Jogos vorazes- O novo continente

Prólogo

Peeta Mellark

Amanhã é 8 de maio e preparo o melhor bolo que posso fazer para Katniss. Os fantasmas ainda a assombram, depois de tantos anos, e eu não estou totalmente curado.
Ainda acordamos no meio da noite com seus pesadelos, apesar deles terem se tornado menos insistentes, mas em compensação seus problemas de atenção estão piorando. Ela cada vez se comunica menos conosco.
Eu sempre digo a ela que nossos filhos nos ajudam a ficar bem e não poderia ser diferente.
Estou feliz por nossa filha ter voltado da Capital a alguns meses atrás. Espero que consigamos convencê-la a morar conosco novamente.

O menino brinca no jardim com Nickolas Odair e os Hawthorn's.
Minha esposa aparece na escada e eu corro para ajudá-la,ela não pode ver a surpresa antes da hora. Acho que desceu para perguntar novamente onde nossos filhos estão.
"Oi meu amor"
"Oi peeta"- ela me dá um selinho-"Onde estão nossos filhos?"- ela pergunta.
Eu ponho minha mão em sua cintura e a giro levando-a de volta ao quarto.
"Victory foi ao hospital fazer o exame do bebê e Phillip esta no jardim com Tom, Matt e Nick."
Katniss se deita na cama e logo adormece.
Não consigo controlar uma lágrima que insistiu em cair ao observar seu rosto cansado.
Carregamos, fisicamente e psicologimante, traumas dos jogos vorazes.

Volto para baixo e observo o bolo de quatro andares, com os desenhos preciosos de coisas que representam nossa familia, a campina e os nossos amigos. Fiz Prímulas, tordos, o lago, nosso dente-de-leão. Em destaque estão a imagem de Prim, Clara e Phill. Além dos rostos dos nossos filhos.
O bolo esta pronto e passo para os biscoitos.
Enquanto ponho uma fornada no forno penso em Victory.
Temo por ela, pois tem apenas 15 anos e não acho que tenha responsabilidade o suficiente para cuidar de uma criança, ainda mais sem ter a ajuda do pai.
Depois de mais alguns minutos ela chega com uma cara fechada.
Ultimamente ela se mantinha assim e eu sentia falta do seu sorriso lindo. Limpo minhas mãos na calça e vou até ela. Como de costume, ela beija minha testa bem onde as chamas deixaram uma eterna marca.
"Como ele esta?"- pergunto ansioso.
"É uma menina papai"-ela responde repreendendo um sorrisinho de lado.
O meu sorriso com certeza é maior do que o dela e corro até a janela da sala onde dá para ver o jardim e grito para Annie, que cuida das crianças.
"É uma menina! Annie, é uma menina!"
"Qual vai ser o nome dela?"- pergunto me virando de volta.
"Katherine"- sou respondido mas não por Victory. Katniss esta no topo da escada sorrindo.
Olhamos para ela, que começa a descer os degraus.
Quando ela chega à sala abraça nossa filha. Victory por sua vez não se move. Annie agora entra pela porta, e elas começam a conversar sobre a bebê.
Eu corro para o cheiro  que vem da cozinha, ainda sorrindo.

No final do dia Madge veio buscar as crianças. Eles não vão voltar para o dois agora, ficarão até amanhã , mas Gale não veio com ela.
Ela é muito amiga de Katniss.
Não sabíamos se ela tinha morrido no bombardeio anos atrás, mas na verdade, ela e sua família estavam na capital no dia que aconteceu. Depois da revolução ela e Gale se reaproximaram e acabaram lentamente se apaixonaram. Logo depois eu e Katniss nos acertamos. As visitas de Madge fazem bem a Katniss e eu sou grato por isso.
Vejo as duas entrando pela porta da sala.
"eu estou indo Peeta, vamos dormir na casa da Annie."- Madge diz.
Me levanto do sofá e aperto sua mão.
"Obrigado, sempre que quiser voltar com as crianças voce é bem vinda"- digo.
Katniss se despede sorrindo. Esse é um dos poucos momentos em que a vejo aparentemente livre de sua dor e confusão. E esses momentos estão se tornando cada vez mais raros.

***

Dia seguinte:

Katniss Everdeen

Acabo de acordar e não vejo Peeta ao meu lado na cama.
Me viro e encaro a jenela onde a luz da manhã entra, é o meu aniversário. Ouço Peeta e o nosso filho de longe. A risada mais alta pertence a Phill.
Ele fez 8 anos e esta começando a aprender sobre o nosso passado na escola.
Me levanto e desco lentamente a escada ainda ouvindo a brincadeira no jardim. Abro a porta e a luz do lado de fora enche a casa. Fecho meus olhos e os abro lentamente depois de alguns segundos.
"Katniss!"- Peeta grita de longe com um sorriso acenando para mim e eu forço um sorriso de volta.
Eles estão sentados na grama.
Nossa filha esta de pé em frente as prímulas que Peeta cultivou e eu encaro sua barriga de oito meses.
Peeta continua acenando.
Fasso um gesto dizendo que já vou e me viro para dentro de casa.
Passo pela cozinha, e paraliso ao ver um lindo bolo confeitado com as mais belas imagens. Esbarro em uma cadeira e acabo parando. Nele esta minha familia, meus amigos e meus lugares preferidos. Uma verdadeira obra de arte.
"Oh Peeta"- susurro.
Minhas lágrimas mancham minha vista.
Minha mãe morreu alguns anos atrás e eu sinto saudade.
Uma dor familiar nocauteia meu coração e agora estou sentada no chão com a cabeça entre as pernas.

•Gale me ajudou nos momentos mais difícies, ele cuidou da minha irmã quando me voluntariei.
•Madge me deu o broche do tordo.
•Cinna me reconfortou.
•Rue me salvou na arena, ela foi uma boa amiga.
•Thresh poupou minha vida por eu ter ajudado Rue.
•Finnick salvou a vida do Peeta.
•Mags se voluntariou por Annie, ela se sacrificou por nós na arena...

Fasso e refasso a lista mentalmente tentando afastar o sentimeto terrível.
"Voce estragou a surpresa!"
Peeta diz choroso e afaga meus ombros, mas já sinto a nuvem chegando.

Acordo gritando após um sonho em que Prim me chamava para a morte. Junto a ela estava minha mãe e meu pai.
Ouço da sala o grito de Victory e corro para ver o que é.
Ela esta em trabalho de parto.
Peeta não esta em casa, nem Phill. Desco perplexa com a situação. Annie toma conta do assunto e logo o choro do bebê enche o espaço. Encaro Madge que tambem não sabe o que fazer.
"Minha neta!"- susurro.
A mulher trêmula segura uma bebesinha magra em seus braços.
Sua pele frágil é parda e ela tem uns tufinhos ondulados no topo da cabeça. Annie move seus braços até mim e me entrega o anjinho frágil.
Eu tento recusar por medo de derruba- la mais ela insiste.

Eu balanço o bebê, agora enrolado, em meus braços tentando acalma-lo.
Victory esta mal encarada e eu aproximo Katherine de seu rosto.
"Voce precisa amamenta-la pela primeira vez"
Com o rosto virado, Victory apenas responde:

"Tire-a daqui, não quero vê-la".