14. Como tentar evitar seus monstros

8 0 0
                                    

Esse é aquele momento em que sou obrigada a explicar a vocês o quanto as últimas semanas passaram rápido e foram cobertas de diversos acontecimentos que somente agora eu mesma pude digerir, não é? Então, por onde devo começar? A princípio meu plano de destruir todo o império do Sr.R que mais parecia uma loucura e tentativa de suicídio, foi tomando forma até o ponto em que todas as provas foram entregues a justiça e um julgamento silencioso foi iniciado. Nada que valha a pena perder muito tempo descrevendo, acho. Além disso, as aulas seguiram normalmente e apesar do retorno ao colégio ter sido levemente estranho, devido a todos aqueles olhares de canto de olho e todas as especulações do "Porque a garota popular havia sido atacada por uma gangue no meio da rua?", comentários sempre existiram, não é mesmo? Entretanto, nem tudo foi extremamente estranho, afinal o Hugo resolveu agir novamente e me convidar para um encontro (generoso da parte dele, não acha?). Sendo assim, aqui estou eu sentada numa mesa com vista para um belo lago em um restaurante extremamente chique e extravagante, exatamente como gosto.

- Então, o que achou do vinho? – Deu um longo gole na taça que já estava quase no fim – Fiz a escolha certa?

- Já provei melhores – Dei um breve gole e abri um sorriso tímido – Mas você não está se saindo mal, posso afirmar isso.

Deu um sorriso de lado e brincou com o anel que estava em meu dedo.

- É lindo – Sorriu concentrado – Quer dizer, você é linda.

- E você é péssimo fazendo elogios – Dei uma longa risada que o deixou levemente rubro – Deve ser esse o seu charme.

- Acho que sim – Encaixou a mão na minha e sorriu – Espero que isso seja o suficiente para conquistar uma pessoa.

OK! Você deve estar pensando "Qual o problema dessa garota? Ela gosta dele, mas age como se não gostasse. Ela está passando por um milhão de problemas mais importantes e parece não se importar. Ela parece estar fugindo dos próprios problemas. Espere..." o último pensamento definitivamente seria o meu, afinal, dizem que quando temos muitos problemas, nos apegamos às coisas mais fúteis na tentativa de fugir deles, não é mesmo? Ao menos foi isso que escutei...

Sendo assim, o restante da noite seguiu na maior tranquilidade possível e aos poucos fomos nos conhecendo e ganhando intimidade um com o outro, algo bastante intenso para um primeiro encontro, ou ao menos para mim. Com isso, ao chegarmos à porta da minha casa finalmente pude agradecê-lo da melhor maneira que seria capaz de fazer. Sabem do que? Ele beija muito bem, obrigada.

- Boa noite – Dei um sorriso e o beijei mais uma vez – E obrigada por tudo.

Ele não disse nada, apenas me beijou novamente e ao se afastar deu um breve sorriso.

***

E aqui termina todo e qualquer momento de fofura em toda a minha história... Triste? Talvez... mas fazer o quê não é mesmo? O dever me chamar. Desse modo, ao acordar na manhã seguinte tive de ir mais uma vez a um dos incríveis encontros com o detetive do caso Blueprints.

- Bom Dia, senhores! – Minha mãe falou de maneira decidida – Espero que esse seja um dos últimos encontros.

- Provavelmente será o último, sra. Summers – O detetive estendeu a mão para que pudéssemos apertá-la. Nenhuma de nós o fez – Enfim, temos notícias que podem lhes agradar.

O encaramos de maneira ansiosa, já que não aguentávamos mais as sessões de investigação que cobriram as últimas semanas.

- O caso vai ser julgado em três semanas – Falou animadamente – O juiz decidiu que as provas apresentadas são suficientes para a realização de um julgamento e o sr. Raul Blueprints, assim como outros envolvidos já foram intimados a comparecer.

- Isso significa que eles serão punidos por toda a desgraça que já fizeram? – Cuspi as palavras depressa – Eles serão condenados por terem destruído a minha vida?

- Bem, eles serão julgados e certamente com todas as provas que temos e o seu testemunho chave serão condenados a pagar por cada um de seus crimes.

- O testemunho dela? – Ela me olhou surpresa – VOCÊ VAI TESTEMUNHAR, BLAIR? VOCÊ ESTÁ LOUCA? EU JÁ SUPORTEI DEMAIS EM TER QUE TE VER ENVOLVIDA COM TUDO ISSO, JÁ SUPORTEI O SUFICIENTE EM SABER QUE VOCÊ ESTEVE NO MEIO DE ALGO ASSIM E AGORA TEREI QUE TEMER MAIS UMA VEZ PELA SUA VIDA? – Cuspiu as palavras violentamente – NÃO MESMO!

- Mamãe... O meu testemunho é a chave de toda a acusação contra eles – Apoiei a mão em seu ombro – Sem o meu testemunho as chances de condenação deles diminuem drasticamente – Coloquei o dedo no queixo dela e levantei seu rosto para que pudesse me olhar nos olhos – Eu sei o quanto isso a deixa assustada e o quanto eu já a assustei com tudo isso, sei do medo, dos pesadelos, das cicatrizes, dos choros, sei de tudo isso, mas é algo que você precisa me deixar fazer, é algo que preciso do seu apoio para fazer.

- Minha filha... – Lágrimas desceram descontroladas molhando suas bochechas rosadas – Eu não aguento mais te ver passando por tudo isso, não aguento mais ter medo de te perder, ter medo de que algo te aconteça e me sentir culpada eternamente. Eu simplesmente não consigo mais...

- Mãe – Limpei suas lágrimas – A senhora precisa conseguir, por mim. Será a última vez... Depois disso poderemos viver tranquilas - Aquela era uma das primeiras vezes na vida que tive a oportunidade de vê-la chorar sem ter vergonha de demonstrar suas fraquezas – Eu prometo.

Não disse nada, apenas balançou a cabeça afirmativamente e limpou as lágrimas do rosto se recompondo e em questão de um minuto voltando a ser a forte e imponente Mad Summers.

- Nos vemos em três semanas, Bair – Estendeu a mão e dessa vez ambas apertamos e nos despedimos com um aceno de cabeça – Até logo!

Mal sabia ele...

Garotas de PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora