. Porém, eu era obrigada a fazer aquele tipo de serviço e teria até que experimentar se o café estava mesmo bom.

Minha menininha (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora