Querida campina

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TwelveCity, antigo distrito doze.

Ando pela campina que um dia foi o lugar preferido dela.
Minha avó Katniss Everdeen.
Ela era boa com arco e flecha e sempre vinha caçar aqui para o sustento da sua mãe e irmã, após a morte do pai.
Era proibido, mas ela fazia mesmo assim.
Minha avó fez muitas coisas proibidas na vida, a principal delas resultou em uma revolução histórica e eu tenho imenso orgulho de ser neta de um símbolo de tão imensa mudança.
Minha avó foi contra a opressão da antiga Capital e por causa dela, os distritos passaram a ser livres.
Vivemos uma espécie de república, como nos livros de historia existiu antes do apocalipse onde sobrou apenas este pedaço de terra que agora vivemos.
Não vivi estes tempos dificeis mas aprendo sobre eles na escola.
Além do que ensinam lá, tenho mais uma fonte importante que meus colegas não possuem: o livro dos meus avós.

Além do que ensinam lá, tenho mais uma fonte importante que meus colegas não possuem: o livro dos meus avós

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O Memory Book foi escrito antes de minha mãe nascer e conta a historia de seus amigos mortos. É uma maneira de lembra-los e homenagea-los.
Peeta fez alguns desenhos nele, o que me possibilou conhecer os rostos das pessoas que eles amaram. Entre elas está minha tia-avó Primrose Everdeen. Mais uma criança vítima do Snow.
Eu sempre leio este livro, ele me lembra o que todos tentam esquecer: o quão cruel Panem foi.

Avisto um coelho se aproximando da minha armadilha e me abaixo atrás de um morrinho de neve, fico quieta esperando ele ser pego.
Escuto um silvo atras de mim e me viro assustada.
Só vejo uma familia de perús-selvagens. Rapidamente me viro de volta e o outro animal já esta pendurado na corda.
Desamarro o coelho e o coloco na bolsa que carrego de lado.
Ando pelas árvores admirando o local.
Apesar da fuligem do antigo bombardeio que foram espalhadas em alguns dos locais, a campina esta viva, sintilando cores. Seu lago escondido esta repleto de flores e seus tubérculos preciosos, com as mais belas águas claras, brilhando com os raios do sol.

Enquanto caminho pela estrada, fora da floresta, passo pelo mercado, hospital, escola e pelas casas até chegar a Vila das Prímulas(antes chamada de vila dos vitoriosos).
Essas novas construções são mérito de Paylor que exerceu seu papel blilhantemente como presidente.
Ela foi responsável pela reforma das cidades. Primeiro a décima terceira cidade, que antes era subterranea, e depois as outras.
A vida foi ficando tranquila em cada uma delas.
Paylor também mandou erguer memorias para que se lembrassem o passado e para que não fosse repetido.
Depois de sua morte precoce, Plutarch assumiu, mas não fez muito mais.
Seu governo foi 'o governo da tecnologia' responsável apenas pela qualidade das transmissões melhorarem em todas as cidades e passamos a ter tecnologias avancadas em nossos lares.
Agora temos acesso a tv , radio, e celular, mas não damos importancia as novelas, filmes ou musicas da capital.

Ao entrar em casa a primeira coisa que ouço é:
"khaterine?"
"Mãe?" Digo virando-me para a mulher com expressão de raiva.
"Onde estava? não me diga que foi aquela floresta de novo?"
"Eu nunca vou deixar de ir aquele lugar!"
Deveríamos estar cansadas dessas repetidas conversas, mas sempre insistíamos em discutir sobre isso.
Ela havia vindo da capital para nos visitar e agora insistia que eu voltasse com ela.
Mamãe estava com uma peruca rosa mais ridícula do que o normal. Suas pálpebras estavam com uma estampa animal e seus lábios do mesmo jeito, seus cílios curvados a cinco centímetros de distancia de seus olhos. Usava um vestido rosa que a saia era muito volumosa. Ela balançava um laço na peruca, quase do tamanho da sua cabeça, quando se movia.
"Você nem parece filha dela" -eu digo cruel.
"Não vamos começar com essa bobagem, eu quero voltar para a capital o mais rápido possível"
"Eu não vou"
"O que disse mocinha? Bem, não me importa. Fique o quanto quiser. Eu  partirei esta semana."

***

Deixei o coelho na cozinha e levei comigo apenas as flores que colhí no jardim.
Entrei no singelo quartinho e fui direto a cômoda. Tirei as prímulas secas do jarro e o enchi com as novas.
Virei-me e fui em direção a cama. Vovó estava sentada encarando o jarro ao longe e eu lhe dei um beijo na testa.
"Como você esta?"
Perguntei na esperança de ser respondida. Eu sempre aguardarei o dia em que ouvirei sua voz.
"O que acha das flores, são bonitas?"
Katniss me olhou e levantou suas mãos até meu rosto e eu as segurei sobre minha bochecha. Peguei sua magra mão gélida e a beijei.
"Eu fui até a campina hoje. Você se lembra de lá?"
Ela voltou a encarar o jarro.
"Tudo bem. Vou lhe trazer algo para comer."

