Capítulo I

198 27 56
                                    


Um século já se passou e falta poucos meses para que as escolhidas completem dezoito anos de idade.
___,,___

Narrado por Yohana.

Como seria se as coisas resolvessem mudar de repente? Até então era essa a pergunta que pairava em minha mente. Estalei os dedos das mãos enquanto me sentava na cadeira, diante do espelho não muito extenso, comecei a me preparar para pentear meus longos cabelos escuros.

  Meus olhos que até então permaneciam fixos em meu reflexo, se desviaram para um canto da parede onde estava o relógio pequeno e negro. Consigo escutar suas batidas frenéticas em um eterno tic-tac. Seis horas, marca o relógio e, o ponteiro maior continua incansável marcando seus infindáveis segundos, até que por fim, canso de observa-lo. Como relâmpago rápido e claro a pergunta voltou com mais força. Como seria se as coisas resolvessem mudar de repente?

E se realmente mudassem?
Mas não é como se alguém se importasse com esses pensamentos bobos e vazios.

Enfim, hoje é mais um dia. Um dia como todos os outros. Dias que se repetem incensáveis, como o ponteiro do relógio. Não sabemos ao certo até quando irá durar. Talvez em algum momento seja interrompido pelo desgaste da pilha ou até mesmo o fim de uma vida.

E ainda assim, a pergunta estranha insistia em ficar por mais tempo. Como seria se as coisas resolvessem mudar de repente?  Ouvir essa pergunta pela terceira vez me causa calafrios, a voz é desconhecida e é como se eu pudesse sentir a presença de mais alguém no quarto embora eu tenha plena certeza de estar só.  E pela quarta vez eu consegui ouvir nitidamente um sussurro: E seria se as coisas resolvessem mudar de repente?

- Ora! Que mude! - Acabo soltando a frase mais alto do que gostaria. Sinto que de alguma forma não voltarei a ouvir a voz estranha, mas me arrependo de ter pensado alto assim que escuto um barulho de par de saltos altos se aproximando pelo corredor, cada vez mais perto.

- Dormiu bem querida? Parece mal humorada.- Marcela está mais pálida do que o normal, seus cabelos curtos e claros estão presos em um coque alto. Seus olhos cansados mostram visivelmente suas olheiras e ainda assim está bonita! A sua roupa impecável como sempre a valoriza e a torna a mulher elegante que é.

- Eu estou muito bem - sorri enquanto tentava mudar a fisionomia do meu rosto, não contaria as coisas estranhas que estão acontecendo comigo e sei que minha mãe não entenderia.

Hoje é mais um dia. Mais um dia como todos os outros.

Termino de fazer as tranças em meus cabelos e decido que estou pronta para ir ao colégio.

-Bom dia! - Marcela cumprimenta assim que sua visão me alcança descendo pelas escadas em direção a cozinha.

- Bom dia. - devolvo o cumprimento e a abraço lhe surpreendendo.

Minha mãe me abraçou de volta, me apertando em seus braços, poderia dizer que quase ouvi um soluço vindo dela, e me preparei psicologicamente caso ela viesse chorar, pela primeira vez, na minha frente.

 Isso era o que eu esperava, mas ela não o fez. Pensei que talvez ela tivesse conseguido se conter, mas ao olhar diretamente para seu rosto percebo que tudo aquilo não passou de uma ideia criada pela minha própria cabeça, seu rosto está longe de qualquer coisa relacionada à tristeza ou até mesmo de vontade de chorar.

A floresta NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora