11. Como se preparar para um julgamento (Parte I)

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A sensação de narrar os acontecimentos que precederam sua própria morte é um pouco estranha, sabem? Meio difícil de aceitar ou se acostumar, que seja. No entanto, esse não é o foco, está bem distante de ser, a questão é que após quatro meses e meio eu nem mesmo sabia mais o que fazer. A minha vida havia sido revirada de uma maneira que nunca imaginei e finalmente chegara a hora de encarar um dos meus maiores medos depois de tudo que aconteceu, Briana.

Sim, a Britt entendeu o que deveria fazer e correu o mais rápido que pode até a mansão escura, de acordo com o que a mamãe me contou, ela passou dias tentando desvendar os mistérios daquela mansão abandonada em que nós três brincávamos quando pequenas e após cerca de um mês finalmente conseguiu libertar a Briana, que apareceu em todos os jornais como tendo sido libertada de um misterioso sequestro que a aprisionou por cerca de dois anos, até que uma de suas amigas recebeu uma pista e foi investiga-la. Assim, a desaparecida garota Summers finalmente voltou ao seu lar. Desde então, a mamãe não para de falar no quanto sofreu por todo esse tempo e anda procurando formas de descobrir quem "sequestrou" sua amada filha. Mal sabe ela.

Dessa forma, aqui estou eu com a mão na maçaneta da porta pensando em todos os momentos que precederam o meu assassinato, porque ao entrar nessa casa é isso que vai acontecer, a minha morte.

- Quando você se sentir pronta é só entrar, querida – Mamãe colocou o braço em volta do meu corpo de maneira protetora – Eu sei que você passou por muita coisa, mas aqui é o local mais seguro para você, não se preocupe.

- Eu sei, mamãe – Dei-lhe um beijo na bochecha e uma lágrima desceu – Eu sei – Repeti tentando convencer a mim mesma e girando a maçaneta lentamente

- SURPRESA! – Um coro animado foi feito e algumas serpentinas voaram – BEM-VINDA DE VOLTA!

Qual não foi minha surpresa ao ver que todos os meus amigos estavam ali para me receber depois desses dois traumáticos meses em que não pude receber uma visita que não fosse da mamãe. Porém, nada disso foi o suficiente para me fazer esquecer do meu julgamento seguido de funeral que estava por vir. Olhei para todos os lados e não a encontrei.

- Ah! Muito obrigada! – Dei um sorriso falso – Não imaginam quanta falta senti de cada um de vocês.

- A minha também? – Briana se aproximou com um bolo e um sorriso incrivelmente falso no rosto – Sentiu falta da sua irmãzinha sequestrada?

Olhei para ela em profundo pânico e minha mais rápida reação foi cair em prantos e a abraçar forte.

- Desculpa – Sussurrei – Mil desculpas.

- Então, a poderosa Blair Summers é capaz de se desculpar? – Sussurrou de maneira sarcástica – Quem diria, não é mesmo?

- Tão lindo poder ver minhas duas filhas finalmente juntas novamente – Mamãe estava aos prantos, mas sem perder a sua característica classe de sempre – Sonhei tanto com esse dia.

Nos abraçamos forte pelo que pareceu uma eternidade e ao soltar do abraço, Briana acendeu uma vela de unicórnio que estava no bolo e me olhou com um sorriso imenso.

- Qual o seu último desejo, Blair? – Sussurrou

Um milhão de momentos passaram pela minha mente naquele momento e tudo o que fiz foi permanecer no meu papel de garota em sofrimento, fechei os olhos e fiz um simples desejo. Ao abri-los novamente, assoprei a vela e coloquei o dedo no bolo com toda classe possível para provar o seu sabor.

- Hm... – Sorri – Delicioso.

As garotas correram do canto em que se encontravam e vieram sorridentes me aconchegando num abraço coletivo extremamente caloroso. Assim, Briana se afastou e foi cortar o bolo para distribuir aos convidados.

- Precisamos conversar – Sussurrou Britt em meu ouvido – E não pode esperar.

- O que houve? – Questionei curiosa – Aconteceu algo ruim?

E foi ao fazer essa pergunta idiota, que notei o quão burra estava sendo, afinal, minha preocupação não deveria ser apenas com a Briana, pois fui eu que dei a informação a Britt para que ela pudesse salvar a Briana.

- Acho que você sabe muito bem do que estou falando.

- A biblioteca deve estar mais tranquila, vamos para lá sem que os outros percebam – Coloquei meu braço ao redor do corpo dela e fui caminhando vagarosamente rumo a parte um do meu grande julgamento.

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