4. Como fazer o Halloween

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- Acho extremamente engraçado o fato de ter nascido no halloween, irônico? Provavelmente - deu uma leve risada

- Oi Bri - Corri para abraçá-la - Achei que você nunca voltaria!

- Não resisti, nunca poderia perder seus 18 anos - Sorriu retribuindo o abraço - Mas, não voltei, apenas vim te ver.

- Como não? - Elevei um pouco o tom de voz - A mamãe está enlouquecendo aos poucos com o seu desaparecimento, você não pode simplesmente ir embora e fazer isso com ela.

- Tivesse pensado nisso antes de me rejeitar e me colocar como segundo plano a vida toda - Checou sem pressa as unhas - Ela nunca me deu atenção, agora já não preciso mais disso.

- Você não pode...

- Blair! Ah minha filha, você está... Eu... estava... te chamando... - Gaguejou várias vezes até que começou a chorar - Briana!

- Mãe.

Mamãe não esperou nem mesmo um segundo para se jogar nos braços da Briana e cair em prantos, ela precisava muito daquele momento.

- Onde você esteve? O que andou fazendo? Você está bem? Te fizeram...

- Não adianta fingir que agora se importa, Mãe - Entoou as ultima palavra de forma desgostosa e foi se encaminhando as escadas - Você nunca se importou, não finja ser o que não é.

- O que eu fiz pra merecer isso? Onde eu errei?

- Apenas tenha calma, mamãe, logo ela vai perceber que sentiu tanto sua falta quando você a dela - Subi as escadas - Amo você.

***

- Você não muda mesmo.

- Não vim tratar de problemas familiares com você, Blair - Andou de um lado pro outro - Eles voltaram.

Entrei em pânico.

- Mas eles disseram que não voltariam mais.

- Voltaram e estão atrás de mim de novo, fui perseguida onde estava, por isso, fui obrigada a voltar - Ponderou o que diria em seguida - Acho que devemos continuar dessa forma por mais algum tempo até que tudo se acalme

- Preciso saber o motivo - Fiz uma pausa - E, quem são eles?

- Tudo o que você precisa saber é que nem sempre fui a pessoa exemplar que você imagina - Sentou-se na cama - Há alguns meses me envolvi com algumas pessoas das quais me arrependo de ter conhecido e quando resolvi mudar de vez e deixar tudo, a perseguição começou.

- É a minha cabeça ou a deles - Complementou

- O que precisamos fazer?

- Procurar roupas - Sorriu com o canto da boca - Temos uma festa para ir.

***

A casa em que a festa acontecia, em hipótese alguma, poderia se quer receber o nome de "casa", era pouco para descrevê-la.

Constituída por grandes pilastras de granito escuro e brilhante, o pátio da imensa mansão encontrava-se lotado de pessoas em deslumbrantes roupas, dançando ao som de música clássica, todos possuíam máscaras em seus rostos, todas iguais, pretas. O teto do grande salão era recheado de luminárias de cristal reluzente e o mesmo possuía grandes ornamentos de gesso. Dos dois lados do pátio estavam duas escadas brancas deslumbrantes que levavam a lugar nenhum, no que parecia uma imensa escuridão. Briana subia as escadas lentamente rumo a escuridão.

- Pra onde está indo? - Sussurrei tentando acompanhar o seu passo - Está tudo escuro e não há ninguém por aqui, a festa é no pátio.

- Não percebeu que a nossa festa é aqui? - Desapareceu na escuridão - Vamos!

O primeiro andar da mansão estava completamente coberto pela escuridão, não era possível enxergar nada, ainda assim, seguimos nos guiando pelas paredes, as vezes nos batíamos em alguns obstáculos ou tropeçávamos sobre objetos, mas não sentíamos nenhuma porta nas paredes daquele andar.

- Tem algo aqui - Briana cochichou

Atravessei o corredor com medo de me bater em algo, um passo de cada vez, até encontrar a parede do outro lado.

- Uma porta?

- Ao que parece sim, não tenho certeza.

- O que fazemos aqui mesmo?

- Precisamos encontrar alguém antes que esse alguém nos encontre - Respirou devagar - Antes que ele me mate.

Um ruído cada vez mais forte e próximo de correntes ecoou vindo do lado que acabaram de vir.

- Ele está aqui - Briana conteve a respiração - Precisamos encontrar algo antes.

- Como vamos sair daqui?

Os ruídos ficaram cada vez mais altos e de repente foram interrompidos por um barulho de clique, a porta havia sido aberta.

- Como fez isso?

- Não fiz - Adentrou no desconhecido

- Me lembre de nunca mais aceitar ir a uma festa com você.

***

O quarto estava completamente escuro e ao entrarmos a porta pela qual passamos automaticamente se fechou, deixando tudo pra trás.

- Que lugar é esse?

Briana não respondeu, mas em questão de segundos todo o local se acendeu. Era um quarto bastante grande e inteiramente branco, do lado oposto ao que estavam havia uma série de espelhos lado a lado, cobrindo toda a parede.

- Estamos no lugar certo - Briana sentou-se no chão - Seja silenciosa

- O que estamos fazendo aqui? Você prometeu ser sincera

- Não posso contar nada além do que contei, Briana - Falou num tom calmo - Sim, já podemos conversar normalmente

- Mas... Achei que deveríamos continuar assim

- Não, a partir de hoje voltamos a ser quem éramos - Respirou fundo enquanto levantava-se - A verdadeira Blair Summers voltou

- Mas...

- Nada de mas, Briana, sei que foi maravilhoso ser eu por esses dois anos, mas já chega. Cansei de fugir - Caminhou na direção dos espelhos - Mas pense pelo lado bom, você e a mamãe finalmente começaram a se dar bem, hoje pela manhã foi apenas uma prova disso. Permaneci agindo como você sempre agiu, mas agora cabe a você decidir o que fazer.

- Mas Blair, você... Você demorou tanto a voltar e...

- Silêncio - Tocou as mãos em um dos espelhos - Eles chegaram

Num estrondo ensurdecedor todas as luzes se apagaram.

- Blair? Blair? - Gritei tentando enxerga-la - Blair? Isso não tem graça

- Não pra você - Sua voz parecia distante

Tateando as paredes, calmamente procurei a porta em busca da saída pelo lugar do qual havia entrado.

- Não é possível - Sussurrei girando a maçaneta diversas vezes - Como pude confiar em você depois de tudo, Blair? - Perguntei a mim mesma - Depois de tudo que fiz por você...

Não pude fazer nada antes que houvesse um estrondo e algo se chocasse contra a minha cabeça.

Garotas de PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora