Capítulo III

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    Narrado por Fernando.

O horário de almoço se aproxima e sigo em direção ao corredor para entregar o restante da papelada para Rossie. Meus pensamentos me deixam atordoados e suspiro ao chegar ao meu destino. Na pequena placa da porta está escrito consultório 04. Minhas mãos movimentam a maçaneta sem exitar.

- Pois não? - a mulher tem cabelos negros em tom azulado, seus olhos são instigantes e estranhamente familiares, o uniforme com detalhes casuais e diferenciados me fazem chegar à uma única conclusão e me pergunto. Onde está Rossie?

- Pensei que está fosse a sala de Rossie. - comentei enquanto ajeitava a pasta embaixo do meu braço direito, esse gesto fez a mulher dirigir seus olhos diretamente ao meus, desconfiada.

- Esse é o meu consultório. Sala 14. - sua voz soou um tanto grave, menos feminina que o seu rosto, procurei por seu crachá mas ela não tinha um, ou pelo menos não estava usando um. - Deve ter confundido as salas Sr. Fernando.

- Sim. - respondo um tanto sem graça - Confundi o número das placas.

Suspirei mais uma vez ao fechar a porta atrás de mim, meus olhos foram até a placa para observa-la outra vez e, como a mulher argumentou, está sala é o consultório 14 e não o 04 como imaginei. Mas eu poderia jurar que havia enxergado a placa certa.

Volto ao início do corredor para iniciar a contagem decrescente, me sinto atordoado e patético por fazer isto, mas não posso evitar. Ando rapidamente sem paciência, minha visão ameaça escurecer e me apoio na parede ao lado de uma das portas. Consultório 03 consigo assimilar, sei que o consultório 04 tão sonhado está ao lado, à direita.

- Olá Rossie. - cumprimento assim que fecho a porta atrás de mim, minha respiração ofegante me faz sentir como se estivesse chegado com vida após a guerra.

- Olá, está tudo bem? - seus olhos ocupados me observaram em dois segundos e rapidamente voltaram ao ponto em que estava antes. - Está mais pálido que o normal.

- Quem é a mulher no consultório 14? - questiono minha colega de trabalho, embora ela não esteja se dando o trabalho de me ouvir.

- Alguns vieram para cumprir a tabela de porcentagem na empresa, sabe o que isto significa não sabe? - Rossie parecia cansada, seu rosto expressava apenas uma frase você está com febre Sr Fernando.

- Que só estarão aqui hoje e estão aproveitando a ocasião para bisbilhotar o que andamos fazendo? - meu comentário sarcástico saiu mais espontâneo do que eu esperava, Rossie também não contava com minha sinceridade. - Isto explica a falta de crachá em nossos companheiros?

- Isto explica tudo. - Rossie parou por um momento e suas mãos me entregaram um pacote fechado daquilo que vim buscar, minha papelada. - Aqui está a recompensa.

Sorri irônico observando a minha tão valiosa recompensa, só de olhar para tanto papel já me imagino tendo ataque de nervos.

- Ah! - Rossie chama minha atenção me impedindo de sair pela porta desejada. - Deixe eles em paz.

Atentando para o conselho de Rossie decidi que não seria muito agradável tirar a paz dos meus colegas de trabalho, retornar para minha sala pareceu uma boa ideia já que perdi toda a minha fome.

Parado diante da porta aonde estava escrito viagens panorâmicas acabei por ficar alguns segundos fitando a placa minúscula, outra vez, patético. Mas o que poderia fazer? Minha visão não ajuda muito, os óculos fazem mais falta do que posso admitir.

Após refletir o suficiente sobre as placas, decido me acomodar na cadeira do meu consultório. Estou lento, meus pensamentos também estão, algo que não se refere ao sono ou ao cansaço físico, talvez seja o desgate emocional.

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