CINCO - Caitlyn

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Mais um dia começa e como de costume eu me arrumo e ajudo a Pâmela. E a cada dia eu anseio mais por sair daqui. Pâmela me tira dos devaneios fazendo uma pergunta.

- Quando você resolveu que queria ser freira?
- Eu não resolvi. Não estou aqui porquê quero.
- Não? Então por que ainda está aqui? Geralmente, quase sempre, são as mulheres que se preparam pra isso porque escolhem essa vida e viver pra Deus. Se você não quer, isso é errado... É pecado.
- Meus pais me obrigaram a vir pra cá porque beijei um garoto. Não fiz faculdade. Se eu saísse daqui contra a vontade dele, pra onde eu iria e como eu iria me sustentar? Não tenho amigos. Minha única opção é esperar que eles venham me buscar daqui a 362 dias.
- Você conta... Não vê a hora de sair daqui né?
- Sem dúvidas.
A Madre do convento abre a porta do nosso quarto e avisa que tem alguém esperando pela Pâmela e sai.
- Deve ser meu irmão. Vem comigo.
- Ah, claro. Leve o terço. Faremos as orações logo em seguida.
Pegamos o terço e saímos. Quando nos aproximamos da entrada, um perfume forte e delicioso da de encontro conosco.
Novamente fico encarando o homem loiro que dessa vez está de terno. Ele fica tão bem de terno.
Ele, como da primeira vez abraça forte a irmã, então volta seu olhar pra mim. O que ele pode estar querendo olhando-me nessas roupas que malmente deixam meu rosto de fora?
- Oi. - ele fala pra mim. - Sou Philipe.
- Sou Caitlyn - falo e abaixo a cabeça envergonhada.
Ele puxa a irmã pra um canto mais afastado e lhe entrega uma caixa que ela reluta em aceitar, mas por fim coloca dentro da manga de seu hábito.
Eles se despedem e ela me puxa de volta pro quatro assustada e tranca a porta.
- O que foi? Por que ta tão assustada?
- Meu irmão é louco. Toma - ela fala e me entrega a caixa. É um celular. Algo relacionado a iPhone.
- Isso é proibido aqui. Manda ele levar de volta.
- Não posso. Ele quer que fique com isso pra poder falar contigo.
- O quê? Por que? Não. Não posso. Isso deve ter sido caro. Devolve.
- Caro? Caro pro meu irmão é... Nada.
- Não posso ficar com isso. Se alguém pegar isso aqui eu vou me dar muito mal porque vão ligar logo pro meu pai e eu vou ficar muito mais tempo aqui. Ele quer me ferrar?
- Esconda bem!
O que eu vou fazer com isso? Eu não posso deixar aqui. Esse homem é louco. Coloco entre minhas roupas no armário e o tranco. Vamos a igreja e fazemos todas as orações, pausamos para o almoço e depois fazemos os estudos.
Ao fim da tarde, voltamos pro convento e todas as freiras e noviças se reunem pra jantar e só então estamos liberadas das atividades diárias. Quando chegamos no quarto. tomo banho e vesto uma camisola que atinge meus calcanhares, pego a caixa, tranco a porta do quarto e sento na minha cama.
Pâmela me olha animada porque pareço cogitar a ideia de falar com seu irmão.
Ligo o celular e ele vibra assim que a tela acende. Tá pedindo uma senha. Como posso mexer com uma senha? Ele é no mínimo retardado.
- Tá pedindo senha - falo virando o celular pra Pâmela. 
- hum... Tenta 1234. - coloco os números que ela falou e o celular destrava.
Tem duas mensagens pendentes. Toco na notificação e elas se abrem.

Philipe:

Estou muito ansioso pra que você ligue logo

Por que a demora? Não quer falar comigo?

Caitlyn:

Você sabe que celulares são proibidos aqui? Não o conheço. Por que iria querer?

Philipe: 

Nossa. Passei o dia com vontade de falar contigo e é assim que me trata? Achei que fosse mais educada.

Caitlyn:

Me desculpe. É que eu não gostaria que isso atrapalhasse o limite de tempo que tenho aqui.

Philipe:

Não está aí por que quer?

Caitlyn:

É uma longa história. Não constumo contar minha vida a estranhos, mas acredito que sua irmã poderia lhe esclarecer.

Philipe:

Se não quer falar tudo bem.
Quero que saiba que pretendo te conhecer melhor.

Caitlyn:

O que quer comigo?

Philipe:

Não quero com você. Eu quero você!

Caitlyn:

Como assim você me quer? Não posso ser sua. Se não percebeu, eu moro em um convento e isso quer dizer que eu vou virar freira.

Philipe:

Você não fala como uma freira.

Caitlyn:

Mas estou prestes a me tornar uma, então se puder respeitar.

Philipe:

Só quero que saiba que você tem alguém que te quer aqui fora.

E essa é a última mensagem que trocamos. Desligo o celular e o guardo novamente, pensando em como ele é atrevido. Até pareceu ser um cara legal, até dizer que me quer. Eu não sou um objeto pra ele falar assim comigo.
Minha mãe sempre me disse que esse tipo de homem só quer sexo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Por isso que estou aqui. Pra limpar minha mente e voltar pra casa em paz.
Toda noite, antes de dormir, me pergunto o que será que meus pais e minha irmã tem feito durante todo esse tempo. Se eu realmente mereço estar aqui contra minha vontade.
Mas hoje, eu só consigo pensar no homem alto e loiro. Por que ele não sai dos meus pensamentos? O que ele viu em mim?
Ele não deveria ter feito isso. Eu não posso me permitir iludir por um homem que eu não conheço. Meu estilo de vida nem permite. Nosso contato é muito limitado. Seria uma relação impossível. Somos diferentes. Temos princípios diferentes.
Me irrito por não conseguir dormir e pego o celular novamente.

A freiraOnde histórias criam vida. Descubra agora