***

"Peeta, peeta!" Chamei meu avô pela janela da casa. Ele estava no jardim cuidando das prímulas da vovó. Ele as plantou lá quando voltaram para casa após a revolução. Katniss sofria pela perda de sua única irmã e o vovô fez esta homenagem a Prim.
Isso a consolou por um tempo, mas logo o torpor de todas as perdas voltou a consumi-la.
"Onde está o café da manhã?" -perguntei ao vovô que estava acenando do jardim ao longe. Eu acenei de volta sorrindo.
"Os pães estão com aquele velho insuportável. Um momento, eu vou buscar!"- ele gritou se referindo ao Haymitch. Peeta virou e foi até a casa ao lado.
Corri até a porta e fui á escada esperar pelos pães.
A paisagem da nossa casa esta incrivelmente linda. Repleto de vida, com flores e árvores plantadas e cuidadas pelo meu avô.
Eu observo a luz dos raios da manhã derreter a neve baixa e aquecer levemente minha pele gelada. Talvez não exista sensação melhor do que esta, estar em paz em seu lar com quem você ama.
"Não sei como a Vick pode preferir estar na capital."- eu susurro de olhos fechados sentindo o pouco calor dos raios em minha pele. Eu abro um sorriso.
Sinto um impacto em meu ombro esquerdo.
"Errei! Era pra bater no rosto." Tom diz da entrada da vila. Ele havia jogado uma bola de neve em mim.
"Você não fez isso!" grito sorrindo e corro até ele. Com um empurrão o derrubo na neve em frente ao grande portão de entrada e começo a socá-la em sua boca, mas logo ele vira o jogo. Me tira de cima dele e se põe no meu lugar. Ao invés de se vingar ele me beija de leve e eu derreto. Continua me beijando.
Peeta pigarreia e nós dois nos levantamos num pulo.
"Aqui esta Kat. Leve para dentro." Ele me entrega uma cesta de pães e biscoitos.
Eu volto em direção a casa e Tom me segue.
"Tom... já sabe!" -peeta diz.
"Vovô, ele só vai ver ela. Por favor, só hoje!"- eu imploro.
Ele nos encara por alguns segundos.
Tom havia acabado de chegar de Two City (antigo distrito dois) e havíamos passado dois meses sem nos vermos.
"Meia hora dentro de casa e quero que venham aqui para fora, á minha vista."
Pulei no pescoço do vovô e lhe dei um abraço apertado.
"Obrigado!"-Eu o disse.

"Estamos namorando a um ano e ele ainda nos trata assim! Não sei até quando vai durar essa bobagem entre os nossos avôs..." -Tom diz quando entramos em casa.
"Sabe que não é por isso... o Peeta é como um pai para mim, o pai que eu não conheci."
"Seu avô me odeia porque sou neto de Gale Hawthorne, e ninguem me convense do contrário."
"Se põe no lugar dele. Sua neta de 14 anos namorando um homem de quase 20. Ele tem motivos maiores para se preoculpar além de uma 'rixa' com Gale. Tom, existe outras coisas no mundo para se preoculpar além dos Hawthorne's." - Tom me puxou para a parede e me deu um beijo.
Por um momento o tempo pareceu parar e só existiamos nós dois em todo o universo, até que eu o empurrei olhando para os lados.
"Ainda é capaz de dizer que existe outras coisas além de um Hawthorne?" - ele deu um sorrisinho de lado.
"Idiota!"- Dei um selinho nele e fui até o quarto da vovó. Ele me seguiu.

***

"Aqui esta vó, coma tudinho" - coloquei dois pães e alguns biscoitos na bandeja e a encaixei em cima de suas pernas. Ela estava sentada na cama.
"Pega o suco pra mim!"- apontei para a bancada e Tom foi busca-lo.
"Obrigado! aqui vó..."- virei o conteúdo do copo sobre seus lábios e ela bebeu lentamente.

Depois de terminar a refeição Katniss abriu um sorriso para Tom e segurou minha mão.
"Veja! ela te reconheceu!" -eu disse animada.-"vovó, este é o Tom. Lembra dele? A última vez que o viu ele tinha a minha idade... agora ele tem 18 anos.
Tom se curvou sobre ela, que me soltou e segurou o rosto dele com sua mão gelada.
Eu me levantei e busquei um tecido para aquecê-la no armário.
"Vamos ela precisa voltar a descançar."- eu disse colocando um xale sobre seus ombros.
"E precisamos ficar á vista do Peeta..." -ele disse incomodado.
"Isso também!" - eu o falei com um sorriso.
Tom beijou a mão de Katniss e saímos para o jardim.

Continua...

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